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Multinacionais miram executivos brasileiros

Avanço do trabalho remoto e desvalorização do real, que reduz custos de contratação, ampliaram oferta de cargos em empresas e bancos estrangeiros a profissionais brasileiros

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Foto do author Márcia De Chiara

A desvalorização do câmbio e o avanço do trabalho remoto ampliaram, nos últimos meses, as contratações de executivos brasileiros por empresas multinacionais, bancos estrangeiros de investimento e fundos de private equity. Essa conjugação de fatores deixou o passe desses profissionais mais barato em dólar e acessível a companhias estrangeiras.

Até agosto deste ano, cresceu 20% o número de admissões de profissionais brasileiros por empresas estrangeiras, de diversos segmentos, em relação a igual período de 2020, segundo levantamento da Page Group, consultoria internacional especializada em recursos humanos.

Giovana, da Signiun, projetaaumento de 70% na demana para o ano Foto: Alex Silva/Estadão

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Na Signium, outra consultoria internacional de recrutamento, esse movimento foi constatado com mais força no setor financeiro, que reúne bancos de investimento e fundos de private equity. Até outubro, as admissões de brasileiros feitas pela consultoria nesse segmento para cargos de alto escalão em instituições estrangeiras com operações locais aumentaram 50% em comparação com igual período de 2020. “Projetamos aumento de 70% para o ano”, diz Giovana Cervi, sócia da consultoria.

Trabalho remoto

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Segundo Paulo Dias, diretor da Page Executive, braço da consultoria voltado para o alto escalão, o avanço do trabalho remoto trazido pela pandemia impulsionou esse movimento. “O trabalho remoto foi o estopim, atrelado à desvalorização do câmbio.” Ele argumenta que se apenas o real estivesse desvalorizado e o trabalho continuasse presencial, seria necessário levar os profissionais para o exterior e talvez a redução de custos não fosse tão significativa para as empresas.

Para Paulo Dias, da Page Executive, avanço do trabalho remoto trazido pela pandemia impulsionou movimento Foto: Alex Silva/Estadão

Carlos Altona, sócio da consultoria Exec, líder nacional na contratação de altos executivos, concorda com Dias. “O trabalho remoto que veio com a pandemia potencializou essa possibilidade.” Ele observa que o aumento na admissão de brasileiros por empresas estrangeiras sempre foi “natural” toda vez que o câmbio se desvalorizava. Até porque o executivo brasileiro é bem visto no exterior por estar acostumado a gerenciar crises. Mas, desta vez, há o fator extra do home office.

Nas contas de Dias, a desvalorização do câmbio pode representar um acréscimo de até 50% na remuneração em reais dos executivos brasileiros em relação à média de ganhos para funções equivalentes em empresas nacionais.

“A empresa estrangeira economiza porque, se fosse contratar um executivo onde os salários estão inflacionados em dólar, gastaria muito mais para ter um profissional do mesmo nível”, diz Dias. Ele calcula uma economia de cerca de 40% em dólar para as empresas. “Essa margem de diferença entre um e outro é base da negociação dos contratos.”

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Além dos bancos de investimento e fundos, a Signium detectou esse movimento também em empresas globais de tecnologia, na área de bens de consumo mas ligada à transformação digital e no ramo farmacêutico. Os profissionais mais procurados são executivos de tecnologia, vendas, marketing e relações com investidores.

Efeito dominó

Essa procura adicional de empresas estrangeiras por altos executivos brasileiros provocou um efeito dominó nas consultorias de recursos humanos, que precisaram aumentar rapidamente as admissões de headhunters para conseguir atender a demanda. Nos últimos meses, tanto a Signium como a Page Executive ampliaram em 20% as contrações de profissionais para ir em busca de executivos no topo da carreira.

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