XANGAI - As montadoras globais e chinesas planejam apresentar mais de uma dúzia de novos automóveis elétricos esta semana no Salão do Automóvel de Xangai, que começa na terça-feira, 18. Esse será o primeiro evento do setor em grande escala dos últimos quatro anos em um mercado que se tornou o maior laboratório para o desenvolvimento de carros elétricos, autônomos e outras tecnologias.
As montadoras estão competindo para lançar veículos elétricos mais rápidos, luxuosos e repletos de recursos no maior e mais concorrido mercado global para essa tecnologia. O Partido Comunista chinês investiu bilhões de dólares em subsídios para conquistar a liderança inicial em uma indústria emergente. Marcas globais estabelecidas enfrentam intensa concorrência de rivais chineses.
Pela primeira vez desde 2019, executivos estão voando dos Estados Unidos, Europa e Japão para o maior salão do automóvel do mundo, depois que as restrições impostas pela covid-19, que bloqueavam a maioria das viagens à China, foram suspensas em dezembro. As feiras de automóveis do maior mercado do setor aconteceram durante a pandemia, mas em escala menor. Marcas globais foram representadas por funcionários de suas operações na China.
Os consumidores do maior mercado automotivo do mundo compraram 5,4 milhões de veículos puramente elétricos no ano passado, ou cerca de dois terços do total global de 8 milhões, além de outros 1,5 milhão de híbridos gasolina-elétricos. Isso foi mais de um quarto do total de vendas de automóveis no país, que chegou a 23,6 milhões. Prevê-se que as vendas de carros eletrificados este ano aumentem outros 30%.
Disputa acirrada
“Os consumidores perderam o interesse pelos carros a gasolina. Esse é o maior desafio para as marcas estrangeiras competirem na China”, disse o analista da indústria John Zeng, da LMC Automotive. “Eles vão ter de mostrar seus melhores produtos elétricos.”
Pequim está diminuindo o apoio do governo e transferindo o ônus para as montadoras, exigindo que ganhem créditos pelas vendas de veículos elétricos. Os fabricantes estão investindo bilhões de dólares no desenvolvimento de modelos que possam competir em preço e recursos sem subsídios. Muitos estão formando parcerias para compartilhar os custos crescentes.
A Volkswagen diz que planeja exibir 28 modelos, metade deles eletrificados. A VW vai apresentar o modelo ID.7, que promete chegar a 700 quilômetros com apenas uma carga.
A chinesa BYD Auto, que compete com a Tesla Inc. pelo título de montadora elétrica mais vendida do mundo, diz que exibirá pela primeira vez seu supercarro U9, de sua marca de luxo Yangwang. A montadora diz que o U9, com um preço de 1 milhão de yuans (US$ 145 mil), pode acelerar de zero a 100 km/h em dois segundos.
As vendas de automóveis na China atingiram o pico em 2017, com 24,7 milhões de unidades, mas caíram em 2020 para 20,2 milhões, depois que as concessionárias fecharam as portas, como parte dos esforços para conter a covid-19. As vendas estão se recuperando, mas ainda não voltaram ao nível pré-pandemia.
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A Tesla e algumas outras marcas reduziram os preços em 5% a 15% a partir de janeiro, depois que o crescimento das vendas desacelerou, embora para níveis ainda robustos em comparação com os fracos mercados dos EUA e europeus. Isso gerou alertas de que o aperto, em uma indústria com dezenas de marcas incipientes, pode forçar montadoras menores a fusões ou a fechar seus negócios.
Veículos autônomos
A China também é, junto com os Estados Unidos, líder no desenvolvimento de táxis e caminhões autônomos.
A Baidu Inc., mais conhecida como operadora de mecanismo de busca, é a mais proeminente entre os desenvolvedores, que também incluem a Pony.ai. O Geely Group, proprietário da Volvo Cars, Lotus e Polestar, anunciou planos para veículos autônomos conectados por satélite. A fabricante de equipamentos de rede Huawei Technologies Ltd. está trabalhando em veículos autônomos de mineração e industriais.
A Baidu e a Pony.ai receberam as primeiras licenças da China para oferecer serviços autônomos de carona em Pequim, com um motorista de segurança a bordo para assumir o controle em caso de emergência, em 2022. Isso ocorreu 18 meses depois que a Waymo, da Alphabet Inc., iniciou um serviço autônomo em em Phoenix, Arizona.
“Vemos um apoio muito forte do governo”, disse Jason Low, da Canalys.
No salão do automóvel, a marca chinesa Aito planeja exibir seu novo SUV M5 com tecnologia autônoma desenvolvida em aliança com a Huawei Technologies Ltd.
O mercado da China é tão grande que mesmo as marcas globais cujo ponto de venda mais forte são os motores a gasolina estão adotando os elétricos.
A BMW diz que toda a sua linha de veículos na Auto Shanghai será eletrificada. A marca alemã de luxo diz que apresentará dois novos modelos, o i7 M70L e o XM Red Label, e mostrará seu M760Le na China pela primeira vez.
A italiana Maserati, uma unidade da Stellantis conhecida por usar motores Ferrari de alto desempenho, planeja lançar seu primeiro SUV elétrico e diz que seu carro esportivo elétrico fará a estreia na Ásia.
A marca chinesa de veículos elétricos de luxo NIO Inc., que compete com a Tesla no segmento premium do mercado, planeja exibir seu mais recente SUV, o ES6. Ele promete um alcance de 610 quilômetros com uma carga.
A Mercedes-Benz planeja lançar um SUV elétrico sob sua luxuosa marca Maybach e dois SUVs. A empresa também possui joint ventures de carros elétricos com a BYD Auto e o Geely Group.
A Toyota diz que planeja revelar dois novos modelos em sua linha bZ de veículos com emissão zero. A Nissan planeja exibir seu carro-conceito conversível elétrico Max-Out. A Honda está lançando um novo protótipo para sua marca elétrica e:N, com foco na China.
Apesar de tais investimentos, as marcas ocidentais e japonesas precisam ser mais agressivas sobre o desenvolvimento de carros elétricos para acompanhar a rápida evolução da China, disse Zeng, da LMC.
“O modelo que eles trazem para a China fica atrás dos modelos chineses por três ou quatro anos em autonomia e equipamentos”, disse Zeng. “Eles têm de aprender a projetar e testar carros na China para a China.” / AP
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