A questão ambiental, uma exigência cada vez maior dentro das empresas de todo o mundo, pode elevar uma startup brasileira ao status de “unicórnio” (empresas iniciantes com valor de mercado de mais de US$ 1 bilhão) ainda este ano. Com foco em ajudar as empresas a atingirem suas metas de reciclagem, a eureciclo, criada no fim de 2016 por Thiago Carvalho Pinto, trabalha no momento com um único produto, conhecido como crédito de reciclagem, na mesma lógica de compensação ambiental do crédito de carbono.
A startup desenvolveu uma plataforma para rastrear o lixo, por enquanto voltada às embalagens de plástico, papel, metais e vidros descartados pelo consumidor final. Já recebeu investimentos de R$ 130 milhões e hoje tem 7 mil clientes - entre eles empresas do porte de BRF, Gol, Coca-Cola, Pepsico e Natura -, para os quais fornece certificados de compensação.
A empresa opera em parceria com 26 mil operadores de mais de 200 cooperativas da cadeia de reciclagem, entre coletores, segregadores ou triadores e transformadores.
“A eureciclo já rastreou um terço da base do lixo brasileiro”, conta Carvalho Pinto. “Nós sabemos onde vai parar o seu lixo”, brinca ele. Com base nos dados obtidos, a empresa consegue certificar, por exemplo, que uma tonelada de embalagens plásticas foi coletada, triada e reciclada e emite os certificados que são vendidos para produtores demonstrarem aos órgãos fiscalizadores que estão cumprindo suas metas de reciclagem.
Até 2023, a legislação brasileira estabelecia que 22% das embalagens que cada marca coloca no mercado têm de ser reciclada, porcentual que aumentou para 30% neste ano. Só com essa mudança a eureciclo já deve ter um aumento de atividade, ainda que a economia como um todo não avance tanto. Também deverá ampliar o quadro de funcionários. Com sede no Rio, emprega 150 pessoas no Brasil e 20 no Chile, onde começará a fornecer créditos de reciclagem neste ano.
Com o aumento da meta de 22% para 30% de reciclagem, a startup avalia fomentar novas cadeias. Pretende atuar, por exemplo, também no setor de rejeitos industriais e ampliar o portfólio de produtos para medicamentos e aerossol.
Rentável desde os dois primeiros anos de atividade, Carvalho Pinto admite sonhar em ver a eureciclo chegar a unicórnio, mas lembra da metáfora do camelo, que é um animal resiliente. “A gente torce para ser unicórnio, mas se prepara para ser camelo.”
Retomada do mercado
A eureciclo faz parte do grupo de startups apontadas como candidatas a unicórnio este ano, junto com a Agrotools, do setor agrícola, e outras quatro ligadas ao setor financeiro: Asaas, idwall, Parfin e QI Tech (veja aqui).
O número de startups “bilionárias” no Brasil teve um forte recuo desde o recorde de 2021, quando 11 empresas entraram nesse grupo. Em 2022 foram duas, e, no ano passado, apenas uma (a Pismo, do setor financeiro, comprada pela Visa).
O Brasil tem atualmente 26 unicórnios, de acordo com a plataforma Sling Hub. A primeira a entrar para essa categoria especial foi a 99, em 2018, seguida por Nubank e iFood. Ao todo, há cerca de 14 mil startups no País, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups).
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.