Os bancos credores da Americanas concordaram em rolar a dívida da companhia, para evitar que ela quebre e gere efeito cascata tanto no sistema financeiro quanto no varejo. Mas condicionam que a empresa faça uma capitalização rapidamente, que deve se dar por meio da emissão de ações, em uma oferta de alguns bilhões de reais. O martelo sobre a oferta pode ser batido nesta sexta-feira, 13.
Na visão do mercado, a exposição das instituições à companhia no futuro pode cair, com os bancos endurecendo condições para financiar a varejista à frente, diante da crise de confiança gerada pela descoberta de inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões.
Fontes consultadas pelo Estadão/Broadcast afirmaram que as instituições financeiras concordaram em rolar a dívida da Americanas. Os bancos foram consultados ao longo dos últimos dias sobre essa possibilidade - a empresa comunicou o problema ao mercado na tarde de quarta-feira. “Demos um respiro a eles”, comentou o diretor de um banco credor. “Passamos uma sinalização positiva. A contrapartida é que a empresa vai ter que fazer uma capitalização rápida de alguns bilhões”, comentou um banqueiro, argumentando que o trio de sócios da Americanas, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, vai ter que participar para a oferta de ações sair.
Por seu porte, a Americanas é cliente de praticamente todos os grandes bancos, segundo fontes do setor. Por isso, não seria interessante deixá-la beijar a lona. Entretanto, executivos consideram que as condições de financiamento ficarão mais duras adiante, com o mercado cobrando mais para assumir um risco também maior. Isso se refletiu na quinta no mercado secundário de títulos de dívida da companhia, com um salto nas taxas cobradas e um tombo no valor de face.
No balanço de setembro do ano passado, a Americanas informou dívida bruta de R$ 19,3 bilhões, sendo que R$ 17,1 bilhões eram de longo prazo, ou seja, com vencimento em prazos acima de um ano. Desse total, R$ 15,6 bilhões estavam em empréstimos e financiamentos, segundo a companhia. O restante estava em debêntures.
Já o ex-presidente da varejista, Sergio Rial, disse em um vídeo de 11 minutos disponível no site da Americanas que a dívida bruta é de R$ 30 bilhões a R$ 35 bilhões, após crescer em 2022, sobretudo no terceiro e quarto trimestres. Ou seja, aparentemente bem maior que os dados do balanço mostram.
Linhas de crédito
Um dos grandes riscos neste momento seria a interrupção da linha dos bancos para o financiamento dos fornecedores, sobretudo em momento que as vendas estão crescendo, disse Rial no vídeo - nas primeiras duas semanas do ano, as vendas crescem acima de 17% no conceito mesmas lojas. “Espero que os bancos tenham postura de equilíbrio e permitam obviamente a gestão atual de encontrar um caminho que funcione para todos.”
Analistas do setor financeiro acreditam que o impacto de um possível prejuízo com a Americanas seria pequeno para cada instituição. Sem revelar nomes, os bancos informam a exposição que possuem a seus maiores devedores, e na visão de profissionais, os dados mostram que o abalo seria contido.
O analista Marcelo Telles, do Credit Suisse, consultou as exposições das instituições a seus maiores devedores. Na média do setor, o crédito a cada grupo econômico representa cerca de R$ 1,9 bilhão, calculou, ou 1,6% do capital do setor. O banco considerou os devedores que ficam entre a 11ª e a 20ª posição nos balanços das instituições, e estima que a Americanas tenha a 26ª maior dívida entre as empresas brasileiras.
Na quinta, o Bradesco BBI calculou que os bancos mais expostos a varejistas são o Santander Brasil e o BTG Pactual, com cerca de 7% da carteira total de crédito, seguidos por Itaú e ABC Brasil, com 3%, e Banrisul e Banco do Brasil, com 2% cada.
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