No rastro das fintechs, uma nova categoria de empresas tecnológicas está despontando da categoria da agtechs. São as agfintechs. Elas consistem em startups voltadas para conceder serviços financeiros. Assim como as fintechs servem às necessidades de pessoas e empresas, as agfintechs atuam para atender ao produtor rural, e podem trazer diversas soluções financeiras.
Um dos pontos essenciais para garantir uma safra é conseguir financiamento de crédito rural que vá garantir a compra de insumos químicos, sementes e maquinário, para que sejam pagos depois que as vendas do resultado do plantio aconteceu.
Apesar do grau de evolução atingida por fintechs brasileiras como Stone e Nubank e do poder do agronegócio dentro do PIB nacional, as agfintechs ainda são poucas. Elas correspondem a 30 empresas, o equivalente a 5% do total de agtechs brasileiras, segundo dados da empresa de pesquisas Distrito. Mas já costumam movimentar mais investimentos do que a média das agtechs de outras atividades.
A Bart Digital, criada no polo de Londrina (PR), em 2016, é uma delas. A partir de uma ideia surgida num evento de tecnologia da Sociedade Rural do Paraná, ela nasceu, segundo a fundadora Mariana Bonora, para tornar digital todo o processo de financiamento, fazendo com que contratos e garantias sejam realizados integralmente pela internet, por meio de sua plataforma.
“Eu era uma advogada da indústria de agroquímicos e conhecia os problemas específicos do segmento e a burocracia do financiamento agrícola nos contratos”, diz Bonora, CEO da empresa e também diretora-executiva da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs).
Desde então, a empresa já atendeu a 200 clientes, como cooperativas, revendas, tradings, agroindústrias, cerealistas, confinamentos, fintechs e usinas. Em 2020, cerca de R$ 3 bilhões em contratos passaram por sua plataforma. No ano passado, foram R$ 8,5 bilhões, e para este ano a expectativa é a de atingir R$ 15 bilhões.
Financiamento
Para desenvolver sua oferta, a Bart já captou financiamento em rodadas de investimentos em 2017 e 2021, que atraíram nomes conhecidos do segmento de venture capital, incluindo a SP Ventures e a Bossanova Investimentos, que mudou de nome em agosto para Bossa Invest.
“Existe muito dinheiro disponível e interesse de financiar a tecnologia no agro. O desafio é que o investidor não entende os riscos do setor. Ele quer financiar o produtor rural de milho médio e grande, o qual já tem acesso a financiamento. Mas precisaria sustentar as empresas menores, para que possam captar recursos”, diz Bonora.
Por causa disso, a ABFintechs está propondo a facilitação e a popularização de crowdfunding de agtechs para pessoas físicas. A proposta já foi apresentada ao Ministério da Agricultura e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
“Nos grandes centros urbanos, ninguém está percebendo o quanto o Brasil está usando tecnologia. O País está virando o maior produtor mundial de milho por causa disso”, diz o gestor Francisco Jardim, cofundador da SP Ventures, que aponta grandes evoluções tecnológicas em áreas como marketplaces e nas agfintechs.
“O agro talvez seja a última grande cadeia da economia a ser ‘desintermediada’ pelo digital, e os marketplaces estão fazendo. E a cadeia agrícola é muito intensiva em financiamento, além de correr muitos riscos biológicos, de clima, de preços e cambial, para os tradicionais emprestadores. Por isso, empresas techs que consigam medir melhor o risco de empréstimos são necessárias.”
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