O mercado imobiliário teve um desempenho acima do previsto neste ano, o que abre perspectivas positivas para o setor no ano que vem. A avaliação é de Flávio Amary, atual presidente da Federação Internacional Imobiliária (Fiabci) no Brasil e coordenador do setor de habitação no Grupo de Líderes Empresariais (Lide). Amary já presidiu o Sindicato da Habitação (Secovi-SP) e foi secretário estadual de Habitação no governo de João Doria.
“De maneira geral, 2023 já foi melhor do que nós esperávamos”, disse. Segundo ele, o ambiente de crescimento econômico do País ajudou o mercado como um todo nos últimos meses. O que falta, entretanto, é a queda nos juros do financiamento para incentivar mais as vendas de imóveis.
Durante o evento Lide Real Estate, realizado pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide) com o Grupo Estado, na quarta-feira, 13, ele também defendeu maior liberdade para a construção de prédios nas zonas centrais de São Paulo – tema que está em discussão na revisão da lei de zoneamento. Confira os principais trechos da entrevista:
Quais as perspectivas de lançamentos e vendas do mercado imobiliário em 2024?
De maneira geral, 2023 já foi melhor do que nós esperávamos. Vemos o País com crescimento econômico, inflação controlada e tendência de queda nas taxas básica de juros. O governo está preocupado em retomar o Minha Casa, Minha Vida, e as empresas estão preparadas para isso. Sem contar que os Estados estão acompanhando o programa do governo federal com programas próprios de subsídios para fomentar a aquisição de moradias. Temos aqui o Casa Paulista, por exemplo (o programa oferece entre R$ 10 mil a R$ 16 mil para famílias com renda de um a três salários mínimos adquirirem a casa própria). E nos segmentos imobiliários de médio e alto padrão também vemos grandes possibilidades de negócios, que se espalham por São Paulo e pelas cidades da macrometrópole. Isso inclui o mercado de loteamentos, que oferece mais qualidade de vida e tem perspectivas positivas.
O setor conta com financiamento suficiente para todas essas atividades?
Eu entendo que sim. Nós estamos vendo que as fontes variadas de funding estão crescendo, como são os casos das letras de crédito imobiliário, os certificados de recebíveis e os fundos. Elas estão atraindo mais recursos para os bancos concederem empréstimos. É importante discutirmos o orçamento do FGTS e o saldo da caderneta de poupança (que ainda são as principais fontes para financiar a compra e a construção de imóveis), mas também é importante destacar que as fontes alternativas estão crescendo na participação do crédito.
O juro alto está afetando as atividades do mercado?
Claro que tudo isso que estou falando passa por taxas de juros mais próximas da realidade do mercado imobiliário. É preciso ter taxas mais baixas para viabilizar a atividade do setor. O lado bom é que temos a perspectiva de que isso vai melhorar, porque temos um cenário de queda dos juros pela frente. Por outro lado, as pessoas que acompanham esse cenário mais de perto costumam esperar um pouco mais para encontrar juros menores e adquirir o imóvel. Nesses casos, vale lembrar que existe a opção de comprar o imóvel agora e buscar a portabilidade do financiamento quando os juros caírem lá na frente.
As novas regras do MCMV cortaram os juros do segmento, aumentaram os subsídios e ampliaram o limite de preços. Com o programa turbinado, podemos esperar que o segmento econômico seja uma espécie de locomotiva do mercado imobiliário em 2024?
Eu não gosto da palavra “locomotiva”. Mas, sim, concordo que o programa tem uma participação muito importante na produção imobiliária, na geração de emprego e renda do País. Onde tem produção de imóveis para pessoas de baixa renda, há menos favelização. Nas cidades com mais aprovações de empreendimentos, há menos pessoas morando em situações precárias. Eu espero que os entes da federação possam, de maneira unida, trabalhar para as cidades terem mais aprovações de empreendimentos imobiliários.
Falando em aprovação de projetos imobiliários, qual o balanço sobre a lei de zoneamento em São Paulo, aprovada em primeira votação na Câmara Municipal? (A votação definitiva está prevista para acontecer em 21 de dezembro)
O balanço é positivo, porque nós teremos uma regra mais clara. Mas estamos ainda longe de contar com um planejamento urbano que busque ter um adensamento mais profundo. Sem esse adensamento, a cidade vai se espraiando, as pessoas estão indo para moradias cada vez mais distantes da região central. Em outras cidades do mundo tem prédios de 30 a 40 andares, enquanto nós aqui estamos discutindo se pode ter prédio de 7 ou 8 em determinadas regiões. Com um gabarito nesse nível, a situação me preocupa. O adensamento permite redução de custos com infraestrutura, tem melhora na qualidade de vida, as pessoas perdem menos tempo com deslocamento e tem mais acessos a transporte. Ainda vejo com preocupação os problemas que o baixo adensamento vai continuar provocando em São Paulo no longo prazo.
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