Há 70 anos, a moda entre a elite paulistana era morar em apartamentos que fossem os maiores imóveis possíveis: alguns lançamentos da época chegaram a ter 48 cômodos. Hoje, o que os clientes das construtoras de luxo querem é localização privilegiada, espaço bem pensado e acabamento de primeira linha - mesmo que o apartamento tenha apenas três quartos.
O que mudou de lá para cá? É sobre isso que Arthur Monnerat Capela, sócio-diretor comercial e de marketing da construtora Lindenberg fala no evento Summit Imobiliário 2024 - Tendências para a Economia Brasileira e para o Mercado Imobiliário em 2025, que será realizado em São Paulo nesta quinta-feira, 28, das 8h às 18h (as inscrições podem ser feitas aqui).
Em seu painel “O futuro dos empreendimentos de alto padrão” ele tratará sobre o que o consumidor dos imóveis de luxo busca nesses empreendimentos.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
Um levantamento da consultoria Bain & Company diz que o segmento imobiliário de luxo, de propriedades de mais de R$ 3 milhões, cresceu 339% em 2022 em relação a 2020. Esse é o dado mais recente da consultoria. Como a construtora acompanha esse mercado?
A gente vê uma demanda consistente no alto padrão. No nosso caso aqui, no ano passado, terminamos o ano tendo vendido R$ 610 milhões, se eu somar todos os apartamentos que a gente comercializou no ano. Este ano, já passamos dos R$ 733 milhões e devemos fechar 2024 com mais que isso. Para 2025, queremos crescer pelo menos 20% acima disso.
E o que tem feito esse mercado crescer?
Pela minha experiência, as pessoas querem ter apartamentos bons e estão topando pagar por isso. Elas estão mais tranquilas com essa coisa de que economia do Brasil é cíclica, de que às vezes os juros vão lá para cima, às vezes vão lá para baixo. O que as pessoas querem é uma compra que vai trazer para elas uma boa vida. Tem a ver com comportamento do consumidor, mais do que com a conjectura econômica.
E o que isso significa?
A Lindenberg fez, em 2024, 70 anos. O nosso fundador, Adolpho Lindenberg, sempre disse que a escolha de um bom projeto começava por três fatores: localização, localização e localização. As pessoas querem estar perto do Parque Ibirapuera, do Clube Pinheiros, do Clube Sírio, de uma praça bem cuidada. Elas querem morar próximas de um lugar para o qual elas possam fugir. Então, quando você junta essa localização a um bom projeto, é sucesso.
E o que é esse bom projeto? Um apartamento de vários quartos?
Os projetos são um espelho de como a sociedade vive ou quer viver. Vou dar um exemplo que para gente foi bem marcante. Há alguns anos, entregamos um prédio no Itaim Bibi de 287 metros quadrados. Ele foi concebido para ter uma planta de quatro suítes e tinha uma planta opcional, que o cliente podia escolher, que era de três suítes, mas com espaços maiores. Dos 24 apartamentos, 22 pediram para ter três suítes. Então ficar atento para onde estão indo os gostos dos nossos clientes é muito importante, entender o que ele considera viver bem é fundamental. O que as pessoas querem agora é espaço. Lá no passado, a gente fazia apartamentos de 800, 900 metros quadrados, às vezes se falava em 48 cômodos, ou seja, era importante que fosse grande, que tivessem muitos cômodos. E hoje é o contrário. Uma planta de 230 metros, de 280 metros quadrados cabe perfeitamente no conceito de vida boa para uma família normal. Elas querem cômodos grandes e integrados. É claro, o projeto, o acabamento tem de ser maravilhoso. Você tem de ter uma arquitetura primorosa e você tem de pensar na funcionalidade da planta.
O que é essa funcionalidade?
Funcional é a palavra. Hoje em dia, por exemplo, todo mundo quer um carro elétrico, se já não tem. Então a gente coloca nos nossos empreendimentos carregador de carro elétrico. As pessoas pedem muito delivery, mas não querem descer para pegar a encomenda. Por segurança, o entregador não pode entrar. Então colocamos uma espécie de elevador só para cargas, que nem tinha em pizzarias antigamente, que a pizza descia da cozinha para o salão. E aí você não precisa sair do seu andar e ir até o térreo do prédio para pegar o que pediu no delivery.
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E os juros, eles atrapalham esse mercado?
A gente esperava que eles estivessem mais baixos, né? Mas para nosso cliente de altíssimo padrão, ele não pega dinheiro no banco para pagar o apartamento. Então, isso não afeta diretamente as vendas. Mas, por outro lado, quando ele tem a oportunidade de investir o dinheiro dele nessa alta taxa de juros, isso é uma coisa que atrapalha, porque às vezes ele deixa de comprar para manter os valores aplicados.
Há muitas outras empresas focadas nesse nicho de alto padrão. A competição é muito acirrada?
Existem três coisas que diferenciam um projeto de outro concorrente: localização, qualidade do projeto e tempo de obra. É muito difícil você ter o mesmo tempo de obra, a mesma localização e projetos semelhantes. Claro, em alguns bairros, na Zona Oeste, isso acontece. Então a gente prefere focar em outras áreas para que isso não ocorra.
E como está a questão dos custos de obra?
A mão de obra de um projeto de luxo é mais especializada. Por isso, às vezes, a gente enfrenta alguma escassez e isso aumenta o gasto com trabalhadores. Mas os custos estão muito mais aceitáveis agora que logo após a pandemia, quando houve um grande aumento no preço dos materiais.
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