Os investidores podem respirar aliviados. Pelo menos por enquanto, a Evergrande evitou o calote depois de fazer um importante pagamento de juros de última hora. A crise de caixa da incorporadora imobiliária chinesa provocou temores sobre as consequências financeiras globais de seu colapso.
O jornal Securities Times, controlado pelo governo chinês, publicou ontem que a Evergrande transferiu um pagamento de US$ 83,5 milhões para os detentores de títulos, na véspera do fim de um período de carência de 30 dias, retirando a empresa da iminência de um dos maiores calotes da história.
A notícia foi recebida com otimismo cauteloso pelo mercado, com as perspectivas de longo prazo da Evergrande pouco claras. A empresa ainda tem dívidas de US$ 300 bilhões, cerca de 2% do produto interno bruto da China. As ações da Evergrande fecharam em alta de 4,3% em Hong Kong.
“Embora seja obviamente um passo positivo, as pessoas querem ver um plano viável para o próximo pagamento”, disse Scott Mollen, sócio da Herrick Feinstein, escritório de advocacia com sede em Nova York que representa algumas empresas imobiliárias chinesas. “As questões fundamentais permanecem e precisam ser resolvidas.”
Intervenção
Pequim tem tentado tranquilizar o público nesta semana, com autoridades seniores vindo a público para dizer que o risco de contágio era controlável. O vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, e o governador do banco central do país, Yi Gang, estavam entre aqueles que se dirigiram a Evergrande, em um raro caso em que vários líderes chineses discutiram publicamente a situação difícil de uma única empresa.
“Acho que, no geral, o risco da Evergrande é um caso isolado”, disse Yi, na quarta-feira, no anual Seminário Bancário Internacional do G30. “Primeiro, vamos tentar impedir o contágio de outras empresas do setor imobiliário. Depois, evitaremos o contágio de outras partes do setor financeiro.”
A Evergrande, fundada em 1996, teve seu auge durante o boom imobiliário da China, ao mesmo tempo em que acumulava uma montanha de dívidas. Seu fundador, Xu Jiayin, tornou-se o empresário mais rico da China em 2017, e a Evergrande, a empresa imobiliária mais valiosa do mundo em 2018.
A reportagem do Securities Times de ontem não disse como a Evergrande financiou o pagamento dos juros ou se houve intervenção do governo. A incorporadora chinesa não respondeu às solicitações de comentário. Os analistas já haviam minimizado a ideia de que Pequim interviria, dizendo que o colapso da Evergrande serviria como um aviso para outras empresas endividadas. /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
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