O que as empresas de navegação estão fazendo para reduzir as emissões de poluentes

Medidas envolvem uso de biocombustíveis e soluções para melhorar a eficiência dos navios

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Foto do author Elisa Calmon
Por Elisa Calmon (Broadcast) e Luiz Araújo

São Paulo e Brasília - No caminho da descarbonização, o setor de navegação tem adotado uma série de medidas e inovações para reduzir as emissões. As iniciativas vão além da atualização tecnológica de motores e de novos combustíveis. Incluem estratégias alternativas, como auxílio de inteligência artificial, gestão de cargas e terminais mais modernos e eficientes.

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O Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave), que reúne 19 armadores de atuação global, destaca que há um esforço conjunto que aponta para o compromisso dos armadores com o meio ambiente. Para o Centronave, as iniciativas deverão ajudar a atender à meta estipulada pela Organização Marítima Internacional (IMO) de reduzir emissões de CO2 em 30% até 2030.

“Já existem navios saindo dos estaleiros movidos a metanol, hidrogênio, amônia e gás [GLP]. Um de nossos associados, por exemplo, está construindo 12 navios [o primeiro a ser entregue em 2025] exclusivamente movido a metanol.” afirma Claudio Loureiro de Souza, diretor executivo do Centronave.

Os maiores armadores do mundo, como a One, Hapag-Lloyd, MSC e Maersk, investem em soluções como a modernização da frota atual, o uso de sistemas de navegação inteligente, armazéns de logística de baixa emissão, calculadoras de carbono, utilização de “robô aspirador subaquático”, novos propulsores mais econômicos e tecnologias em combustíveis alternativos menos poluentes.

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Inovações

Entre as inovações observadas, a MSC passou a utilizar o “robô aspirador subaquático” para limpar os cascos com frequência, o que ajuda a diminuir em até 20% as emissões de CO² de seus navios porta-contêineres. Ao manter os cascos das embarcações limpos, os motores operam em menor carga e economizam combustível.

Com a entrada em operação de novas embarcações, desde 2019, como o M/V MSC Gülsün, a empresa também vem estabelecendo novas referências para o transporte sustentável de contêineres, com baixa pegada de emissão de carbono para mover uma tonelada de carga por milha náutica.

Com cerca de 400 metros de comprimento e mais de 60 metros de largura, a embarcação tem capacidade de 23.756 TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés). Isso significa emitir menos CO² por contêiner transportado, ajudando as empresas que movimentam mercadorias a reduzir a pegada de carbono de suas cadeias de suprimentos. Nesse caso, a engenharia projetou um formato de navio para melhorar a eficiência energética, reduzindo a resistência ao vento e resultando em menor consumo de combustível.

MSC tem buscado opções para melhorar eficiência dos navios Foto: Divulgação / CGU

Na companhia japonesa One, a aposta são os biocombustíveis. Os testes vêm sendo realizados em parceria com a Mitsui O.S.K. Lines, e com a empresa pioneira e líder mundial em biocombustíveis sustentáveis, a GoodFuels. Os biocombustíveis sustentáveis não emitem óxido de enxofre e proporcionam uma redução de 80% a 90% das emissões de CO2 em relação aos combustíveis fósseis. Além disso, não requerem modificações nos motores ou infraestrutura dos navios atuais.

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A empresa também recebeu em junho o primeiro One Innovation, um navio com capacidade para até 24.136 TEUs. A embarcação ajudará a reduzir as emissões de carbono por meio de um projeto de casco de última geração que visa maximizar a entrada de carga e minimizar o consumo de combustível.

O navio é equipado com um para-brisa de proa, um dispositivo de economia de energia e um sistema de limpeza de gases de escape para atender às normas de emissão. Ele também é o primeiro dos seis novos navios Megamax que se juntarão à frota principal da One. “Esse navio recém-construído nos ajudará a pavimentar o caminho para o desenvolvimento sustentável da logística global”, disse Yu Kurimoto, diretor administrativo da One, na época do recebimento da embarcação.

A dinamarquesa Maersk também tem testado biocombustíveis em sua frota. A armadora está criando uma estrutura avançada para o uso de metanol verde (produzido com madeira ou resíduos agrícolas, como a cana-de-açúcar) como combustível naval. Para aumentar a capacidade de produção mundial de metanol verde, a Maersk recentemente firmou parcerias estratégicas com seis empresas líderes, com a intenção de fornecer pelo menos 730 mil toneladas/ano até o final de 2025.

Com isso, alcançará a necessidade de metanol para o abastecimento dos primeiros 12 navios de contêineres verdes já encomendados. A empresa também anunciou a construção na Dinamarca do seu primeiro “armazém de logística verde” com baixa emissão de gases de efeito estufa.

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A alemã Hapag-Lloyd também lançou o produto Ship Green, uma solução para transportes baseada em biocombustíveis para reduzir emissões de CO2. Os clientes podem escolher entre três opções diferentes, que representam diferentes níveis de prevenção das emissões de dióxido de carbono equivalente: 100%, 50% ou 25%.

Ao oferecer o Ship Green, a Hapag-Lloyd continua no caminho para alcançar operações de frota neutras para o clima até 2045. A multinacional vem testando biocombustíveis avançados desde 2020 e oferece uma solução de transporte com redução de carbono utilizando misturas de biocombustíveis em vez do tradicional óleo combustível marinho fóssil (MFO).

Indústria tem hoje mais de 104 mil navios em operação Foto: Fabian Bimmer/Reuters

O consultor da Porto Assessoria Nelson Carlini, ex-presidente da CMA CGM, diz que quase todas as empresas de navegação estão nesse movimento de descarbonização. Mas ele destaca que esse não é um processo rápido, sobretudo se levar em consideração o tamanho da frota global, de 104 mil navios comerciais em operação.

“As empresas estão em busca de novos combustíveis sustentáveis para substituir os tradicionais, mas também estão procurando adotar medidas que ajudem a melhorar a performance dos navios sem emitir muito”, diz ele. Há algum tempo, completa o consultor, as empresas fazem o controle de esgoto das embarcações para não poluir o mar. “Os navios são bem controlados e vigiados. Os programas têm sido constantes.”

Hoje transporte oceânico contribui com cerca de 3% das emissões de gases de efeito estufa da humanidade. Embora esse número possa não parecer muito, se o setor de transporte marítimo fosse um país, seria a Alemanha, e estaria entre os 10 principais poluidores. /COLABOROU RENÉE PEREIRA

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