Após sobreviver ao pior momento da crise da pandemia e ser a primeira companhia aérea a voltar ao patamar de oferta anterior à covid, a companhia aérea Azul busca renegociar a dívida que acumulou nos últimos anos. A empresa tem de pagar, em 2023, R$ 3,8 bilhões aos arrendadores de aviões e R$ 700 milhões aos bancos, segundo fontes do mercado.
Do total devido, R$ 3,2 bilhões são referentes ao aluguel anual das aeronaves e R$ 600 milhões ao valor postergado durante a pandemia. Segundo fontes próximas às conversas, a intenção é fechar um acordo até a próxima semana.
Em conversas com investidores, a companhia já havia sinalizado a intenção de levantar capital no mercado financeiro para aliviar sua situação. A dificuldade para acessar o mercado, porém, levou a Azul a renegociar com arrendadores e bancos.
O acordo que vem sendo negociado envolve não apenas o pagamento do aluguel dos aviões deste ano, mas também o dos próximos. Há uma tentativa para reduzir o valor anual.
Um analista do setor financeiro, que pediu para não ser identificado, disse esperar que o pagamento seja renegociado, mas que as condições de mercado não estão favoráveis para isso. “Na pandemia, os donos das aeronaves estavam topando tudo. Esse não é mais o cenário atual”, afirmou.
O presidente da Azul, John Rodgerson, diz não ver dificuldade na renegociação. “Estou confiante com nossos parceiros. Eles receberão tudo, mas talvez tenham de alongar o prazo para nós. Não haveria motivo para eles retirarem aeronave de alguém que está pagando mensalmente e perder o que está sendo pago da época da covid.”
A Seabury Capital, empresa americana que trabalha com a aérea há alguns anos, está à frente das renegociações. Nesta sexta-feira, 10, a agência classificadora de risco Fitch informou que rebaixou os IDRs (Issuer Default Ratings - Notas de Inadimplência do Emissor) de longo prazo em moedas estrangeira e local da Azul de ‘CCC+’ para ‘CCC-’, e o a nota nacional de longo prazo para ‘CCC(bra)’, de ‘B(bra)’.
A Fitch afirmou que os rebaixamentos refletem os altos riscos de refinanciamento da Azul, as pressões no fluxo de caixa operacional da companhia, a deterioração de sua liquidez, de acordo com a metodologia da Fitch, e as restrições mais acentuadas no mercado de crédito local, em função da inadimplência da Americanas.
O alto volume da dívida da Azul com os arrendadores de aviões decorre de uma negociação feita no início da pandemia. No pior momento da crise, a aérea fechou um acordo para adiar o pagamento do aluguel das aeronaves. Enquanto isso, a Gol negociou para pagar os arrendadores conforme os jatos fossem usados, por hora de operação.
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Segundo o analista de transportes da XP, Pedro Bruno, o modelo do acordo da Azul, apesar de ter adiado o pagamento da dívida, permitiu que ela recuperasse sua capacidade antes das concorrentes. Bruno afirma que o cenário não é fácil para a empresa. Isso porque o querosene de aviação ainda está em patamar elevado, o câmbio continua em alta e o crescimento da demanda depende de uma atividade mais pujante. Tudo isso reduz a geração de caixa da empresa.
Para um analista do mercado financeiro, a aposta da Azul de retomar a oferta em grande volume esbarrou na alta do preço do combustível decorrente da guerra na Ucrânia e na desvalorização do real. “Se a Azul tivesse visto que a moeda se depreciaria, teria sido mais conservadora.”
Em conversa recente com o Estadão, Rodgerson reconheceu que, se fosse possível prever a guerra, não teria ampliado tanto a oferta em 2022. Ele destacou, entretanto, que os voos que não estavam se pagando já foram retirados de operação.
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