Casino vende fatia do Assaí na Bolsa e deve seguir com oferta de ativos

Varejista francês vendeu R$ 2,67 bilhões em ações da empresa brasileira; grupo decidiu levantar caixa por pressão de bancos credores na França

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Fernanda Guimarães
Atualização:

Pressionado por bancos credores, o varejista francês Casino seguiu com seus planos e vendeu cerca de 11% do capital do atacarejo Assaí, desafiando a volatilidade do mercado brasileiro no pós-eleição, conforme antecipou o Estadão. O grupo decidiu não vender o lote extra. Com isso, a operação alcançou R$ 2,67 bilhões, com a ação saindo a R$ 19.

PUBLICIDADE

A oferta de ações envolveu exclusivamente ações do Casino, o que significa que todo os recursos levantados irão para o varejista francês e não para o caixa da companhia. A decisão de não vender o lote adicional, que poderia aumentar a oferta em cerca de R$ 1 bilhão, foi tomada antes da precificação da ação na oferta, disse uma fonte. Com a operação, a fatia do Casino cai de 41% para cerca de 30%.

Exatamente por conta da volatilidade do mercado neste mês, a decisão dos bancos de estruturar a oferta foi de evitar ao máximo a exposição ao mercado. Por isso, antes de lançar oficialmente a oferta, os bancos responsáveis pela operação tatearam possíveis investidores, identificaram alta demanda e deram confiança ao grupo para enfrentar a turbulência.

Oferta do Assaí foi o quarto maior da Bolsa brasileira neste ano. Foto: Amanda Perobelli/Reuters - 28/10/2021

Por precisar de mais capital para fazer frente aos seus compromissos na França, a leitura dos analistas que acompanham a empresa é que o grupo de Jean-Charles Naouri ainda terá que vendar a fatia remanescente do Assaí após o fim de um período de restrição da venda, estabelecido em 90 dias. Fora isso, a aposta é que serão vendidos outros ativos na América Latina. No Brasil, o francês é dono do GPA, do supermercadista Pão de Açúcar.

Relâmpago

A oferta foi lançada na segunda e já precificada nesta terça-feira, 29, sendo que normalmente, nas ofertas subsequentes de ações, que são aquelas feitas por empresas já listadas na Bolsa, esse processo dura ao menos mais de uma semana. Os bancos BTG Pactual, Itaú BBA e JP Morgan são os assessores financeiros contratados para organizar a transação. Também fazem parte do grupo Bradesco BBI, Santander e Safra. Trata-se da quarta maior oferta de ações do ano, que não contou, desde 1998, com nenhuma oferta inicial (IPO, na sigla em inglês).

Publicidade

O trabalho ao longo das últimas semanas foi mostrar ao mercado que o plano estratégico seria transformar o Assaí em uma empresa sem controlador, ou seja, sem influência direta do Casino. Uma das mudanças mais elogiadas foi estabelecer regras para transações “entre partes relacionadas”, na prática, operações comerciais entre Casino e Assaí, que agora precisam do aval do Conselho de Administração quando superiores a R$ 100 milhões. “Foi um ganho em termos de governança corporativa”, resume uma fonte.

Oferta de ações do Assaí foi uma das maiores de 2022 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Apesar de ser a primeira transação em Bolsa após o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, fontes consultadas afirmam que “foi algo pontual” e que ainda não há espaço pra ofertas de ações, dada a volatilidade.

Operação foi bem-recebida

O anúncio da diminuição do Casino no capital do Assaí foi, desde o princípio, bem-recebido pelo mercado, e a ação vem respondendo positivamente à notícia na B3. No último mês, ela subiu quase 3%, ao passo que o Ibovespa, principal índice da Bolsa, recuou cerca de 5% no mesmo intervalo. No acumulado do ano, a ação do atacarejo acumula alta de aproximadamente 50%.

O Casino tinha, antes da oferta de ações, 41% da rede de atacarejo, operação de maior crescimento e geração de caixa para o grupo francês. A venda das ações é necessária porque o Casino tem de cumprir metas estabelecidas com seus credores no exterior e estaria com dificuldades de cumprir os acordos no curto prazo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.