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Como a produção de vinho também impulsiona a cultura do café em Espírito Santo do Pinhal

Cidade no interior paulista vive momento de expansão com a cultura do vinho, mas cafeicultores aproveitam a onda para também expandir seus negócios investindo em produtos de qualidade e ‘experiências’

Foto do author Wesley Gonsalves
Atualização:

Antes mesmo de a primeira vinícola se instalar na cidade de Espírito Santo do Pinhal, a 190 km da capital paulista, a economia do município da região da Serra da Mantiqueira, na divisa com Minas Gerais, já tinha uma história de longa data ligada ao cultivo do café. Porém, essa cultura sempre esteve mais ligada a um contexto de exportação do que à exploração da bebida do ponto de vista turístico.

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Já no século XXI, com a chegada da cultura do vinho na região e o avanço do enoturismo - que atrai cada vez mais visitantes para o local-, o tradicional “cafezinho” pinhalense cresce a reboque, mas com algumas mudanças. Se os cafeicultores antes olhavam apenas para a exportação do produto como forma de ganhar dinheiro, agora veem nas ações ligadas ao turismo, às experiências da bebida e à gastronomia uma possibilidade de negócios extra.

”Muitas pessoas vêm conhecer a cidade por causa das vinícolas famosas, aí quando elas chegam aqui descobrem a importância do café na nossa história e querem aproveitar a qualidade da nossa bebida”, conta a diretora de turismo da cidade, Loriane Salvi. O movimento ligado ao vinho na cidade começou em 2001, com a chegada da hoje premiada vinícola Guaspari.

Conforme os registros históricos, entre as décadas de 1910 e 1920, a cidade viveu o auge da cafeicultura. Neste período, os produtores regionais atingiram recordes na produção do café, como lembra a professora Valéria Aparecida Rocha Torres, historiadora da cidade. “É no século XX que acontece o boom do café em Espírito Santo do Pinhal, quando a cidade tinha centenas de milhares de pés”, diz a pesquisadora.

Cafeicultura viveu o auge em Espírito Santo do Pinhal entre as décadas de 1910 e 1920, segundo historiadora Foto: Tiago Queiroz/Estadão

De acordo com a prefeitura de Espírito Santo do Pinhal, atualmente, a cidade possui cerca de 950 produtores do fruto registrados, dos quais muitos já possuem o selo de Indicação Geográfica (IG) -que garante ao consumidor que o produto comprado foi produzido especificamente na região, a exemplo de queijos italianos ou vinhos franceses.

Em alguns casos, além dos selos de qualidade e de títulos em competições internacionais de café, os produtores começam a ir além da bebida. Estão agora também nas “experiências”, buscando o exemplo do que tem sido feito no setor de vinhos.

Aumento na demanda

Thiago Palombo, dono da agência de turismo Tapu 4x4, conta que, ao longo dos últimos anos, os turistas que chegam à cidade buscam pelas vinícolas, mas também começam a procurar por outras atrações, o que abre espaço para o desenvolvimento do café. Entre experiências de café e vinho, Palombo comenta que oferece cerca de 20 roteiros aos seus clientes. “Nós começamos a oferecer esse tipo de serviço porque a demanda foi crescendo bastante”, diz.

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Andrea Squilace de Carvalho criou o roteiro "Do genoma à xícara" Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Se o vinho atrai investidores de fora para montar negócios na cidade, quando o assunto é café são os próprios pinhalenses que dão o pontapé inicial nesse mercado do turismo de experiência envolvendo a bebida. Uma dessas pinhalenses “da gema” que apostaram no segmento é a engenheira agrônoma e empresária do café Andrea Squilace de Carvalho. Filha de cafeicultores, ela desenvolveu uma das primeiras experiências turísticas da cidade envolvendo o café e a história local.

Por R$ 120, o turista passa algumas horas conhecendo a história pinhalense, seu passado ligado aos barões do café e a influência da cidade na história nacional, visitando de prédios centenários às lavouras de café. “É uma forma de manter a história do café viva, enquanto eu ensino todo o processo da semente até ele ficar pronto na xícara”, diz.

Além da agrônoma, outros empreendedores têm expandido as suas opções turísticas para receber os “café lovers” e “enolovers” que visitam a cidade. A proprietária do empreendimento Terras de Kuri, Raquel Pacagnella, é uma das entusiastas de ambas as bebidas. Dentista de formação, hoje ela se dedica ao negócio - junto do marido, o ex-executivo Fernando Mororo - de produção de cafés premium e a um serviço receptivo na propriedade, que proporciona degustações de cafés. “A roda de sabores e aromas do café é tão complexa, ou até mais, do que a do vinho”, diz.

Raquel Pacagnella e Fernando Mororo oferecem degustações de café em seu empreendimento Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Ainda em fase de implementação, os sócios do Rancho Churrascada, Juliano Lourenço e Felipe Aversa, também querem aproveitar a tradição pinhalense no cultivo do café dentro dos seus negócios. Depois de finalizar a implementação do restaurante e dos chalés no estilo “glamping”, a dupla espera produzir um rótulo próprio de café, que deve ser comercializado no local. “Nós teremos sete espécies do fruto, com uma delas sendo de um café naturalmente descafeinado. Nós não queremos ser uma vinícola, mas queremos ter um bom vinho e um bom café feito por nós mesmos para oferecer aos clientes, porque o nosso negócio é a experiência em torno dessas bebidas”, diz.

Foco na experiência

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Na avaliação da diretora de produtos não aéreos da Decolar, Daniela Araújo, o município passa por um momento crucial para desenvolver o seu setor de turismo, que foi “reacendido” com a chegada das vinícolas.

Ela acredita que o sucesso ou a estagnação do segmento na região dependerá dos investimentos nos serviços de recepção aos visitantes, o que costuma ser, na sua opinião, um dos principais gargalos de crescimento enfrentados por cidades que buscam se destacar turisticamente.

“Em termos gerais, esses negócios precisam focar na experiência do consumidor, que tem uma expectativa alta”, diz. “Porque, na realidade, esse destino também estará competindo com uma cidade como Mendoza (na Argentina), que está a pouco mais de 2h de voo. Como se destacar? É com experiência de qualidade”, diz.

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