DHL, de logística, e Green Eletron, de gestão de ‘lixo eletrônico’, se unem para aumentar reciclagem

Parceria busca aumentar a eficiência com menos viagens para coleta; segundo as empresas, expectativa é que programa leve mais companhias a valorizar a logística reversa

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Foto do author Luis Filipe Santos
Atualização:

A empresa de logística DHL e a gestora de resíduos eletroeletrônicos Green Eletron se uniram para melhorar a logística reversa desse tipo de material, cuja reciclagem ainda é baixa no Brasil. O programa começou em São Paulo no dia 14 de outubro, com a coleta sendo feita em 40 pontos da região metropolitana da capital paulista e os resíduos levados para o município de Jandira, em um centro da DHL.

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A meta do programa é aumentar a eficiência, coletando mais material em menos viagens. Para tal, foi feito um novo desenho operacional do transporte, com ajuda de planejadores de rotas e sistemas de transporte que utilizam a tecnologia da multinacional alemã.

Após ser coletada, a carga fica armazenada por um curto período no centro em Jandira, onde é separada para ser enviada às empresas recicladoras dos materiais. O funcionamento é explicado por Mayra Secco, gerente geral de Operação na DHL. “Por exemplo, alguns pontos de coleta estão dentro de shoppings. Alguém dentro do shopping avisa ‘O coletor está cheio, você precisa vir’, e nós vamos. Quanto mais coletas no dia, mais fácil conseguimos roteirizar para o veículo passar por esses locais”, diz.

Ademir Brescansin, gerente executivo da Green Eletron, diz que começar na capital paulista era a melhor opção, mas o programa deve ir para outras cidades. “É mais fácil iniciar em São Paulo por ter mais coletas. Mas nós temos 1.600 pontos em 330 cidades. Como aqui é mais concentrado, podemos conhecer o processo, otimizar e depois expandir para o Brasil inteiro”, diz.

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Reciclagem de eletroeletrônicos envolve celulares, geladeiras, televisões, pilhas e muito mais Foto: Divulgação/Green Eletron

Segundo ele, a parceria surgiu a partir de uma oportunidade de mercado, já que o operador logístico anterior não tinha interesse em continuar o contrato. A partir daí, conseguiram um acordo mais barato com a empresa alemã. “Se a DHL já faz entregas dos itens, porque não poderiam trazer após a vida útil?”, questiona.

Importância

A reciclagem de eletrônicos é importante por diversos motivos: ajuda a garantir a destinação correta para metais pesados que há nos itens, evita que mais matéria-prima precise ser extraída da natureza para atender à demanda e pode ser uma oportunidade econômica para empresas.

Ainda assim, há pouca adesão da população a esse tipo de reciclagem, que engloba desde pilhas até geladeiras, passando por celulares e televisões. Segundo levantamento da Green Eletron relativo a 2023, 88% das pessoas já ouviram falar no assunto, mas 34% ainda o associam a e-mails de spam. Além disso, 85% ainda guardam eletrônicos que não utilizam mais em casa, ao invés de levá-los a algum local apropriado de descarte. De acordo com a pesquisa, 22% das pessoas levam o lixo eletrônico a pontos adequados a cada três meses, e 10% relataram tê-lo feito apenas uma vez na vida.

Outros dados preocupantes apontam que 25% não reconhecem nenhuma responsabilidade dos consumidores em colaborar para a logística reversa dos produtos eletroeletrônicos. A mesma quantidade de pessoas não sabe que todos os equipamentos podem ser reciclados e suas matérias-primas reutilizadas.

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A Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, estabelece que a responsabilidade pelo descarte correto recai principalmente sobre as empresas, mas a população também precisa fazer sua parte.

“Empresas que implementam sistemas eficientes de logística reversa podem reduzir custos operacionais e inclusive criar novas fontes de receita por meio da venda de materiais recuperados. No entanto, é importante considerar os desafios associados, como os custos iniciais de implementação e a necessidade de conformidade com regulamentações legais específicas”, explica Marcela Cunha, diretora executiva da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol).

Ela menciona outros pontos que merecem atenção especial. Por exemplo: para itens grandes, é necessário facilitar para a população, realizando retiradas nas casas. “O descarte de equipamentos como geladeiras, computadores e celulares depende de fatores como conveniência e segurança. No caso de itens de grande porte, como refrigeradores, sistemas de coleta domiciliar são essenciais. Já para itens menores, pontos de entrega voluntária facilitam o descarte. Outro ponto crítico é a proteção de dados pessoais em dispositivos como computadores e tablets”, diz Cunha.

Ponto de coleta da Green Eletron: gestora não pode ter fins lucrativos Foto: Divulgação/Green Eletron

Custo

O projeto da DHL com a Green Eletron tenta resolver, ou pelo menos amenizar, um dos principais problemas: o custo. “A maior dificuldade em projetos é o custo de transporte para levar os resíduos ao destino correto. Soluções tecnológicas, como softwares para otimização de rotas e aplicativos que indicam pontos de descarte, podem facilitar o processo”, comenta a mestra em engenharia elétrica e professora universitária do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) Debora Costanti Justino Ribeiro. Ela também coordena o projeto “Lixo Eletrônico: não descarte essa ideia” dentro do Inatel.

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Outro ponto é a rastreabilidade, ou seja, assegurar que todos os resíduos sejam encaminhados da forma certa para locais adequados. “Empresas precisam monitorar e garantir que seus resíduos cheguem ao destino correto, transformando-se novamente em matéria-prima. Essa rastreabilidade precisa ser bem desenvolvida, para que seja possível acompanhar todo o ciclo dos materiais descartados”, diz Ribeiro.

Menor custo de operação

Por essas razões, a ação entre a multinacional alemã e a gestora brasileira vista também a atrair mais companhias produtoras ou importadoras de eletroeletrônicos. A expectativa é de que o sistema seja mais barato, por conta da especialização da DHL.

“Isso se reflete em menores custos de operação e em uma mensalidade mais atrativa. Precisamos que todos os fabricantes de eletroeletrônicos participem”, diz Brescansin, com esperança de que a visibilidade trazida pelo nome da empresa europeia também ajude.

Uma expansão dos pontos de coleta também é planejada, e as unidades da DHL podem ser usadas para tal, dentro da estratégia, mas a cooperação dos consumidores continua sendo o ponto principal. Também existe a expectativa de que outras entidades gestoras, que lidam com outros tipos de material, possam aprender com a experiência e aplicá-la em seus próprios campos de atuação.

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