CAMAÇARI (BA) - Em cerimônia com apresentação de um grupo de samba, que levou o reservado fundador e presidente da BYD mundial, Wang Chuanfu, a seguir o vice-presidente Geraldo Alckmin e dar, em sua primeira visita ao Brasil, uns passinhos de dança, o grupo chinês assumiu oficialmente nesta segunda-feira, 9, as instalações da antiga fábrica da Ford na Bahia.
No ato simbólico de lançamento da pedra fundamental, a empresa confirmou a produção de três modelos, o híbrido flex Song e os elétricos Dolphin e Yuan, além de ônibus e caminhões.
O investimento já anunciado de R$ 3 bilhões será gasto na remodelação da fábrica para novas linhas de produtos eletrificados, equipamentos para a produção e desenvolvimento de uma tecnologia inédita de sistema flex a etanol para o Song. O início da produção está previsto para o final de 2024.
A unidade de automóveis terá capacidade inicial de 150 mil unidades ao ano, volume que, a partir de 2025, deverá ser ampliado para 300 mil unidades, com novos aportes. O grupo já chegou a falar em até R$ 10 bilhões.
Na segunda fase também está prevista uma unidade de processamento de lítio, completando assim as três fábricas que o grupo prometeu ao governo da Bahia. A intenção é gerar cerca de 5 mil empregos diretos e indiretos.
Renovação de incentivos para o Nordeste
Durante a cerimônia, o governador baiano, Jerônimo Rodrigues (PT), afirmou já ter enviado à Assembleia Legislativa um projeto que isenta de IPVA carros elétricos de até R$ 300 mil. Já o senador pelo Estado, Otto Alencar (PSD), disse já ter encaminhado ao Senado um artigo que inclui no texto da reforma tributária a ser votado a extensão de incentivos para o Nordeste até 2032. “O Senado vai aprovar”, afirmou.
O programa especial, que também envolve montadoras do Centro-Oeste, oferece descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e está previsto para acabar em 2025. A extensão por mais sete anos já vinha sendo defendida pelo grupo Stellantis, que tem fábrica em Pernambuco, e ganhou o reforço da marca chinesa.
A prorrogação do prazo, entretanto, tem forte oposição das montadoras do Sul e do Sudeste, num movimento liderado por General Motors, Nissan, Volkswagen e Toyota. Elas veem na medida uma concorrência desleal com a Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën), embora concordem com exceções para as montadoras recém-chegadas, como é o caso da BYD.
Em discurso em mandarim, não traduzido ao público presente, Chuanfu afirmou que sua empresa “quer apoiar a Bahia, especialmente a região de Camaçari, a se tornar o Vale do Silício do Brasil”. O grupo vai construir em Salvador um centro de pesquisa e desenvolvimento.
“Já estamos trabalhando duro para criar a solução brasileira para nossos carros híbridos plug-in, a combinação de etanol e energia elétrica”, disse Chuanfu. Segundo ele, são “duas fontes de energia limpa para levar o Brasil em direção a um futuro mais verde”.
Antes do evento, ele conversou, por telefone, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não foi à Bahia por estar se recuperando de uma cirurgia. Stella Li, vice-presidente global do grupo e presidente para as Américas, reforçou que o Brasil é um país estratégico para a BYD no mundo, pois é o maior mercado consumidor da América Latina, para onde a marca planeja exportar os modelos fabricados na Bahia.
Líder em elétricos no Brasil
A marca vendeu 2,1 mil modelos importados em setembro, ultrapassando a Toyota, que já tem produção local de híbridos flex e sempre esteve à frente dos concorrentes no segmento. O Dolphin, lançado em julho, foi o carro elétrico mais vendido no País, com 1.036 unidades negociadas.
No mercado global, a marca chinesa está perto de ultrapassar a Tesla como maior fabricante de carros elétricos, o que pode ocorrer até o fim do ano, já que a diferença atual é de apenas 3,4 mil unidades.
A fábrica da Ford ficou foi fechada em 2021, quando o rupo desistiu de produzir veículos no País e, desde então, o grupo negociava sua venda. Para efetivar a negociação com a BYD, o grupo americano devolveu as instalações para o governo baiano, que pagou R$ 220 milhões para cobrir gastos de prédios e infraestrutura feitos pelo grupo americano. O repasse para a BYD será feito inicialmente por meio de contrato de concessão./A repórter viajou a convite da BYD
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