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Energia gerada pelo hidrogênio pode acrescentar US$ 1,4 trilhão anual à economia global até 2050

Combustível a partir de moléculas de água é boa alternativa para transporte e indústrias pesadas; estimativa é de dois milhões de empregos criados por ano entre 2030 e 2050

Foto do author Luis Filipe Santos
Atualização:

A geração de energia limpa a partir do hidrogênio verde pode ser uma excelente oportunidade de negócios. A conclusão é de um estudo global realizado pela consultoria Deloitte, que estimou os impactos dos investimentos no combustível para as economias de diferentes regiões — o Brasil e a América Latina podem ser imensamente beneficiados, caso os setores público e privado ajam “decisivamente” para incluir o hidrogênio na matriz energética e combater as mudanças climáticas.

De acordo com o estudo “Perspectivas globais para o hidrogênio verde 2023: Energizando o caminho para a descarbonização”, a cadeia de comercialização do hidrogênio verde deve superar a do gás natural em 2030, e gerar um mercado de US$ 1,4 trilhão anual (R$ 6,91 trilhões) até 2050. Cerca de 2 milhões de empregos devem ser criados anualmente entre 2030 e 2050 na utilização da nova fonte.

Essas projeções vêm do “Hydrogen Pathway Explorer (HyPE)”, ferramenta de simulação da Deloitte. A pesquisa mostra que o hidrogênio verde pode reduzir as emissões de CO₂ em até 85 bilhões de toneladas até 2050, mais do que o dobro das emissões globais de CO₂ em 2021. Contudo, para tal, ações de governos e do setor privado seriam extremamente necessárias, com investimentos na casa de U$ 9 trilhões (R$ 44,4 trilhões). “É importante garantir a estrutura para que tudo aconteça”, afirma Maria Emília Peres, líder da Deloitte Brasil para Clima, Sustentabilidade e Equidade.

O que é o hidrogênio

O hidrogênio é o elemento químico mais abundante no universo e, na Terra, é encontrado principalmente ligado ao oxigênio na água. Assim, para obtê-lo, o principal método é utilizar eletricidade para dividi-lo do oxigênio e poder armazená-lo na forma líquida, que pode ser usada como combustível. A eletricidade utilizada precisaria vir principalmente de fontes renováveis, como eólica e solar.

Painéis solares que visam gerar energia para produção de hidrogênio verde na Austrália; combustível pode ser gerado a partir do excedente das energias eólica e solar Foto: Giacomo D'Orlando / NYT

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O principal benefício do hidrogênio é a estabilidade. Como as energias solar e eólica dependem da natureza, o excedente gerado em períodos de abundância pode ser utilizado na eletrólise e, a partir daí, gerar um combustível que pode ser armazenado, transportado, vendido e exportado, e cuja queima não gera emissões de gases de efeito estufa.

Por isso, os principais beneficiários do hidrogênio verde tendem a ser indústrias pesadas e a mineração, que dependem de um fornecimento constante e estável de energia para funcionar, e têm encontrado dificuldades com as fontes renováveis “tradicionais”. Os setores de transportes também poderiam utilizar o novo combustível, em caminhões, navios, trens e até mesmo carros que sejam adaptados.

Gargalos

Para que o hidrogênio se torne de fato uma alternativa viável economicamente para as grandes empresas, ainda é necessário percorrer um longo caminho. O estudo da Deloitte estima que, considerando os anúncios atuais de projetos de hidrogênio limpo no mundo, só haveria capacidade de produção coletiva para atender a um quarto da demanda projetada em 2030.

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Assim, o relatório sugere três ações: lançar as bases do mercado, com estratégias nacionais e um processo aberto de certificação do processo de produção; estimular a ação por meio do estabelecimento de metas e do oferecimento de incentivos fiscais e subsídios; e garantir resiliência com a melhoria da infraestrutura de transporte (oleodutos e rotas marítimas) e armazenamento.

Ônibus movido a hidrogênio faz o trajeto entre o Terminal São Mateus e o Jabaquara, em São Paulo Foto: Sérgio Castro / AP

Para o Brasil, o hidrogênio se torna uma oportunidade maior por ter um potencial grande de geração de energias renováveis, das quais parte poderia ser utilizada para a eletrólise. Outros pontos são já ter parte da infraestrutura em gasodutos, que podem ser alternativa para o uso e transporte do hidrogênio verde, e a demanda forte por energia no País. “Precisa ser efetivo em termos de cadeia pública e de financiamento. O hidrogênio verde do Brasil é um dos mais baratos do mundo, pode se tornar extremamente competitivo “, afirma Peres.

No entanto, muito ainda precisaria ser feito em termos de estrutura física, e diversas questões são levantadas a partir deles. “Se quisermos exportar, qual vai ser o método, o marítimo? Vai ter porto suficiente? Vai ter taxação diferenciada? Como vão ser as políticas de comércio exterior?”, questiona Peres. Outro ponto é a necessidade de formar profissionais qualificados para trabalhar com o hidrogênio — se parte deles já estará operando parques eólicos e solares, ainda assim outros precisarão ser capacitados para a outra fonte.

O hidrogênio tem recebido incentivos de governos locais para projetos, como os de Ceará e São Paulo. “O que está dentro da alçada dos governos estaduais e municipais, eles têm feito, então estamos no caminho. Mas precisamos de políticas no nível federal”, relata Peres. Assim, a sensação é de estar no caminho certo, há interesse e oportunidades nos setores público e privado, mas acelerar a transição energética e os projetos para o hidrogênio é preciso.

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