Bolsa brasileira ganha munição na disputa com México e China pelos investidores estrangeiros

Metade dos recursos externos em 2023 entrou no País nos últimos cinco pregões, após mudança na perspectiva de rating pela S&P

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Foto do author Aline Bronzati

Nova York - A mudança na perspectiva do rating BB- do Brasil pela S&P Global Ratings, de estável para positiva, pode dar munição ao Brasil na disputa por capital estrangeiro, que estava receoso com a bolsa brasileira neste ano. Por ora, o México segue como o destino favorito dos investidores na América Latina em 2023, enquanto a China, ainda que seu desempenho econômico tenha desapontado muitos espectadores, tem atraído o dinheiro novo que entra para mercados emergentes no mundo.

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Às vésperas do anúncio da S&P, o Brasil começou a ver melhora no fluxo de investimento estrangeiro, com o volume diário de entrada de capital externo na B3 batendo recordes no ano.

Na quarta-feira, dia 14, quando a S&P surpreendeu investidores ao anunciar a mudança na perspectiva do rating do Brasil, a B3 registrou ingresso estrangeiros de R$ 767,681 milhões. A cifra, porém, é inferior à registrada nos dias anteriores, que variou entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão.

No mês de junho, até o momento, houve entrada de R$ 6,913 bilhões de capital externo. Já no ano, o investimento estrangeiro na B3 está positivo em R$ 13,791 bilhões. Cerca de metade desta cifra entrou nos últimos cinco pregões.

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“Mesmo antes da decisão da S&P, a coisa já estava melhorando um pouquinho em termos de fluxo estrangeiro”, diz o diretor de Pesquisa Macroeconômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, em entrevista ao Estadão/Broadcast.

B3 disputa com as bolsas do México e China para ter investimento estrangeiro Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Dados do Bank of America (BofA) mostram que as entradas em fundos de ações globais para mercados emergentes são positivas em US$ 64 bilhões neste ano. No entanto, desde a segunda semana de abril, quase todo o fluxo novo tem ido para um só destino: a China.

Já o Brasil acumula saídas de US$ 767 milhões no ano em fundos de ações para mercados emergentes, superando o total na América Latina, conforme o gigante de Wall Street. Enquanto isso, o México soma entradas de US$ 280 milhões no ano.

De volta

Nesta semana, porém, os gringos voltaram a dar as caras no mercado acionário brasileiro. Os investidores estrangeiros aportaram R$ 5 bilhões em ações nesta semana, mostram dados do Bank of America, em relatório publicado nesta sexta-feira.

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De acordo com o chefe de Economia para Brasil e de Estratégia para América Latina do banco americano, David Beker, o elevado grau de incertezas devido ao início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ainda com o novo arcabouço fiscal, que vai substituir o teto de gastos, ajudava a afastar o investidor estrangeiro.

“Tinham muitas incerteza com o arcabouço fiscal e à medida que essas incertezas vão sendo reduzidas e o mercado elimina aqueles riscos de cauda mais negativas, o interesse vai aumentando”, diz ele, em entrevista ao Estadão/Broadcast. “Nossa expectativa é um aumento do interesse”, emenda.

Para Ramos, do Goldman Sachs, a ação da S&P ajuda a aumentar o apetite do investidor estrangeiro, mas mais do que a história doméstica, o que pode deixar o Brasil mais favorável ao olhar externo é o contexto negativo em outros emergentes: Rússia em guerra, crises na Turquia e na África do Sul e a economia da China desapontando os investidores no pós-covid. “Não é necessariamente que a história local seja extraordinária, não é. Tem a ver que todas as outras histórias são horríveis”, diz o economista.

Beker, do Bank of America, nota ainda que uma mudança importante observada nas últimas semanas foi um maior apetite por parte do investidor local. “É uma combinação. A gente pode ver um aumento do fluxo para bolsa por parte do estrangeiro, mas a gente viu também uma maior demanda do local”, diz.

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O maior apetite local e a volta do estrangeiro para a bolsa brasileira empurram o Ibovespa para a oitava semana consecutiva de ganhos, ao redor dos 119 mil pontos. À frente, além do cenário macroeconômico mais favorável, com revisões para cima na perspectiva de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a expectativa de corte de juros reforçam uma visão mais otimista para a Bolsa, mesmo reduzindo a atratividade da renda fixa doméstica.

O BofA vê espaço para mais avanço, o que pode levar o índice aos 135 mil pontos ao fim de 2023. Hoje, o JPMorgan seguiu o mesmo caminho e elevou a sua projeção de 130 mil para 135 mil pontos. “O protagonista do segundo semestre será o Brasil, tendo em vista o ciclo de flexibilização [de juros] que se aproxima. De fato, no mês passado, o Brasil assumiu a liderança sobre o México pela primeira vez neste ano. Achamos que isso vai continuar”, diz o JPMorgan, em relatório publicado nesta sexta-feira.

O que catapultaria a Bolsa brasileira a outro nível em termos de participação estrangeira, porém, seria se o País conseguisse recuperar o selo de bom pagador, meta do atual governo. O Brasil perdeu o grau de investimento pela S&P em 2015, movimento que foi seguido pelas outras duas grandes agências de risco internacionais, Fitch Ratings e Moody’s.

Ao ser rebaixado para o “grau especulativo”, sentiu grande impacto em termos de participação de investimento estrangeiro. Isso porque alguns fundos só podem investir em nações que têm o selo de bom pagador. Sem ele, o Brasil deixou de receber esses recursos.

“Se o Brasil conseguisse almejar a recuperação do grau de investimento, geraria uma entrada muito grande de recursos”, diz Beker. Economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, porém, acham difícil o Brasil recuperar o selo de bom pagador até 2026, último ano da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A distância de três graus do grau de investimento no caso da S&P, baixo potencial de crescimento e elevada dívida pública são os principais entraves.

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