Bradesco: estresse nos ativos brasileiros testa a retomada ‘passo a passo’ do banco

O resultado, com lucro de R$ 5,225 bi, alta de 13,1% em um ano, veio em linha com as expectativas, mas o cenário de juros mais altos e incertezas quanto aos rumos da economia mudou o humor do mercado

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Foto do author Matheus Piovesana

O discurso do Bradesco não mudou, mas o humor do mercado sim, o que explica a reação negativa ao balanço do banco no terceiro trimestre deste ano. Os números confirmaram a recuperação da rentabilidade, mas de modo gradual. Em um cenário de juros mais altos e incertezas quanto aos rumos da economia, a mensagem foi menos aceita do que nos balanços anteriores.

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O Bradesco teve lucro líquido recorrente de R$ 5,225 bilhões, alta de 13,1% em um ano e de 10,8% em um trimestre. O resultado veio em linha com as expectativas do mercado, mas com composição diferente, em especial na combinação entre receitas com crédito e despesas com inadimplência.

As chamadas margens com clientes somaram R$ 15,635 bilhões, queda de 1,3% em um ano diante da busca por uma concessão de crédito mais conservadora, focada em linhas de menor risco ou em clientes com maior renda. O spread (diferença entre custo de captação e juros cobrados dos clientes) caiu de 9,1% para 8,4% no período.

Na teleconferência com analistas, o presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, disse que o objetivo é evitar ganhos insustentáveis Foto: Werther Santana/Estadão

Os efeitos não foram de todo negativos. As despesas com provisões contra a inadimplência caíram 22,4% em um ano, para R$ 7,127 bilhões. Além de safras de crédito melhores, ajudou a maior recuperação de crédito, fruto de ajustes em modelos e equipe feitos no último ano.

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O presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, afirmou que a tônica deve continuar a mesma. Mais importante que o spread, para o banco, é a margem líquida, o quanto “sobra” depois que dos juros dos empréstimos é descontado o custo das provisões. Na teleconferência com analistas, disse que o objetivo é evitar ganhos insustentáveis. “Eu quero entregar margens perenes, e não um voo de galinha, em que cresce em um trimestre, devolve no outro.”

Mudança de cenário

O executivo repetiu algumas vezes que o Bradesco retomará os antigos patamares de rentabilidade “passo a passo”. No trimestre, o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) chegou a 12,4%, 1,1 ponto acima do mesmo período do ano passado, mas ainda abaixo da média histórica, na casa dos 20%.

“Sim, as margens após as provisões vieram melhores que o esperado, mas o cenário mais desafiador para o crescimento da margem, dada a Selic mais alta e spreads menores, pode desapontar àqueles que esperavam por uma recuperação mais rápida do ROE”, afirmou a equipe do BTG Pactual, liderada por Eduardo Rosman, em relatório enviado a clientes.

A despeito de o balanço ter mostrado melhoras em vários indicadores, o contexto mais difícil gerou temores. O mercado vê o Bradesco como mais sensível aos ciclos da economia doméstica, porque a base de clientes reflete a pirâmide social brasileira. A baixa renda tem importante contribuição para os resultados, o que pode gerar dores de cabeça quando os juros sobem.

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“Embora o balanço confirme a tendência de recuperação, a curva de crescimento esperado parece estar mais lenta, e o cenário macro pode atrasar a recuperação do crescimento do crédito”, afirmaram Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, da XP Investimentos.

Noronha disse que o banco está seguro de que a carteira mostrará resiliência mesmo se o pior cenário para a economia se concretizar. No entanto, vê como mais provável uma alta do desemprego em 2025 a patamares menos preocupantes, e disse que a inadimplência continuará caindo.

O executivo deu um voto de confiança ao pacote de corte de gastos que o governo federal prepara, cujo atraso tem gerado estresse no mercado. “Colocar mais despesas sob o arcabouço, como se noticiou, seria uma boa medida”, disse ele a jornalistas. “Eu sou otimista com o pé no chão, com base em indicadores concretos.”

Rentabilidade ampliada

A aceleração do crescimento anual da carteira de crédito, de 5% para 7,6% entre o segundo e o terceiro trimestres, contrastou com a do rival Santander Brasil, que colocou o pé no freio. Noronha afirmou que o Bradesco está operando com responsabilidade e foco na rentabilidade ampliada das operações, o que inclui o potencial de venda de mais produtos aos clientes, ou de inadimplência.

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“O consignado do INSS perdeu margem mas é bom, traz retorno ajustado ao risco”, disse ele em um exemplo. Com os cortes no teto de juros da modalidade desde o ano passado, a margem caiu 30%, e o Bradesco reduziu originações via correspondentes bancários.

Um dos pilares para aumentar o retorno ampliado é garantir a fidelidade dos clientes. Nesta quinta-feira, 31, com o balanço, o Bradesco anunciou o lançamento de um novo segmento de alta renda que tem esse objetivo. O Bradesco Principal será complementar ao atual Prime, e atenderá a clientes com renda a partir de R$ 25 mil mensais, ou com investimentos entre R$ 300 mil e R$ 10 milhões.

A nova marca terá cartão de crédito com pontos que não expiram, escritórios de atendimento exclusivos e conexão direta com o Bradesco Bank, banco do conglomerado nos Estados Unidos. Clientes que hoje estão no Prime e que se enquadram nos critérios do Principal serão migrados nos próximos meses. “Nós chegaremos a janeiro com algo entre 45 mil e 50 mil clientes”, disse Noronha.

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