Banco Master: crescimento acelerado com CDBs agressivos e ‘operação complexa’, segundo analistas

Em 2024, por exigência do BC, o banco foi obrigado a mexer em pilares de seu crescimento exponencial dos últimos cinco anos: precatórios na carteira de crédito e CDBs com taxas altas

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Foto do author Gabriel Baldocchi
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A aquisição de uma fatia relevante do Banco Master pelo BRB, que ainda deverá ser formalizada e aprovada pelas autoridades reguladoras, acontece em uma sequência de ajustes pelos quais vinha passando a instituição financeira de Daniel Vorcaro, um empreendedor mineiro.

Em 2024, com a exigência de normas editadas pelo Banco Central, o Master foi obrigado a mexer em pilares de seu crescimento exponencial dos últimos cinco anos, para reduzir o peso dos precatórios (títulos de disputas judiciais contra governos) no crescimento da carteira de crédito e a predominância da captação via Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) com taxas agressivas, distribuídos a pessoas físicas com o argumento da cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).

Daniel Vorcaro acertou a venda de uma fatia relevante do Banco Master para o estatal BRB, do Distrito Federal Foto: Divulgação/Banco Master

No final de 2023, o BC havia penalizado drasticamente a presença dos precatórios na carteira de crédito e desestimulado a utilização majoritária de CDBs do lado do financiamento. Esta última norma emergiu, conforme apurou o Estadão/Broadcast, da percepção das autoridades monetárias de utilização excessiva do instrumento por “algumas poucas” instituições financeiras, permitindo que crescessem rápido demais apoiadas no balanço do FGC.

A proteção do fundo, em até R$ 250 mil a investidores pessoas físicas, é usada como argumento de vendas nas plataformas que distribuem os títulos. Com esse respaldo e a oferta de uma rentabilidade agressiva, o título do Master se tornou um dos mais atrativos na disputa pelo bolso dos investidores pessoas físicas. O Master chegou a ter 90% de suas captações feitas por meio dos CDBs.

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Master recorreu a fundos de pensão

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Para reduzir sua dependência dos CDBs e com acesso limitado a investidores institucionais e gestoras, recorreu a fundos de pensão de Estados e municípios (RPPS), entre os quais já levantou mais de R$ 800 milhões. Ao mesmo tempo, ficou dependente dos aportes de acionistas, que no primeiro semestre do ano passado já haviam injetado R$ 1,6 bilhão para fortalecer a estrutura de capital.

Em conversa com o Estadão/Broadcast no final do ano passado, Vorcaro havia afirmado que pretendia trazer capital estrangeiro, eventualmente para participação acionária, e acessar o mercado de dívida em operação que poderia alcançar US$ 1 bilhão. Desde que o antigo Máxima foi transformado em Master, em 2021, o patrimônio do banco cresceu quase dez vezes, chamando a atenção do mercado financeiro.

Outra vertente de seus negócios observada com atenção pelo mercado envolvia a carteira de empréstimos corporativos feitos a empresas classificadas como em “situações especiais”, ou seja, dificuldades financeiras. Esses empréstimos são feitos diretamente ou via fundos ligados a investidores como Nelson Tanure. Entre esses investimentos estão a Oncoclínicas, Restoque, Ambipar, Veste (dona da Le Lis Blanc), Metalfrio e a BeFly.

Vários desses fundos eram incorporados no balanço do banco e carregavam o risco das operações para a instituição financeira, um tema que foi apontado como sensível por analistas que avaliavam os números do grupo.

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Na entrevista ao Estadão/Broadcast, Vorcaro havia afirmado que o banco estava fazendo ajustes para deixar mais claras as operações dentro dos dados do balanço. A instituição também vinha tentando avançar numa melhora de governança e contratou a consultoria McKinsey para ajudar no processo, que incluiu a criação de uma holding, a separação de alguns negócios e a ajuda de um conselho consultivo formado por ex-dirigentes do Banco Central.

Para as agências de rating, o negócio do Banco Master é visto como complexo. “O perfil de negócios e risco do banco, bem como sua estrutura organizacional, é mais complexo que o de seus pares”, disse o vice-presidente e analista sênior da Moody’s, Lucas Viegas, em outubro passado ao Estadão/Broadcast. Nesta semana, a Moody’s deixou de classificar o risco do Master, a pedido do banco.