A gigante global de mineração Anglo American iniciou o processo formal para vender seu negócio de níquel no Brasil, como parte de uma estratégia para tornar a companhia mais enxuta e focada em apenas alguns metais principais. A transação será liderada pela subsidiária brasileira, com a supervisão da matriz, em Londres, e a expectativa é concluir o negócio em até um ano e meio.
O plano da centenária multinacional foi acelerado após a rejeição da proposta de aquisição feita pela anglo-australiana BHP, a maior mineradora global, por mais de 40 bilhões de libras (cerca de R$ 275 bilhões), em maio.
Até então, a Anglo enfrentava a desconfiança do mercado e a forte queda das ações, para o nível mais baixo desde 2020. A oferta da BHP deu novo fôlego ao papel. A alta acumulada no ano agora é de cerca de 30% e a companhia é avaliada em cerca de 30 bilhões de libras (R$ 200 bilhões) na Bolsa de Londres, ainda abaixo de concorrentes como Vale (R$ 280 bilhões) e a própria BHP (quase R$ 800 bilhões).
Para a venda dos ativos brasileiros de níquel, um dos principais desafios é a cotação deprimida do metal. Com a superoferta da Indonésia, hoje maior produtora global, o preço teve em 2023 a segunda maior queda desde 2008 e ainda não se recuperou.
A Anglo já havia tentado vender as minas e unidades metalurgia de níquel, localizadas em Goiás, em 2015. A empresa só produz ligas de níquel (ferro-níquel) no Brasil. Chegou a receber ofertas, mas acabou desistindo do negócio. Nesta nova tentativa, a empresa diz não ter pressa e espera um comprador qualificado.
“Não vamos vender para qualquer um. Tem que ter certeza de que será uma empresa que tenha compromisso com a operação, com os funcionários e com as comunidades locais”, afirmou a presidente da empresa no Brasil, Ana Sanches, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast.
A Vale surge como uma potencial candidata por produzir o metal no Brasil, Canadá e Indonésia. Hoje, as operações de níquel da companhia compõem o portfólio da subsidiária de metais básicos (Vale Base Metals), separada da Vale no ano passado e avaliada em US$ 26 bilhões após a venda de uma fatia, em 2023.
A VBM tem hoje na presidência do conselho Mark Cutifani, ex-presidente da Anglo American. As duas empresas também se tornaram sócias, neste ano, na operação de minério de ferro Minas-Rio, em Minas Gerais.
As primeiras reuniões para a venda dos ativos de níquel estão sendo iniciadas nesta semana. Numa próxima etapa devem ser definidos os assessores financeiros para a transação.
Perfil dos dois ativos
O negócio da Anglo American no segmento está concentrado em dois municípios goianos, principalmente em Barro Alto, onde devem ser produzidas 30 mil toneladas do metal na forma de ferro-níquel neste ano. A unidade mais antiga, operada pela Codemin, fica em Niquelândia. As duas operações contam hoje com cerca de 4.000 funcionários e uma produção anual prevista de 40 mil toneladas. O produto da operação é voltado para a indústria global de aço inoxidável. Uma parte é vendida no Brasil para a siderúrgica Aperam.
Também em Niquelândia a mina de níquel da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), paralisada há alguns anos, estava em processo avançado de venda para a europeia Wave Nikel, por R$ 20 milhões, mas o negócio foi cancelado neste mês, um sinal das dificuldades do segmento, em que uma série de minas estão sob risco.
A operação de níquel representa 8% dos resultados da Anglo American no Brasil. E, ao lado de outros ativos, vinha impactando o balanço global da companhia por causa de baixas contábeis.
No processo de transformação de seus negócios, a Anglo também deve se desfazer das operações de diamantes (De Beers), de metais da platina (Amplats) e de carvão. O foco principal serão as minas de cobre (Chile e Peru), metal visto como um dos mais essenciais e demandas para a transição energética, de minério de ferro (Brasil e África do Sul) e de fertilizantes (norte da Inglaterra).
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