Caixa entra em ‘risco sacado’ e busca mais espaço em operações com empresas

Linha de crédito, que estava no centro da crise da Americanas, é uma das apostas do banco para crescer no segmento corporativo

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Brasília e São Paulo - Cinco anos após a criação da vice-presidência de Negócios de Atacado, o foco da Caixa agora é buscar protagonismo nas operações com empresas. Ao Estadão/Broadcast, o vice-presidente da área, Ronny Peterson, contou que a ambição é apresentar um novo produto a cada mês. O primeiro passo é a estreia na modalidade de crédito de risco sacado - em baixa desde a descoberta do calote bilionário da Americanas.

Segundo Peterson, já era um desejo da Caixa ter o produto desde a criação da vice-presidência, em 2019. Desde lá, a área começou a desenvolvê-lo, e se deparou este ano com o aumento da procura diante da retração dos demais bancos após a crise da varejista vir a público. No acumulado do ano até junho, o saldo de crédito de desconto de duplicatas e recebíveis, rubrica em que o Banco Central contabiliza as operações de risco sacado, tem queda de 23,2%.

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O lançamento veio com a retomada de uma grande parceria com a Petrobras. Em meados de agosto, o banco e a petroleira anunciaram um acordo para o financiamento da cadeia de fornecedores do setor de óleo e gás. Um dos programas da Petrobras de fomento à cadeia, o Mais Valor, funciona exatamente por meio de operações de risco sacado.

O risco sacado é a linha por meio da qual empresas de grande porte garantem a seus fornecedores uma antecipação dos recursos que devem a elas. O banco adianta os recursos, cobrando uma taxa, e a empresa depois paga essas operações à instituição. Em alguns casos, as empresas usam a linha para estender prazos de pagamento, mas em outros, não há alterações.

A linha é conhecida no mercado, mas tornou-se o pivô da crise da Americanas após a varejista afirmar, em janeiro, ter identificado operações que não haviam sido contabilizadas corretamente, e os bancos se retraíram. Em junho, após os trabalhos de um comitê de investigação, a empresa informou que o risco sacado era apenas um dos instrumentos por trás de uma questão mais ampla, centrada em contratos de publicidade.

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Acordo com a Petrobras é considerado o pontapé inicial para a Caixa entrar mais fundo na linha de 'risco sacado' Foto: André Dusek/Estadão

A Caixa decidiu usar o programa com a Petrobras como piloto para entrar de vez nesse mercado no ano que vem, expandindo a atuação para outros setores econômicos, principalmente no segmento de middle market, aquele que atende a empresas com faturamento anual de até R$ 1 bilhão. “Neste trabalho com a Petrobras, encontramos a oportunidade que precisávamos para fazer um piloto bem feito e sair para mercado com robustez, atendendo os clientes que estão desassistidos desde o evento da Americanas”, diz Peterson, que faz parte da área de atacado desde a sua criação.

Com o piloto, a expectativa do banco público é operar de R$ 200 milhões a R$ 300 milhões em risco sacado este ano, para entender a modalidade. Depois, a oferta vai depender da definição do orçamento da instituição financeira. Mas o executivo pondera que a entrada nesse mercado também será cautelosa, até diante do aumento da inadimplência. No mercado, o índice de atrasos saltou de 0,6% em janeiro para 2,9% em junho, de acordo com o Banco Central, em parte pelos efeitos da crise da Americanas. Nesse quesito, Peterson argumenta que a Caixa estudou bastante o produto e diz que a modelagem construída deve garantir inadimplência zero - o que deve possibilitar um diferencial no preço.

Oferecer risco sacado é parte de uma agenda da Caixa de busca pela fidelidade dos clientes, de pessoas físicas a empresas. “O relacionamento é uma via de mão dupla. Não fazemos operação por operação, mas sim operações sustentáveis, que gerem relacionamento no longo prazo”, diz Peterson.

Base não é problema: com 150 milhões de clientes, o banco é o maior do País nesse quesito. Entretanto, detectou que o número de transações que esse cliente faz na rede é, na média, pequeno, e colocou na rua uma estratégia de produtos e relacionamento para reverter o quadro. No piloto do risco sacado, as primeiras empresas atendidas serão as que já são clientes. “Vamos entrar de forma conservadora, para irmos a mercado e prospectarmos novos clientes de uma maneira mais segura.”

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O atendimento a empresas de médio porte foi encampado por alguns bancos digitais nos últimos anos. Peterson afirma que a Caixa tem uma vantagem importante: a presença física, com 51 escritórios dedicados ao segmento, em todas as regiões do País. “O empresário do middle, que normalmente é o dono e atua no negócio, ainda percebe valor na relação pessoal. Isso tem sido, com certeza, um diferencial competitivo”, diz.

Marco

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A retomada da parceria com a Petrobras foi considerada um marco simbólico pela Caixa não só pela oportunidade de estrear na modalidade de risco sacado, mas também por restabelecer as conexões do banco público com grandes empresas. Segundo o executivo, antes disso, a Caixa não estava atuando no financiamento de cadeias.

“Foi um marco porque a gente gerou a credibilidade que talvez estava faltando para a Caixa”, diz Peterson. “Conseguimos com o corpo diretivo da instituição mostrar a pujança que a Caixa tem no segmento e na carteira de petróleo e gás”, explica, acrescentando que foi importante para esse processo a organização da área de atacado nos últimos anos.

Segundo o executivo, o anúncio da parceria com a petroleira chamou a atenção do mercado e o banco já foi procurado por outras empresas de capital privado dos setores de mineração e automotivo interessadas em fechar acordos similares. “O interesse foi maior do que estávamos esperando”, conta.

O executivo ainda ressaltou que o atacado já tem participação crescente no resultado financeiro da Caixa. A contribuição da área para o lucro líquido do banco passou de R$ 432 milhões em 2020 para R$ 1,643 bilhão em 2022 ante o total de R$ 9,8 bilhões no ano.

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