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Petrobras negocia exploração na Namíbia; aquisição pode vir em três meses, diz diretor da estatal

Segundo ele, objetivo é sempre entrar em projetos em parcerias com outras companhias

Atualização:
Foto: PEDRO KIRILOS
Entrevista comJoelson Mendes Diretor de exploração e produção da Petrobras

HOUSTON - Pressionada pelo declínio inevitável do pré-sal na próxima década e por dificuldades de licenciamento para explorar novas fronteiras no País, a Petrobras vai intensificar a compra de ativos na África. No fim de 2023, a estatal fez uma primeira investida de retorno ao oeste africano, movimento antecipado pelo Estadão/Broadcast ainda em junho daquele ano: comprou participação relevante em três poços operados pela Shell em São Tomé e Príncipe. Agora, os alvos preferenciais são maiores.

Em entrevista exclusiva, o diretor de Exploração e Produção (E&P), Joelson Mendes, afirma que gostaria de levar a companhia aos litorais de Namíbia e África do Sul, que compartilham a Bacia do Orange, principal “hotspot” da exploração de óleo no mundo hoje.

A portuguesa Galp, por exemplo, busca um sócio para bloco exploratório na região que inclui o campo de Mopane, onde já anunciou descoberta. Shell e TotalEnergies também já descobriram petróleo na região. Novas aquisições da Petrobras nesse possível destino devem acontecer em dois ou três meses, disse Mendes.

O diretor, que comanda US$ 73 bilhões em volume de investimento previsto para o E&P da estatal até 2028, concedeu a entrevista durante a Conferência de Tecnologia Offshore (OTC), maior evento dessa indústria e que acontece todos os anos em Houston, nos Estados Unidos.

A seguir, os principais trechos da conversa:

A Petrobras voltou à África ao entrar nos blocos de São Tomé e Príncipe no fim de 2023. Há planos de diversificar no continente africano?

Sim. A gente fez uma fala pública sobre internacionalização (ao Estadão/Broadcast, em junho de 2023) porque sabíamos que isso abriria oportunidades. Várias empresas parceiras e vários países começaram a nos procurar, assim como a nossa própria equipe ficou liberada para olhar para fora do Brasil. Nós temos dados e estamos adquirindo mais deles, tanto da costa brasileira e da América Latina, quanto, principalmente, do Oeste da África. Temos várias conversas confidenciais em andamento.

Lá atrás, você chegou a falar em Nigéria, Angola e Namíbia. Qual é a área de maior interesse da Petrobras na África?

Hoje o que mais nos chama a atenção é a Namíbia. A grande novidade é a Bacia do Orange, principalmente nos litorais da Namíbia e da África do Sul. Nigéria continua no radar, mas lá já tem exploração há bastante tempo, assim como Angola.

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O senhor quer levar a Petrobras para a Namíbia?

Eu gostaria sim, porque é diferente do caso da Guiana, onde a grande oportunidade já foi, já está nas mãos de outros players. Na Bacia do Orange ainda há oportunidades em aberto.

O comunicado ao mercado sobre fechamento de negócio desse tipo ainda vai demorar?

Estamos trabalhando para ter alguma notícia nos próximos poucos meses.

Poucos meses são quantos meses?

Dois, três meses. Mas, veja, esse processo, além de ter uma governança técnica muito grande, precisa chegar muito redondo na diretoria e, depois, no Conselho de Administração.

As conversas que a Petrobras conduz com empresas e governos são para entrar na Bacia do Orange?

Sim, basicamente. É o que mais nos chama atenção hoje.

Quais empresas já exploram nessa região hoje?

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A Total está lá, a Galp está lá, a BP está um pouco para cima. A Shell também está lá (na Bacia do Orange). Está todo mundo lá.

Há conversas sobre outros lugares?

Sim, tem outros lugares um pouco acima que não fazem parte dessa bacia (do Orange). Os blocos em São Tomé e Príncipe também não fazem parte dessa bacia. A Bacia do Orange está sendo vista hoje mais ou menos como o bloco da Guiana estava sendo visto há alguns anos.

A Petrobras ainda pode tentar entrar na Guiana para repor reservas?

Não acho provável, porque as áreas que eles estão colocando para leilão hoje são áreas mais distantes (do bloco principal). Até agora, quando a gente olha para as oportunidades dessas áreas, os (parâmetros) econômicos não batem. Mesmo na fase exploratória, nossos geocientistas fazem muita conta. Eu não consigo aprovar um projeto de desenvolvimento da produção acima de US$ 45 por barril, que hoje é o nosso alvo. Na exploração, a gente usa esse mesmo parâmetro. Não perfuro um poço se ele não mostrar dados, fatores de chance, com hipóteses abaixo disso. Então, por enquanto, no que a gente olhou fora do bloco principal na Guiana (hoje da ExxonMobil), a conta não fecha. E acho improvável que quem já está com o filé mignon nos convide para a festa.

O que pode nos dizer sobre o bloco de São Tomé e Príncipe?

Lá em São Tomé (e Príncipe), a operadora é a Shell. A média de participação da Petrobras no consórcio dos três blocos é de quase 40%. É uma participação robusta em uma nova fronteira, área de risco exploratório alto, mas onde a gente está tendo um custo baixo para entrar. Nesse caso, o operador (Shell) faz o programa de trabalho e submete aos parceiros, que aprovam o orçamento.

A tendência para a África é a Petrobras entrar sempre com parceiros?

Sim, é o mais provável na maioria dos casos. E temos recebido propostas também para sermos os operadores, pela nossa expertise de operação. Então há estudos, conversas em andamento sob a hipótese de sermos os operadores. Hoje, o que a gente já avançou foi uma situação em que a gente não é operadora (São Tomé e Príncipe), mas isso não significa que será sempre assim. Na Colômbia, por exemplo, somos os operadores.

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