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Espírito Santo do Pinhal: preço de terrenos dispara na cidade com avanço da produção de vinho

Há cinco anos, um hectare de terra na cidade do interior paulista era vendido por R$ 50 mil; hoje, um terreno de mesmo tamanho chega a cerca de R$ 600 mil

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Foto do author Wesley Gonsalves
Atualização:

O avanço da cultura do vinho em Espírito Santo do Pinhal, a 190 km de São Paulo, desencadeou uma “corrida por terras” na pequena cidade localizada entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais.

Desde que a primeira vinícola, a Guaspari, se instalou na cidade, em 2001, e começou a produzir vinhos que se tornariam premiados mundo afora, espalhou-se a notícia de que a junção de características do solo pinhalense, do clima da região da Serra da Mantiqueira e a tecnologia da “dupla poda” eram propícias para a produção de uvas vinícolas. Assim, outros empresários começaram a olhar para terras locais em busca de espaços para plantação, e de olho também no crescimento do enoturismo - o turismo ligado ao vinho - na região.

Com a chegada de mais investidores à cidade de olho no potencial de produção dos vinhos finos na cidade, o preço das terras em Pinhal disparou na região Foto: Tiago Queiroz

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Diante do sucesso do “terroir pinhalense” - o conjunto de características do solo para o cultivo de uma cultura como a da uva -, o município tem atraído novos investimentos e visto o preço médio das suas terras disparar - sejam elas para o cultivo das uvas, para a construção de hotéis ou até a implantação de condomínios de alto padrão.

Esse movimento já atraiu nos últimos meses cerca de R$ 500 milhões em investimentos, segundo um mapeamento feito pelo município, a pedido do Estadão. A prefeitura municipal informou que, atualmente, a cidade possui 28 projetos de vinícolas em andamento, das quais nove delas já estão em fase de produção de vinhos.

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Pouco mais de cinco anos atrás era possível adquirir um hectare de terra na cidade por cerca de R$ 50 mil. Porém, dada a valorização do terreno, uma propriedade de mesmo tamanho pode variar hoje entre R$ 500 mil e R$ 600 mil a depender da altitude do terreno, nível de insolação durante o dia e até a localização próxima às terras de outras vinícolas.

Junção de características do solo pinhalense e da amplitude térmica local são propícias para o cultivo da uva, o que tem atraindo novo investidores para a cidade Foto: Tiago Queiroz

Em casos extremos, um hectare localizado entre as propriedades das vinícolas Vale dos Ventos e Guaspari já foi colocado à venda por nada menos que R$ 2,5 milhões, dado a sua localização classificada como “privilegiada”. A área, no entanto, ainda não foi vendida.

Na avaliação de Matheus Corte, gerente de novos negócios do Grupo ADN, o aumento dos preços de terrenos na região deve se manter pelos próximos anos, e até com possibilidade de futuras valorizações. Corte acredita que a chegada de mais empreendimentos deve pressionar ainda mais o custo total da terra no curto prazo. “É a lei da oferta e da procura. A partir do momento em que há uma alta de preços e mesmo assim continua havendo vendas contínuas, os preços tendem a aumentar ainda mais”, diz. “A região já está valorizada e, com mais negócios, automaticamente acontece esse aumento de preços.”

Empresários desembarcam na cidade

Com investimento em torno de R$ 30 milhões na cidade, Juliano Lourenço e Felipe Aversa fazem parte do grupo de empresários “forasteiros” que há pouco mais de um ano decidiu apostar no potencial do turismo pinhalense e adquirir 22 alqueires de terra montanhosas.

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Os empresários Juliano Lourenço e Felipe Aversa investiram cerca de R$ 30 milhões para adquirir uma propriedade na cidade, produzir vinho e café e construir um restaurante e um complexo de chalés Foto: Tiago Queiroz

A dupla, dona do Grupo Churrascada, se prepara para inaugurar em breve dois empreendimentos. O primeiro, um restaurante para cerca de 180 pessoas, especializado em churrasco e com experiências ligadas ao cultivo do café e da uva, que permitirá aos visitantes participar do processo de extração das bebidas, como a colheita das uvas, por exemplo.

O segundo é um núcleo de 10 chalés “premium”, às margens de uma das montanhas locais, no alto de Espírito Santo do Pinhal e de olho nos entusiastas do “glamping”, uma espécie de acampamento de luxo. “O nosso foco é gastronomia, experiência e hospedagem. Queremos trazer os consumidores para dentro do nosso empreendimento”, diz Lourenço.

O empresário adianta que a expectativa é de que os empreendimentos comecem a operar ainda em 2023, e no futuro, a ideia expandir os negócios, com mais chalés. “Nós precisamos validar essa primeira fase do empreendimento e fazê-lo dar retorno, mas esperamos ampliar em breve em mais 10 cabanas.”

Vinho, comida e hospedagem

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Para além das plantações com foco exclusivo na produção de vinhos, alguns empresários têm visto oportunidades que vão além das taças. Assim como a dupla Juliano e Felipe, o empresário João Detore espera surfar na onda de crescimento de Pinhal para instalar alguns empreendimentos, entre eles uma vinícola, um restaurante de inspiração na culinária portuguesa e até um hotel.

O empresário criou um fundo de investimento de R$ 30 milhões com 12 sócios - espalhados pelo País - que hoje detém um terreno de aproximadamente 23 hectares na cidade, onde foi instalada a vinícola Vale dos Ventos. Para os próximos oito anos, a expectativa é conseguir extrair da propriedade cerca de 120 mil garrafas de vinho, entre rótulos brancos, tintos e rosés. “Nós queremos oferecer a experiência completa, que o turista venha aqui, faça a ‘pisa’ da uva, compre as suas garrafas de vinho e se hospede conosco”, diz Detore.

O empresário João Detore é o responsável pela vinícola Vale dos Ventos e pela implementação da rede de hotéis Radisson na cidade; ao todo, empreendimentos somam mais de R$ 150 milhões para o município  Foto: Tiago Queiroz

Outro empreendimento tocado pelo empresário é um hotel em parceria com a rede hoteleira do Grupo Atlântica: nos próximos dois anos, a cidade ganhará uma unidade da bandeira Radisson, que terá quatro andares e 160 apartamentos no local. “Será um investimento de mais ou menos R$ 125 milhões. Serão 200 funcionários durante a obra e outros 200 funcionários já no período de operação”, conta.

A diretora de turismo do município, Loriane Salvi, conta que com a popularização da cidade e o crescimento do enoturismo, todos os dias novos empreendimentos começam a chegar à região. “Nós estamos fazendo um trabalho para encontrar e dialogar com o empresariado, para entender como o poder público pode auxiliar nesse processo de expansão da cidade”, diz.

Durante a visita da reportagem a Espírito Santo do Pinhal, a diretora foi surpreendida com a informação de que mais dois negócios teriam sido fechados na cidade. O primeiro, uma fazenda arrematada para a implantação de uma vinícola e o segundo, a construção de um condomínio de casas de alto padrão, que deve injetar cerca de R$ 180 milhões na cidade.

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