‘Vou pegar meu recurso e tirar do País’, diz empresário que teve negócio desfeito com a Petrobras

Após estatal desistir de venda de refinaria para grupo privado Grepar, Clovis Greca, dono da empresa, afirma que governo não cumpriu contrato assinado por viés ideológico e que, agora, vai pedir indenização

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Foto do author Carlos Eduardo Valim
Atualização:
Foto: Acervo pessoal
Entrevista com Clovis Fernando GrecaControlador da Grepar

Controlador do grupo cearense Grepar, o empresário Clovis Fernando Greca promete brigar com a Petrobras na Justiça por uma indenização. No ano passado, sua empresa havia acertado a compra, por US$ 34 milhões (R$ 167,3 milhões), da Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor). Na segunda-feira, 27, a estatal anunciou que rescindiria o contrato, alegando que algumas condições precedentes para transferência do ativo não foram concluídas até o prazo final de 25 de novembro deste ano.

Em entrevista ao Estadão, o empresário critica o posicionamento da Petrobras, a qual, segundo ele, teria feito de tudo para que os prazos não fossem cumpridos. Segundo o empresário, a petrolífera “desistiu de fazer negócio”, desde quando o governo mudou.

Por meio de nota, a Petrobras alega que o contrato foi rescindido “em razão da ausência de cumprimento de condições precedentes nele estabelecidas até o prazo final definido em tal contrato (25/11/2023), em que pesem os melhores esforços empreendidos pela Petrobras para conclusão da transação”.

A Lubnor, que teve o contrato de venda desfeito pela Petrobras Foto: Divulgação/Agência Petrobras

Agora, com a frustração do processo, Greca avisa que não vai mais investir no Brasil. “Vou pegar o meu recurso e tirar do País”, afirma o empresário. “Vou investir em outros lugares, que queiram ter empresariado fazendo investimentos sérios.”

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A seguir, os principais trechos da entrevista.

A Petrobras alega que os prazos não foram cumpridos, apesar dos esforços dela. O que aconteceu?

Ela simplesmente desistiu. Desistiu de fazer negócio, de um contrato no qual não pode ter desistência. Ela não decidiu fazer isso agora. Decidiu quando um novo governo assumiu. O propósito era desfazer o contrato. O que o governo anterior fez, o atual quer desfazer. Não interessa se a coisa é boa ou não. Se a coisa está correta ou não. O viés ideológico é diferente. (O governo atual) é contra qualquer venda de qualquer ativo. Estamos num momento de Estado muito mais atuante na economia. Tudo contra esse sentido o governo não quer fazer. Por isso, a Petrobras desistiu de um contrato que não permitia a ela este poder.

Como ela conseguiu suspender o contrato?

Ela foi enrolando, criando desculpas, fingindo que estava avançando. O pessoal da Petrobras, de níveis inferiores, estava fazendo o que precisava acontecer. Mas a direção da empresa já havia decidido que não iria finalizar o negócio.

No contrato, não havia a possibilidade de desistência por nenhuma das partes?

Todos os contratos preveem condições precedentes, que cada parte precisa cumprir. São condições para quem está vendendo e para quem está comprando. E são estabelecidas as condições obrigatórias e outras das quais se pode abrir mão. Uma condição que eu tinha que atender era ter a compra aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), e isso aconteceu. Eu não podia abrir mão disso. Era obrigatório. Pelo lado da Petrobras, existia a condição de ela fazer os aportes dos ativos, de fazer a transferência de todos os imóveis para a nova empresa. Da parte da Grepar, cumprimos todas as condições que deveríamos completar. Restaram as condições que a Petrobras tinha de cumprir. Entre elas, estava a regulação fundiária da refinaria. Parte do terreno pertence ao município de Fortaleza. A Petrobras está lá instalada por que o município fez uma cessão gratuita para ela. Outra parte do terreno pertence à União, também com cessão gratuita. Então, ela tinha de transformar essas duas cessões gratuitas em onerosas. É um processo mais do que normal.

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Não havia nada que a Grepar poderia fazer para acelerar o processo?

A gente informou que queria receber a refinaria com o terreno regularizado, mas que, se não desse tempo de completar o processo, poderíamos assumir a responsabilidade de fazer isso depois de assumir a refinaria. Era uma obrigação precedente da qual eu poderia renunciar. Eu sempre acreditei que nunca alguém iria retirar uma refinaria instalada do local. Então, seria só uma questão de burocracia e de tempo para vencer essa questão. Como o prazo final estava chegando e notamos que a Petrobras estava enrolando e não avançando, percebemos que havia boi na linha. Então, a Grepar avisou para a Petrobras que abria mão das condições precedentes fundiárias. Ela poderia resolver todas as outras condições exclusivamente da responsabilidade dela, que não envolveria terceiros. A Petrobras respondeu que não poderia aceitar a renúncia das condições por que não poderia vender patrimônio que não era dela. Mas nós não estávamos pedindo para ela vender esses terrenos. Aceitávamos receber o imóvel da mesma forma com que a Petrobras ocupa o local. Ela foi me enrolando, deixou vencer o prazo e disse não reconhecer o meu direito de abrir mão dessa condição precedente. Como as condições não foram implementadas, o prazo venceu, ela pediu a rescisão do contrato. A Petrobras não poderia ter pedido isso por que quem deu causa ao atraso foi ela, e essas condições fundiárias não precisavam ser cumpridas. Existiam outras condições, sigilosas, que a própria Petrobras deveria ter realizado. Quem dá causa ao inadimplemento do contrato não pode pedir a rescisão.

A Grepar desistiu da compra da Lubnor?

Se não querem vender, eu também não quero comprar mais. Não tem problema. Vamos tomar as medidas jurídicas cabíveis. Se a Petrobras quiser voltar atrás, eu estou apto. Mas aí seria do desejo dela que eu assuma a refinaria, o que eu acho muito improvável.

Vocês vão pedir indenização pelo não cumprimento do contrato?

É um projeto com o qual estou há quatro anos envolvido. Em média, havia 50 pessoas trabalhando do nosso lado, nesse período. É uma unidade que dá prejuízo para a Petrobras, porque é muito pequena para ela. Representa 0,5% do seu refino. A Lubnor não refina gasolina ou diesel, mas sim petróleo para asfaltos. Proporcionalmente, a Lubnor representa pouco para a Petrobras. Ela não tem como administrar para que seja rentável. Para reverter isso, investimos em muito estudo. Estava previsto mais de US$ 100 milhões em investimentos. A gente ia aumentar a planta. A sociedade brasileira iria ganhar, assim como o setor de asfaltos. Todo mundo sairia ganhando. A gente perdeu muitas outras oportunidades como empresário. Eu estava focado nisso, eu tinha gente voltada para isso, e o meu recurso estava disponível para o projeto. Havia outros projetos em voga. Mas, a partir do momento que assinei uma carta com um contrato vinculante, e cumpri a minha parte, deixei de investir em inúmeros outros projetos. Com isso, acredito que a gente deva ser indenizado por todo esse prejuízo, por todo esse tempo de frustração, e pela perda de investimentos e oportunidades que tivemos.

Como empresário, a conclusão desse processo acabou sendo frustrante?

Eu me encaro exatamente como o empresário que o Brasil gostaria de ter. O próprio presidente Lula falou que quer o empresariado brasileiro com recurso e investindo em negócios, e fazendo o Brasil crescer. Eu me enxergo desse jeito. O meu investimento é próprio. Sou um empresário brasileiro tentando fazer o Brasil crescer. Mesmo assim, e, depois de tanta luta, o empresário sofre o que eu sofri. Isso mostra que o Brasil não é nem para o brasileiro, nem para o empresário brasileiro. Quem que o Brasil quer que invista aqui? Estou tentando tirar dinheiro do banco para colocar na indústria produtiva, mas não posso fazer isso por causa de um idealismo completamente equivocado.

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Os governos municipal e federal dificultaram a questão fundiária?

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Pelas dificuldades que tivemos, sim. Fizemos pedidos de regularização há muito tempo. Como são governos da mesma linha filosófica (Fortaleza é comandada por José Sarto, do PDT), nenhum deles quis deixar o processo avançar. A Prefeitura de Fortaleza, depois de muito esforço da nossa parte, concordou em fazer a venda (o Estadão procurou o governo local, mas não obteve resposta). O terreno da prefeitura eram antigas ruas desativadas. A gente propôs muitas coisas, como trocar isso por área contígua. Mas eles não queriam. A gente conseguiu uma resposta positiva apenas de fazer a compra das ruas. A gente compraria e pagaria muito caro por isso. Mas há uma burocracia e leva um tempo para concluir o processo. Já na União as dificuldades foram outras. Inclusive, parte das dificuldades foi criada pela própria Petrobras, para o processo não avançar na União.

A Grepar vai buscar outros investimentos?

Vou pender para não investir mais no Brasil. Vou pegar o meu recurso e tirar do Brasil. Vou investir em outros lugares, que queiram ter empresariado com investimentos sérios, de gente que quer construir algo. Infelizmente, o Brasil, em termos de amistosidade com o empresariado, está em fim de linha agora. O nosso viés não é político. O meu viés é de produtividade, de fazer a coisa com eficiência. Eu não tenho nenhum alinhamento político. Quero produzir, fazer as coisas da melhor forma possível.

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