PUBLICIDADE

Publicidade

Como a alemã Lilium quer fazer decolar seu ‘carro voador’

Companhia, concorrente da Embraer, foi alvo de ceticismo, mas tem feito voos testes com protótipo no sul da Espanha

Foto do author Luciana Dyniewicz
Atualização:

Uma aeronave elétrica construída por uma empresa alemã tem sobrevoado a Andaluzia, no sul da Espanha. O veículo já atingiu a velocidade de 250 km/h a uma altitude de cerca de 275 metros. São os voos testes do protótipo do “carro voador” desenvolvido pela Lilium, uma startup que abriu capital em 2021 na Nasdaq e que aposta no Brasil como um de seus principais futuros mercados.

Ao lado da brasileira Eve (subsidiária da Embraer), a Lilium é uma das empresas na corrida pelo eVTOL (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, como é chamada oficialmente a aeronave). Recentemente, porém, ela foi alvo de ceticismo devido à sua situação financeira, com alguns apostando que ela não chegaria ao fim da disputa.

PUBLICIDADE

No fim do primeiro semestre de 2022, a Lilium tinha € 229 milhões (R$ 1,2 bilhão, na cotação atual) em caixa e € 75 milhões em crédito. A empresa, entretanto, vinha queimando ao redor de € 60 milhões (R$ 315 milhões) por trimestre.

Neste ano, a companhia conseguiu levantar US$ 292 milhões (R$ 1,5 bilhão) e, segundo informou, o montante cobrirá “grande parte do capital necessário para realizar o primeiro voo da aeronave tripulada”, estimado para o segundo semestre de 2024. Após isso, a empresa planeja se financiar através de recursos referentes ao pagamento de pré-entregas.

“O que levantamos de capital remove qualquer tipo de pressão financeira por ora”, diz o diretor comercial da Lilium, Sebastien Borel.

Ainda assim, as ações da Lilium continuam sofrendo no mercado financeiro e vêm sendo negociadas ao redor de US$ 1. Quando abriu o capital, após fusão com uma Spac (companhia de propósito específico de aquisição, isto é, uma empresa que primeiro vai à Bolsa levantar recursos para, depois, encontrar um projeto no qual investir), os papéis eram vendidos a US$ 9,30.

Segundo o executivo, que esteve no Brasil no começo deste mês, além da situação de caixa, a experiência dos profissionais definirão as empresas que se consolidarão no setor. Isso porque a certificação das aeronaves será uma das fases mais desafiadoras no desenvolvimento do “carro voador”, o que demanda pessoas com expertise na área. O próprio Borel tem passagem pela Airbus.

Publicidade

Apesar de os especialistas em aviação apontarem que a certificação será a etapa decisiva na corrida pelo “carro voador”, Borel afirma que uma fase de grandes desafios também está sendo deixada para trás. “A parte mais difícil no desenvolvimento da aeronave é garantir que você realmente pensou em todas as possibilidades antes de começar a fazer os testes de voo. Caso contrário, você precisa fazer muitas mudanças depois. É preciso mudar o mínimo possível após os testes começarem”, diz.

“Estamos a apenas dois anos e pouco da certificação. Todo o trabalho de desenhar a aeronave já foi feito e está fechado quase todos os fornecedores de peças e equipamentos. Agora é realmente hora de mostrar às autoridades que podemos fazer”, acrescenta o executivo.

Borel: 'O que levantamos de capital remove qualquer tipo de pressão financeira por ora' Foto: DANIEL TEIXEIRA

A Lilium pretende montar a primeira aeronave (e não mais um protótipo) no fim deste ano, começar os testes com piloto no segundo semestre de 2024 e certificar o eVTOL no fim de 2025. Até agora, vinha trabalhando com protótipos. O mais recente deles era 30% menor do que o veículo que deve entrar em operação.

Com os protótipos, a Lilium já coletou dados sobre o funcionamento da aeronave, principalmente sobre a aerodinâmica. A companhia também conseguiu demonstrar a transição que o “carro voador” fará nos voos, isto é, como vai fazer quando parar de subir e começar a avançar horizontalmente.

Assim como suas concorrentes, a Lilium adiou o início das operações de seu “carro voador”. Há dois anos, a empresa falava que os primeiros eVTOLs estariam voando comercialmente em 2024. Agora, a previsão é 2026.

O atraso ocorreu, de acordo com a companhia, devido ao tempo necessário para o desenvolvimento do desenho da aeronave e para as discussões com os órgãos reguladores, além dos problemas decorrentes das interrupções nas cadeias globais de abastecimento.

Como é o “carro voador” da Lilium?

O eVTOL da Lilium é o mais diferente entre os que estão relativamente próximos de conseguir a certificação das autoridades reguladoras da Europa e dos Estados Unidos. A empresa trabalha na criação de uma aeronave que possa transportar seis passageiros. O veículo da maioria dos concorrentes deve ter capacidade para quatro.

Publicidade

O “carro voador” da empresa alemã terá também um alcance de 250 quilômetros, sendo capaz de transportar passageiros de uma cidade para outra - o que traz um desafio extra devido à capacidade de armazenamento de energia das baterias. Outras companhias do setor projetam que seus veículos sejam mais usados no transporte urbano, com alcance ao redor de 100 km.

A diferença mais visível, porém, talvez esteja em seu design. A aeronave da Lilium tem 30 motores pequenos distribuídos por quatro asas. As das concorrentes têm entre 6 e 12 motores.

Protótipo do eVTOL da Lilium em testes no sul da Espanha Foto: Lilium

Inicialmente, a Lilium pretendia oferecer apenas a aeronave para seis passageiros. Agora, porém, mudou o planejamento e seus primeiros eVTOLs devem entrar no mercado com espaço para apenas quatro.

Borel afirma que a mudança ocorreu porque as aeronaves devem começar atendendo um público premium, que já está acostumado a voar com helicópteros. “O primeiro passo natural é substituir o helicóptero, porque nossa aeronave terá custo operacional inferior por ser elétrica e será mais confortável. O eVTOL não será tão barulhento nem voará inclinado como o helicóptero.”

Em um segundo momento, a empresa pretende atingir um público maior, colocando o veículo para seis passageiros no mercado. Segundo Borel, essa mudança de mercado deve ser rápida, “de um a dois anos”. “Eu diria que vai ser um produto que a classe média alta poderá pagar. Mas é mais fácil começar com o mercado premium, substituindo o helicóptero.”

Diante dessa estratégia, São Paulo será um dos mercados-chaves para o início das operações por já ter centenas de helipontos. Borel afirma ser simples adaptar esses locais para receberem “carros voadores”, pois será preciso apenas instalar os carregadores de baterias e fortalecer a rede elétrica.

Além de São Paulo, a Lilium acredita que a Flórida, nos EUA, e as cidades da região mediterrânea, na Europa, estarão entre seus principais mercados no início das operações. Essas regiões também já têm um grande número de helipontos.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.