Filhos ou animais de estimação? Empresas trocam o mercado de bebês pelo segmento pet

Número de animais de estimação chega a ser quatro vezes maior do que o de crianças; marcas como Multi, Fisher Price e Nestlé buscam fatia no setor

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Lucas Agrela
Atualização:

Depois de seis anos no mercado de produtos para bebês, a fabricante de eletrônicos Multi (antiga Multilaser) iniciou um projeto de criação de artigos para pets em 2020. No ano seguinte, após levantar R$ 1,9 bilhão na abertura de capital na B3, veio a aquisição da Expet, empresa de tapetes higiênicos e petiscos para animais de estimação.

PUBLICIDADE

Hoje com cerca de 300 produtos para o setor, incluindo guias e coleiras para passeio e até alimentadores automáticos, a Multi vê um grande potencial de crescimento, especialmente em relação ao segmento de produtos para bebês, que é um mercado mais estabelecido e que enfrenta a queda da taxa de natalidade no Brasil e no mundo.

Para 2023, a companhia estima crescimento de 35% na participação do segmento pet no seu faturamento. Thiago Maniezzo, gerente de produtos à frente das áreas de bebês e pets na Multi, conta que a motivação para a empresa entrar no segmento pet foi o “boom” de abertura de pet shops e de pessoas adotando cães e gatos nos últimos anos. “Em cinco ou dez anos, o mercado pet vai crescer mais do que o de bebês. O mercado de bebês está mais maduro e o pet ainda tem muito a crescer”, diz.

A Expet, de tapetes higiênicos, teve a operação absorvida e a Multi fez aquisições de maquinário para triplicar a produção em Extrema (MG) em busca de chegar à liderança de mercado. Com ambições globais desde a abertura de capital, a empresa vê potencial para aumentar o faturamento em outros mercados. “Com o aumento de custos no mundo, o País passou a ser exportador de tapetes higiênicos. A América Latina e o mercado americano estão na mira”, diz Maniezzo.

Publicidade

Thiago Maniezzo, gerente de produtos na Multi, empresa que aposta no segmento pet Foto: WERTHER / ESTADAO CONTEUDO

A entrada no mercado pet é um movimento estratégico para a companhia criar uma receita recorrente em um setor em que o consumidor compra, por vezes, mais com a emoção do que com a razão. Além disso, enquanto as mercadorias para bebês normalmente são vendidas para o público com idades entre 20 e 40 anos, os artigos para animais de estimação têm maior amplitude de público, uma vez que as pessoas podem ter pets em todas as idades.

De olho nisso, mesmo a marca global tradicional do segmento infantil Fisher Price tem agora uma linha voltada para pets. Representada no País pela Multi, que também vende produtos sob a sua marca própria Mimo, a empresa vende brinquedos e até um carrinho para pets, inspirado nos carrinhos de bebês.

Até mesmo a empresa mais conhecida de papinha de neném tem negócios voltados para os animais de estimação. Julia Valente, diretora de marketing de Purina Brasil, ração para pets da Nestlé, diz que as vendas têm acelerado no País, chegando a dobrar nos últimos três anos. “Purina é o pilar da Nestlé que mais cresce no mundo. No Brasil, há um olhar de aceleração por ser o terceiro maior mercado do mundo para o segmento pet”, diz Valente. Por isso, a empresa anunciou, em 2021, um investimento de R$ 2,5 bilhões no Brasil, dos quais R$ 1,3 bilhão são para ampliar a capacidade produtiva de ração para cães e gatos, em busca de liderar o segmento.

Filhos e pets

Nos últimos anos, o setor pet acumulou crescimento de dois dígitos. Os números de 2022 ainda não foram fechados, mas a expectativa é de um avanço de 16%, alcançando um faturamento de cerca de R$ 60 bilhões. “O segmento pet sempre cresceu. Não houve um momento em que ele retrocedeu, mesmo nas piores situações (econômicas) do País”, afirma Nelo Marraccini, presidente do conselho consultivo do Instituto Pet Brasil (IPB).

Publicidade

Para 2023, a expectativa ainda é de um crescimento no faturamento de 10%. “O ano não começou muito fácil. Desde a eleição, a gente percebeu que o mercado perdeu um pouco de velocidade”, afirma Marraccini.

No País, o número de crianças com até 12 anos de idade era de aproximadamente 35,5 milhões, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2018. O número de pets é bem mais expressivo, 139,3 milhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos Para Animais de Estimação (Abinpet).

Junto ao aumento no número de pets, há uma queda no número de filhos no País. De acordo com dados da UNFPA (Fundo de Populações das Nações Unidas) referentes a 2021, o Brasil passa por uma forte queda na taxa de fecundidade. No final da década de 1960, o número de filhos por mulher chegou a ser de seis, hoje é 1,7. Aliás, o País está abaixo da média mundial, que é 2,4.

Pegando carona na tendência

A onda de vendas no mercado pet é tão grande que até mesmo empresas de ramos aparentemente nada relacionados ao setor entram nessa tendência, como a marca de mochilas Sestini e a Anjos Colchões & Sofás.

Publicidade

PUBLICIDADE

Com mais de 200 unidades no País, especialmente no Sul e no Sudeste, a Anjos Colchões & Sofás apostou na criação de produtos para animais de estimação para atender às necessidades do número crescente de cães e gatos nas casas dos consumidores. Além de produtos com revestimento especial, e até caminhas em formato de poltronas, a empresa criou camas adaptadas para quem dorme com o pet.

“Temos um box específico para o pet, com almofadas de laterais que podem ser removidas para a entrada do pet”, diz Gracy Bozio, gerente do serviço de atendimento ao franqueado da Anjos Colchões & Sofás. Desde o ano passado, companhia vende mais de 30 opções de sofás e poltronas para pets.

Regina Schneidewind, co-CEO da Sestini, conta que a decisão de lançar produtos para o segmento pet veio a partir de pesquisas de interesse dos consumidores que tinham cães ou gatos em casa. “É importante ressaltar que não são apenas produtos para pets e, sim para estreitar a convivência dos pets com seus tutores. As bolsas de transporte permitem que os animais sejam levados para passeios, viagens e acompanhem sempre os tutores em vários momentos”, afirma. (Colaborou Luiz Guilherme Gerbelli)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.