O ex-banqueiro Philippe de Nicolay Rothschild, de 67 anos, decidiu morar no Brasil em 2010. Por aqui, o francês herdeiro da família Rothschild se transformou em um dos principais nomes do setor de importação de vinhos e champanhes do País.
Depois de se consolidar como banqueiro e sobreviver a um tsunami na Ilha de Phuket, na Tailândia, o empresário decidiu vir ao Brasil e fundar a importadora PNR Group. Graças ao negócio, ficou conhecido como “barão dos vinhos”, um apelido que faz referência ao título de nobreza que ele herdou dos pais.
Descendente de uma família da aristocracia francesa, ele pertence a uma linhagem de barões e baronesas que há 250 anos mantém uma tradição dentro do setor bancário e também da viticultura. Apesar de ter sido introduzido no mundo dos vinhos aos 11 anos, foi em um dos bancos da família que, no início da vida adulta, na década de 1970, Philippe começou a trabalhar.
Ainda no século 19, os antepassados de Philippe adquiriram, em Bordeaux, o Château Mouton (hoje Château Rothschild), em 1853, e o Château Lafite, em 1868. As vinícolas são responsáveis pela produção dos tradicionais rótulos de vinho que carregam a história da família com o vinho Domaines de Barons de Rothschild e o champanhe Barons de Rothschild.
Philippe permaneceria 30 anos atuando no mercado financeiro, período em que o apreço aos vinhos era apenas um hobby. Sua relação com o Brasil começaria no início dos anos 1980, quando Philippe ainda trabalhava nos negócios da família e visitava o País para comprar minério na Bahia.
Em busca de mares mais calmos
Com a carreira consolidada no mercado financeiro, no fim de 2004, o banqueiro aproveitava as férias em família na Tailândia quando o país do sudeste asiático foi atingido por um tsunami. As ondas gigantes, causadas pelo terremoto de 9,2 pontos na escala Richter, atingiram aproximadamente 14 países, deixando mais de 225 mil mortos.
Após sobreviver à tragédia e ajudar no resgate de outros 500 sobreviventes, o francês decidiu que procuraria por mares mais calmos, decisão que o trouxe de volta ao Brasil. Em 2006, ele visitou Trancoso, na Bahia, e optou por construir uma casa de veraneio. Quatro anos mais tarde, mudou-se definitivamente para o Brasil, desta vez para São Paulo.
O banqueiro apaixonado por vinhos viu, então, uma oportunidade: decidiu investir na importação da bebida, transformando o que era apenas um hobby em um novo negócio. Em 2014, então, ele fundou o PNR Group, uma importadora e distribuidora de vinhos, que entre os mais de 100 rótulos, tem a exclusividade da importação dos vinhos e champanhes Rothschild, vendidos no Brasil por cerca de R$ 300.
O negócio começou voltado apenas para empresas, mas depois se expandiu para um clube de vinhos e um e-commerce voltado a consumidores de marcas premium. “Meu vinho preferido é o cabernet sauvignon com pelo menos cinco anos. Porque quanto melhor o vinho, mais você precisa esperar”, afirma Philippe.
O presidente da Ideal Consulting, Felipe Gualtaroça, conta que as vinícolas da família Rothschild são reconhecidas mundialmente pela tradição e qualidade do produto. “Sem dúvida, os vinhos Rothschild são de extrema qualidade”, avalia.
Evolução do mercado nacional
O empresário francês acompanhou a evolução do consumo de vinhos no Brasil. Para ele, a principal dificuldade foi fazer com que os clientes experimentassem novos rótulos. “Hoje, o mercado brasileiro está muito mais sofisticado, os brasileiros estão desenvolvendo mais conhecimento e um paladar melhor.”
Outro ponto que o banqueiro destaca é a evolução da viticultura local. Segundo ele, nos últimos 20 anos, vinícolas nacionais aprimoraram sua produção, embora ainda precisem consolidar sua identidade. “É comum que, em duas safras, você tenha dois vinhos completamente diferentes”, diz. “Produzir bons vinhos leva tempo. As videiras no Brasil ainda são muito jovens.”
Segundo Gualtaroça, da Ideal, além de comercializar a marca centenários da família Rothschild, a atuação de Philippe ajudou também a impulsionar os vinhos especiais como um todo. “O Philippe é uma figura que elevou a oferta de vinhos premium para o consumidor brasileiro.”
Mercado de vinhos ganha força no Brasil
Dados do setor mostram um aumento de 28% nas vendas para 2022, em comparação a 2019, período anterior à pandemia de covid-19, para 200 milhões de litros da bebida.
Para o empresário, enquanto os produtores de vinho do Brasil seguem se aperfeiçoando, o consumidor local tem nos vinhos produzidos no Chile e Argentina uma opção de bom custo-benefício, ou como ele prefere, “custo-prazer”. “Não existe benefício em tomar um bom vinho, existe um prazer. Quem bebe tem de avaliar se o preço daquela garrafa vale o prazer que ele proporciona”, enfatiza Rothschild.
Ainda sobre o consumo da bebida no Brasil, Philippe fala em tom otimista que – diferentemente de países da América do Norte e da Europa, onde a distribuição de vinhos é impactada pelos efeitos da guerra na Ucrânia –, o mercado brasileiro deve manter os patamares alcançados durante a pandemia. Ele ainda projeta um caminho de crescimento no horizonte de longo prazo.
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