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Briga bilionária por herança da Waldomiro Zarzur chega aos tribunais dos EUA

Adele Zarzur trava briga judicial com irmãos e pede repartilha dos bilhões deixados pelo empresário Waldomiro Zarzur, que morreu em 2013; ideia é fazer ‘varredura’ em operações internacionais

Foto do author Fernanda Guimarães

A briga bilionária pela herança deixada pelo construtor Waldomiro Zarzur acaba de chegar aos tribunais dos Estados Unidos. Uma das herdeiras, Adele Zarzur, que está à frente de um embate na Justiça contra seus irmãos, Roberto e Ricardo, contratou um nome de peso para sua empreitada no exterior: o ex-diretor antifraude do Departamento de Justiça Americano, Robert Zink, que hoje atua pelo escritório americano Quinn Emanuel Urquhart & Sullivan. O objetivo é fazer uma varredura de eventuais bens dos irmãos que poderiam estar fora do Brasil, no intuito de provar de que pode haver bens ocultados e que não fizeram parte do inventário, concluído há alguns anos e reaberto recentemente.

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Adele pediu à Justiça brasileira a reabertura do inventário do pai exatamente pela sua suspeita de que haveria bens que não foram listados para a distribuição entre os herdeiros. Em uma decisão em julho, a juíza Eliane da Camara Leite Ferreira havia solicitado que a herdeira fizesse uma lista de todos os bens que teriam ficado de fora da partilha original. No entanto, Adele argumenta que, apesar da autorização judicial, não teve cooperação de seus irmãos ou de instituições financeiras estrangeiras.

Foi por essa razão que a briga ganhou um perfil internacional e a estratégia foi de contratar um especialista já conhecido no Brasil. Zink, ainda quando procurador, foi o nome por trás da prisão do ex-presidente da Braskem, José Carlos Grubisich em 2019 e que no ano passado foi condenado a 20 meses de prisão nos Estados Unidos, sob a acusação de corrupção. Agora contratado por Adele, Zink faz uso de um instrumento existente na legislação americana que permite que uma pessoa busque provas documentais ou testemunhais no País para uso de em ações estrangeiras.

Antes da ação, Zink, há cerca de duas semanas, já havia notificado o banco americano JP Morgan pedindo informações sobre contas bancárias dos dois irmãos e de Waldomiro Zarzur, além de documentos que poderiam comprovar uma comunicação para transferência de ativos.

Agora judicialmente, Zink pede também acesso a informações de uma entidade americana chamada de CHIPS, que é uma instituição de serviços financeiros com sede em Nova York e atua como banco de compensação para transferências eletrônicas denominadas em dólares americanos entre bancos domésticos e internacionais. Fora o próprio Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

“O réu JP Morgan auxiliou na criação de (pelo menos algumas das) entidades-alvo e administrou suas contas e investimentos financeiros. Os extratos de conta e portfólio dessas contas seriam críticos para mostrar ainda mais os ativos que foram ocultados do espólio e desviado dessas entidades. O peticionário já solicitou informações ao JP Morgan sem sucesso”, segundo a ação peticionada nos Estados Unidos, à qual o Estadão teve acesso.

Na mesma ação, a justificativa para o CHIPS e o Fed estarem entre os réus é que ambas ainstituições atuam como bancos de compensação para transferências eletrônicas denominadas em dólares americanos entre bancos domésticos e internacionais. Assim, “quase certamente possuem informações relativas a transferências eletrônicas do espólio”. No documento, Zink reforça que ter acesso a essas informações é algo crucial para o caso, já que será fundamental para identificar supostas transferências de bens.

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Varredura

No Brasil, Adele chegou a contratar um perito contábil para traçar eventuais desvios de bens por parte dos irmãos e analisou, conforme autos do processo que corre na Justiça brasileira, 17 empresas do grupo (ao todo, são 70). Ela teria descoberto o desvio de R$ 211 milhões. Adele sustenta que necessita de pronto acesso a esses documentos para detectar potenciais ilícitos cometidos com o uso de sociedades do grupo sediadas no exterior.

Segundo o documento, os dados alvo de busca são muito relevantes para o escopo do processo. O documento frisa que tais informações não foram possíveis de serem reunidas do Brasil e que os “tribunais brasileiros serão receptivos às evidências obtidas por meio deste pedido”. A intenção é que sejam levantados eventuais documentos relativos a eventuais transações financeiras, a exemplo de extratos, relatórios, trocas de correspondência eletrônica, demonstrativos financeiros das sociedades do grupo e relação de investimentos sob custódia.

O que está em jogo é uma fortuna bilionária deixada pelo patriarca, estimada em ao menos R$ 5 bilhões. Ao falecer, em 2013, Waldomiro deixou uma montanha de bens incluindo usinas hidrelétricas, prédios comerciais, fazendas e hotéis, como o WZ, na esquina da Alameda Lorena com a Avenida Rebouças. O empreendimento mais famoso é até hoje o edifício mais alto do centro de São Paulo, o Mirante do Vale.

Procurados, os irmãos Zarzur não responderam até o fechamento da reportagem.

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