O Banco Bradesco e a indústria do agro John Deere devem expandir as atividades do Banco John Deere, em que passarão a ser sócios após a conclusão de uma operação anunciada nesta sexta-feira, 9. Além do financiamento de máquinas e implementos que a instituição faz atualmente, outras linhas de crédito podem entrar na prateleira no futuro, dando ao Bradesco um reforço importante junto ao setor agrícola.
“O Banco John Deere tem maior foco no financiamento do maquinário agrícola, e vamos, ao longo desta parceria, tentar expandir as atividades, buscando financiar outras demandas do cliente, seja para custeio ou outras atividades”, afirmou ao Estadão/Broadcast o diretor de Agronegócios do Bradesco, Roberto França. O objetivo é fortalecer o relacionamento da marca com o cliente.
O Banco John Deere tem lógica de funcionamento similar à dos demais bancos de montadora, financiando a compra de máquinas, equipamentos e peças da John Deere. Ao tornar-se sócio, o Bradesco ganha espaço em um canal importante: a rede de concessionárias e revendas da John Deere, pela qual transitam produtores rurais, muitos deles clientes de outros bancos.
“É o fortalecimento do nosso protagonismo no setor”, diz Vinicius Favarão, diretor executivo do Bradesco. “Entendemos que há oportunidades de fortalecer o posicionamento do banco em diversos tipos de canais de atuação.”
O Bradesco tem cerca de R$ 120 bilhões em operações de crédito para o agro, seja em linhas de financiamento à produção ou em outros créditos concedidos para esse público. O banco é líder em crédito rural entre os bancos privados do País, e no ranking geral, fica atrás somente do Banco do Brasil.
Uma das possibilidades é que outras empresas do conglomerado Bradesco utilizem o John Deere como um canal para chegar ao público do agro. “O Grupo segurador (Bradesco Seguros) pode complementar bastante a oferta de serviços e produtos”, diz França. “Temos vários produtos que não são exclusivos do Bradesco, e que podemos ofertar no Banco John Deere.”
A operação não teve o valor revelado. O Bradesco fará um aporte de recursos na sociedade, e terá metade do capital, além de três posições no conselho de administração.
O cenário do agro
França afirma que o cenário para o agronegócio é positivo no longo prazo. De acordo com ele, neste ano, o setor ainda vive uma acomodação de margens após o crescimento observado durante a pandemia da covid-19 e no ano seguinte a ela, mas a demanda por crédito continua forte e a produção do setor deve crescer.
“Temos falado muito com clientes que querem abrir uma área nova, fazer um sistema de armazenagem ou melhorar a produtividade com o sistema de irrigação”, diz o executivo. “A demanda por crédito continua, o setor vai ampliar a produção agrícola, a demanda por alimentos no mundo continua crescente e vamos continuar financiando essa expansão.”
O Bradesco utiliza três fontes para financiar o crédito para o agro: os recursos direcionados de depósitos à vista; os recursos equalizáveis, provenientes do Plano Safra; e captações de mercado, como as letras de crédito agrícola (LCAs). O estoque do produto no banco é de cerca de R$ 45 bilhões, segundo o diretor.
As mudanças feitas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no começo do ano ampliaram de três para nove meses o prazo mínimo de vencimento das LCAs, o que afastou o pequeno investidor do título, que é isento de imposto de renda. “A tendência é que a captação seja para perfis de mais alta renda, mas existe demanda, e estamos nos organizando para pelo menos manter o nosso estoque”, afirma França.
Na visão dele, a participação dos instrumentos de mercado no financiamento ao agro deve crescer nos próximos anos, dado que os recursos direcionados e os equalizáveis não acompanham os saltos que o setor tem dado. Hoje, menos de 30% do financiamento ao agro é feita pelos recursos direcionados. “Com certeza, as fontes livres vão ser cada vez mais representativas ao longo dos próximos anos.”
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