Dotz trabalha para virar empresa de tecnologia, mas mercado vê demora e ações caem 94% desde IPO

Companhia de programa de fidelidade abriu capital e investiu R$ 200 milhões na mudança

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Foto do author Luciana Dyniewicz

Criada como uma empresa de programa de fidelidade, a Dotz trabalha atualmente para virar uma companhia de tecnologia que reúne marketplace e fintech e impulsiona vendas de terceiros com base nos dados dos consumidores cadastrados na plataforma.

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A transformação começou há três anos e contou com R$ 200 milhões em recursos – de um total de R$ 390,7 milhões captados em sua abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) na Bolsa, em maio de 2021.

Analistas veem o modelo de negócio com potencial, mas, por ora, dizem que os resultados estão demorando para chegar. Na B3, as ações da empresa já caíram 94% desde o IPO.

“Apesar de alguns marcos importantes (na transformação), a dura realidade é que os resultados concretos estão demorando mais do que o esperado, atrasando nossas expectativas de fluxo de caixa positivo”, escreveram, em março, os analistas Ricardo Buchpiguel, Eduardo Rosman e Thiago Paura, do BTG Pactual.

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Analista do UBS BB, Kaio Prato afirma que parte das mudanças está ocorrendo muito lentamente. “A gente gosta do modelo da Dotz, com esses três pilares (marketplace, fintech e fidelidade) bem sinérgicos. Mas o ambiente macroeconômico nos últimos dois anos foi difícil e algumas coisas não saíram como o esperado”, diz.

Segundo Prato, a expectativa era que a empresa já tivesse lançado a loja online própria do marketplace, o que melhoraria a experiência do consumidor e geraria maior volume de transações. O projeto, no entanto, ainda não saiu do papel. Hoje, o marketplace direciona o cliente, virtualmente, para uma loja afiliada, na qual é possível comprar com “dotz”, como são chamados os pontos do programa de fidelidade.

Outro projeto que não está na velocidade esperada é o financeiro. No ano passado, a Dotz comprou a fintech de crédito Noverde para acelerar sua entrada no segmento de crédito pessoal. Para o mercado, porém, a integração dos negócios deveria ter sido mais rápida. Outra crítica dos investidores é que a área de cartão de crédito também tem registrado queda no número de clientes ativos.

Os analistas, no entanto, reconhecem que o momento é difícil para empresas de tecnologia que estão em fase de investimento, para companhias que atuam com marketplace (dado que o e-commerce vem desacelerando) e para fintechs, devido à maior aversão ao risco na concessão de crédito.

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O fundador e presidente da Dotz, Roberto Chade, refuta as críticas do mercado e diz que a mudança feita desde o IPO é “brutal”. “Não tínhamos o superapp antes. Hoje temos. Não tínhamos atuação em serviço financeiro. Hoje temos. A Dotz era uma casa de um andar. Hoje é um prédio de seis andares. Os objetivos que colocamos há dois anos estão acontecendo.”

Para Chade, o principal indicativo de que a mudança está ocorrendo como deveria é o aumento da receita por usuário. No último trimestre de 2021, ela foi de R$ 30,7. No mesmo período do ano passado, de R$ 37,7, o que significa um aumento de 23%.

"A Dotz era uma casa de um andar. Hoje é um prédio de seis andares", diz Chade Foto: Dotz/Divulgação

Esse crescimento ocorre justamente devido à ampliação dos serviços oferecidos. Antes, o cliente entrava no programa de fidelidade, ganhava “dotz” quando fazia compras em um supermercado parceiro e trocava esses “dotz” por outro produto. Agora, ele ainda pode adotar um cartão de crédito com o qual é possível acumular “dotz”, pegar um empréstimo pessoal com a empresa e trocar os “dotz” por dinheiro.

“O negócio de fidelidade gera engajamento com o consumidor e o leva para nossos outros serviços”, diz Chade, que acrescenta que a tendência é que a receita por usuário continue crescendo. O executivo também afirma que a empresa deve atingir, neste ano, o ponto de equilíbrio financeiro. Em 2022, porém, o prejuízo foi de R$ 95,2 milhões, um crescimento de 16% na comparação com 2021.

Para atingir o equilíbrio, a empresa vem reduzindo gastos – demissões foram feitas recentemente. Segundo Chade, elas ocorreram porque projetos de criação de novos serviços foram concluídos. “Entramos em uma fase de evolução, não mais de construção.”

O empresário também explica que parte da desvalorização das ações da empresa na Bolsa ocorreu por uma falha técnica. Quando a Dotz fez o IPO, em um momento difícil para operações do tipo no mercado, optou-se por limitar a negociação dos papéis a investidores qualificados. Por um erro, no entanto, as ações foram vendidas a pessoas físicas inicialmente, o que foi revertido assim que percebido, diz Chade.

“A trava para investidores pessoas físicas foi colocada justamente quando o mercado ficou mais difícil para empresas de tecnologia”, acrescenta. Agora, a companhia trabalha para reagrupar ações e restabelecer o preço dos papéis em um patamar superior a R$ 1.

Apesar de o mercado ainda estar desconfiante em relação ao cenário da Dotz, analistas afirmam que os resultados devem começar a melhorar. “A expectativa é que os custos fiquem mais controlados neste ano. Nas nossas estimativas, a empresa ainda não atingirá o ‘breakeven’ (equilíbrio) em 2023, mas a rentabilidade começa a melhorar”, diz Prato, do UBS BB.

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