Bancos brasileiros terão de medir impacto das mudanças climáticas em seus negócios

Em outubro, o Banco Central deve apresentar referências para as instituições seguirem ao fazer os seus relatórios

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Foto do author Thaís Barcellos
Foto do author Célia Froufe
Atualização:

BRASÍLIA - Os bancos brasileiros vão entrar em dezembro numa nova era sobre como medir os impactos das mudanças climáticas para seus negócios. O Banco Central (BC) começará a cobrar a inclusão de riscos climáticos no gerenciamento de risco e capital, além de uma política de responsabilidade social, ambiental e climática e de um relatório anual com informações padronizadas sobre o tema.

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Na América Latina, o Brasil está na vanguarda desse processo, que começou a ser tateado pelas principais economias do globo. Em outubro, o BC deve apresentar no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) algumas referências para as instituições seguirem na elaboração de suas estimativas.

No documento, devem vir, por exemplo, detalhes sobre como as instituições terão de calcular reflexos de uma seca extrema sobre seus serviços e ativos, além de um estudo sobre riscos de transição. Como se trata de um aprendizado para todos, o BC promete não ser tão exigente no início desses trabalhos. Já avisou que não necessariamente os bancos devem seguir esse modelo, embora vá monitorar os preparativos para cumprir as novas normas em sua agenda de supervisão para o semestre.

Banco Central vai passar a cobrar nova medida em relatório Foto: Dida Sampaio/Estadão

“Em geral, visões agregadas apresentam simplificações, pois é necessário adequar o estudo à disponibilidade de dados e informações de diferentes tipos de instituição. Se o risco for relevante para uma dada instituição, essa deve desenvolver uma técnica mais aprimorada para avaliar o risco”, ressaltou o órgão.

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Antecipando-se às regras

Sem um padrão definido pelo BC sobre como contabilizar em seus balanços os riscos climáticos, as instituições financeiras no Brasil buscam apoio de especialistas para seguir as novas regras do regulador, que devem ser conhecidas em dois meses. Consultorias têm sido procuradas para tirar dúvidas sobre o tema, e a tendência é de que todos “entreguem a prova”, mas algumas casas devem se aprofundar mais no tema e ser mais agressivas do que outras.

“As maiores acabam ficando na vanguarda, pois índices e investidores externos geram pressão. Não está todo mundo na mesma página. Mas a regulação trouxe a urgência do tema, não é mais uma questão voluntária”, disse a coordenadora para América Latina e Caribe da iniciativa para o setor financeiro do programa das Nações Unidas (ONU), Maria Eugenia Sosa Taborda.

O BC destaca que não há metodologia ou técnica de elaboração prescrita para os testes de estresse, a partir das estabelecidas pela regulação: análise de sensibilidade; análise de cenários; e teste de estresse reverso. “A escolha de qual metodologia e da complexidade da técnica aplicada deve ser adequada ao risco incorrido em cada instituição”, argumenta o BC, reforçando que vem se posicionado sobre o tema no REF.

No mercado, o diretor de Sustentabilidade da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Amaury Oliva, afirmou que, apesar de o BC não ter definido metodologia ou cenários específicos para os testes de estresse, criou requisitos importantes, como a análise temporal, geográfica, setorial e o alinhamento a aspectos já considerados no gerenciamento de risco. “Temos um diálogo respeitoso e construtivo com o BC, que tem expectativa de agenda evolutiva. Não é para ter punição, é para avançar como setor bancário.”

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Segundo Oliva, a Febraban já desenvolveu, com a Coppe/UFRJ e a empresa WayCarbon, cenários climáticos “tropicalizados” para setores-chave da economia brasileira, que podem ser subsídios para análises e testes de estresse dos bancos. Segundo relatório de 2021, com base em dados do BC e em um estudo desenvolvido pela Febraban, a exposição da carteira de crédito para empresas ao risco ambiental era de 43,60% no fim de 2020. Já a exposição moderada ou alta às mudanças climáticas era de 53,29%.

Além disso, a federação criou um grupo específico para implementar as novas regras do BC, com encontros mensais para tirar dúvidas e orientar sobre bases de dados e procedimentos. Conforme Oliva, os associados, que já seguem uma autorregulação sobre o tema desde 2014, estão trabalhando “sem parar” para estar de acordo com as novas regras em dezembro. “Colocamos a régua lá em cima, queremos que os bancos alinhem seus portfólios ao Acordo de Paris, ajudando os clientes nessa transição”, diz Sosa Taborda.

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