Após anos tentando ampliar sua presença no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por diferentes vias, a Azul finalmente começa a ter uma operação mais significativa no terminal mais disputado do País. A empresa aumentou o número de voos diários ofertados no aeroporto de 41 para 84, um crescimento de 105%.
Congonhas concentra um grande volume de passageiros corporativos, que compram passagens com menor antecedência e pagam tarifas mais elevadas. Assim, ampliar a operação no terminal significa maiores margens às companhias aéreas. A localização do aeroporto, próxima ao centro corporativo de São Paulo, também oferece uma maior comodidade ao consumidor, o que permite que as companhias cobrem valores mais altos para passagens que têm o terminal como origem ou destino.
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A maior presença da Azul em Congonhas ocorre após a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) redistribuir slots (horários de pouso e decolagem) que pertenceram à Avianca Brasil e também após a capacidade do aeroporto ter sido ampliada. Com a mudança, a Azul passa a deter 14% dos slots de Congonhas (antes, eram 7%). Latam e Gol ficam, cada uma, com 41%.
Entre os destinos que passaram, no domingo, 26, a ser atendidos pela Azul com maior frequência a partir de Congonhas estão Belo Horizonte, Recife e Rio de Janeiro. A empresa também retomou voos para Curitiba e Porto Alegre, além de ter iniciado a operação em Brasília.
O resultado financeiro da ampliação da operação no terminal deve aparecer no balanço do segundo trimestre de 2023 da Azul, disse o presidente da empresa, John Rodgerson. “Quando você pensa na geração de caixa, já começamos a vender (voos das novas rotas de Congonhas) no ano passado. Mas o pessoal de Congonhas compra em cima da hora, então o resultado mesmo vai ser mais no segundo trimestre.”
Rodgerson destacou que o terminal é o mais rentável do Brasil e que a ampliação da operação no local é um dos fatores que fará a empresa a ter um Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) superior a R$ 5 bilhões neste ano. “Congonhas ajuda as outras rotas. Muita gente voa conosco para Congonhas primeiro, gosta e depois vai para Lisboa conosco. Isso é muito bom também para o nosso programa de fidelidade.”
Para o consultor André Castellini, sócio da Bain & Company e especialista no setor aéreo, com mais voos em Congonhas, a Azul ganha competitividade e sana uma carência que tinha. “Não acho que haverá uma mudança substancial para a companhia, porque o momento do setor é de ganhar rentabilidade, mas a empresa tinha uma desvantagem por não estar no aeroporto, que é importante como destino e como ponto de conexão.”
‘Governo não está feliz com preços’
Em cerimônia que marcou a ampliação da operação em Congonhas, o presidente da Azul afirmou ainda que o governo Lula está insatisfeito com o preço das passagens aéreas e criticou a política de preços de combustível do País. “O novo governo não está feliz com as tarifas. (Para reduzi-las), tem de aumentar a capacidade ou atacar os custos. O combustível aqui é mais caro que nos outros lugares do mundo.”
Apesar de não afirmar que o preço da passagem aérea poderá diminuir , Rodgerson lembrou que o combustível está em queda globalmente e que a oferta está aumentando. Esses dois fatores poderiam ajudar a reduzir as tarifas. “Como reduz o preço? Colocando mais capacidade ou tendo menos demanda. A demanda no País, no momento, é muito forte. Então, precisa colocar mais capacidade. O governo sempre cobra isso da gente”, acrescentou.
Empresa negocia financiamento com BNDES
De acordo com Rodgerson, a Azul está negociando linhas de financiamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Estamos em conversa (com o banco de desenvolvimento) junto à Embraer e à GE. Olhamos várias linhas que possam ser acessíveis a nós. Não temos detalhes, só conversas”, disse.
O executivo, porém, negou que tenha falado com o BNDES sobre a possibilidade de usar slots como garantia aos financiamentos. Rodgerson afirmou que o banco tem “olhado com mais carinho” para o setor e que o novo governo Lula também “tem sido muito disposto a conversar” sobre os custos das empresas aéreas.
Sobre o projeto de venda de passagens a R$ 200, Rodgerson afirmou que é uma proposta “muito interessante”, mas que ainda não conhece os detalhes.
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