Há 15 anos, César Federmann e Nathália Federmann, pai e filha, decidiram explorar novos horizontes no mercado imobiliário, criando uma empresa voltada para negócios inovadores. Integrantes da família fundadora da Senpar - Terras de São José, uma companhia fundada em 1973 e especializada em loteamentos residenciais fechados no interior de São Paulo, eles aproveitaram o know how adquirido para expandir as atividades. Em 2009, os dois usaram um terreno próprio para desenvolver um super outlet, que reunisse diversas marcas. Assim nascia a Enne.
O Outlet Premium São Paulo, em Itupeva, considerado o primeiro do tipo no País, foi criado ainda na Senpar e inspirado no que já acontecia nos Estados Unidos.
Do ponto de vista do negócio, a estratégia era simples: construir a estrutura das lojas e o estacionamento, ter um operador parceiro responsável pelo relacionamento com as marcas e receber aluguéis dos lojistas. A localização da primeira unidade era privilegiada, especialmente, por ser próxima a Vinhedo, cidade conhecida por condomínios residenciais de alto padrão. A ideia era oferecer a esse público acesso a produtos com desconto de grandes marcas, bem como a qualquer viajante que passasse por ali a caminho do interior paulista.
De lá para cá, o setor se desenvolveu e se espalhou por outras regiões, como o Centro-oeste, Sul e Nordeste. De acordo com o Censo Brasileiro dos Shopping Centers de 2023, eram 17 outlets entre os 639 shoppings catalogados no País pela Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).
Neste ano, a Enne foi a São Bernardo do Campo, mais carente de infraestrutura. A escolha da localização foi estratégia para atingir não só o público local, mas também quem está de passagem pela região, a caminho do litoral paulista. De cara, o Outlet Premium Imigrantes se tornou um sucesso de vendas. O negócio faturou R$ 200 milhões nos seus primeiros seis meses de funcionamento, número que deve se repetir no segundo semestre, que tem as duas datas mais importantes para o varejo: Black Friday e Natal.
O terreno, antes um pátio de caminhões, foi transformado em um shopping aberto, com bastante espaço para as marcas armazenarem seus estoques. Aliado a isso, o conceito de open mall ajuda a reduzir os custos de operação aos mais de 100 lojistas, viabilizando a oferta de produtos com descontos. O espaço tem mais de 100 lojas, incluindo nomes como Nike, Lacoste, Puma e Boss. A operação é do grupo General Shopping & Outlets do Brasil.
“Em Itupeva, a gente tem um raio do público primário muito interessante e de um poder aquisitivo já muito importante. É um pouco diferente do que a gente trouxe para São Bernardo. Em São Bernardo, a gente foi para uma região que é mais carente e que não tinha nenhum empreendimento dessa envergadura, não tinha nenhum equipamento daquele jeito”, afirma Nathália.
A chegada do Outlet Imigrantes gerou 7 mil empregos diretos e indiretos em São Bernardo do Campo, segundo os executivos. Para efeito de comparação, a montadora Ford, que fechou sua fábrica na cidade, tinha cerca de 3 mil funcionários.
Cesar conta que a estratégia do projeto é ter um horizonte de retorno inferior a dez anos, justamente pela forma como o open mall é construído, sem revestimentos luxuosos. “(O tempo de retorno do investimento em relação a um shopping comum) é mais curto porque o investimento é menor, a disposição de capital é menor. Prevemos ter retorno do Outlet Premium Imigrantes em seis anos”, diz César.
Perfil
De acordo com César e Nathália, o público dos outlets no País é majoritariamente feminino. O dado também aparece na pesquisa da Abrasce sobre o setor: 63% dos consumidores de outlets no País são mulheres e a faixa etária comum é de pessoas com idades entre 30 e 44 anos (47%).
A maior parte dos frequentadores de outlets pertence à classe média, com renda mensal entre 3,1 e 6 salários mínimos (39%). Já o gasto médio com as compras é de R$ 989. A maioria dos consumidores vai a um outlet só uma vez por ano (55%), mas fica lá por bastante tempo. A permanência média por visita é de 3 horas e 14 minutos.
Até por isso, os super outlets apostam na oferta de serviços, como restaurantes e petshops, e alguns têm até farmácia — mas só pela conveniência, não há descontos em medicamentos.
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O estudo mostra também que o cartão de crédito é a modalidade de pagamento mais comum, sendo utilizada por 74%, enquanto o Pix já é adotado para pagar compras nesses espaços por 47%. O levantamento foi feito com 1.100 consumidores de outlets entre maio e junho de 2024.
“Os outlets têm se tornado cada vez mais relevantes no mercado brasileiro de shoppings, e a Abrasce, como entidade representante do setor, tem acompanhado e apoiado esse crescimento. A pesquisa inédita que realizamos revela comportamentos significativos do consumidor neste segmento, evidenciando como essa categoria, com suas características únicas, se consolidou ao longo de 15 anos de operação no Brasil”, diz Glauco Humai, presidente da Abrasce. Segundo ele, esses dados reforçam que os outlets não apenas atraem consumidores, mas também se destacam por proporcionar experiências de compra completas e descontos atrativos, consolidando ainda mais sua importância no ecossistema de shopping centers do país.
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