NOVA YORK - É quase Natal. Enquanto as ruas de Nova York ficam mais cheias, a icônica loja da Apple na Quinta Avenida surpreende com um público bem abaixo dos padrões da época. Alvos de disputas dos consumidores, as mesas que expõem iPhones, iPads e outros objetos de cobiça podem ser acessadas sem grandes dificuldades - para quem quiser apenas ver os produtos.
Marcar um horário para um atendimento também está bem mais fácil e é possível fazê-lo em cima da hora. Motivo? Faltam os recém-lançados iPhone 14 Pro e Pro Max. O consumidor pode até mesmo optar pela versão na cor roxa ou o de 128 gigabytes (GB), modelos menos requisitados, e ainda assim vai ter dificuldade de encontrá-los.
Nas demais lojas da Apple, seja em Nova York ou em Nova Jersey, a cena se repete. No site, a entrega está prevista só para o fim de dezembro, ou seja, depois do Natal. Questionado sobre o motivo da escassez dos iPhones “topo de linha”, um atendente da Apple da Quinta Avenida afirma não ter informações.
“Tivemos a paralisação na China, os protestos”, diz ele, que prefere não aparecer. Quanto ao baixo movimento na principal loja da Apple em Nova York, ele é direto: “Não temos o principal produto para vender”.
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O bloqueio de uma fábrica da Foxconn na China, a principal fornecedora da Apple, no início de novembro devido à política de “covid zero” do país causou uma escassez de iPhones 14 Pro e Pro Max na principal data para compras nos Estados Unidos. Semanas depois, trabalhadores protestaram, ao serem informados de que seus salários e bônus seriam adiados.
Há exatamente um mês, a gigante emitiu um comunicado ao mercado alertando que as restrições da covid-19 afetaram temporariamente as principais instalações de montagem do iPhone 14 Pro e iPhone 14 Pro Max localizadas em Zhengzhou, na China. Na ocasião, afirmou que as remessas de ambos os modelos ficariam abaixo das expectativas e que os consumidores teriam de lidar com um maior tempo de espera.
A escassez de iPhones 14 Pro e Pro Max não afeta só o comércio dos EUA. Analistas em Wall Street afirmam que o impacto é global e atinge mercados como a própria China, onde as vendas desses modelos podem encolher 50%, e também países da Europa.
O diretor de research da Wedbush Securities, Dan Ives, calcula que a Apple esteja perdendo em torno de US$ 1 bilhão por semana por conta da escassez de iPhones no trimestre mais importante para a companhia. “Há cerca de 10 a 15 milhões de unidades em falta por causa do que estamos vendo na China”, disse. “É uma escassez sem precedentes.”
Nos EUA, onde a situação é mais dramática, a escassez do iPhone 14 Pro e iPhone 14 Pro Max levou à uma corrida pelos modelos nas lojas da Apple. “Não sabemos quando receberemos novos estoques. Tem dias que recebemos, outros não”, diz o atendente da Apple, que sugere um monitoramento no site da empresa pela manhã. Após um dia inteiro de monitoramento no site, a busca por um modelo 14 Pro, de 256 GB, nos arredores de Nova York aponta a mesma resposta: “Não disponível hoje em 12 lojas mais próximas”.
Diante de tamanha dificuldade, o The Wall Street Journal listou dicas valiosas para os “applemaníacos” efetivarem a compra antes do Natal. A primeira: esqueça o pretinho básico. Corra atrás de um iPhone 14 Pro roxo. Uma ronda feita pela reportagem do Broadcast/Estadão na última semana identificou um único aparelho deste modelo e cor em uma loja em Nova York. Outras dicas incluem a caça por aparelhos em varejistas como BestBuy.com e Target ou nas operadoras de telefonia móvel AT&T, Verizon e T-Mobile.
Se a procura é por um iPhone desbloqueado, uma saída é partir por um recondicionado, os chamados “refurbished”. É uma espécie de “semi-novo” e um mercado bastante comum nos EUA quando se trata de eletrônicos ou eletrodomésticos.
Para os analistas do Barclays, Tim Long e George Wang, apesar da dificuldade em encontrar um iPhone 14 Pro ou Pro Max, a perda de participação da Apple para os modelos Android deve ser “limitada”. “Alguns clientes estão trocando para modelos básicos iPhone 13 ou 14 devido à escassez de modelos profissionais do iPhone 14″, dizem, em relatório a clientes.
Luz no fim do túnel
A Foxconn informou na segunda-feira, 5, que está fazendo esforços para normalizar as operações em sua principal fábrica de montagem de iPhone. De acordo com a empresa, além de realocar capacidade de produção para outras unidades, começou a “recrutar novos empregados” e prevê que o cenário para o quarto trimestre esteja próximo ao consenso do mercado.
Os esclarecimentos foram dados em paralelo ao anúncio de seus números mensais. Em novembro, a receita da Foxconn despencou mais de 29% ante outubro e 11% na comparação anual. “A utilização da planta provavelmente melhorará em dezembro, mas achamos que ainda deve estar abaixo de 50% de sua capacidade até o fim do ano”, escrevem os analistas do Barclays. Atualmente, esse porcentual é de cerca de 30%.
Diante das turbulências na China, a Apple acelerou seus planos de tirar o pé do país, onde centraliza a maior parte da produção do iPhone, segundo o The Wall Street Journal. A ideia da gigante da tecnologia é avançar para outros países da Ásia, bem como Índia e Vietnã. Ives, da Wedbush, calcula que de 40% a 50% da produção de iPhone poderia sair da Índia ou do Vietnã até 2025.
Em Wall Street, a escassez de iPhones segue pressionando as ações da Apple, com perdas de 2,80% no pregão de terça. Na visão de Ives, o quadro deve começar a melhorar a partir do início do ano que vem. “Por enquanto, é uma nuvem negra que estará sobre o setor de tecnologia até o início de 2023″, prevê.
Procurada, a Apple não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
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