Flow tenta encontrar novas fontes de receitas para ‘ressuscitar’ após polêmica

Após cofundador ter defendido a criação de um partido nazista no ar, rede de podcasts viu sua receita cair a zero após YouTube proibir monetização do canal; empresa busca profissionalização com novo executivo

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Foto do author Lucas Agrela
Atualização:

Os Estúdios Flow levaram um golpe duro nos negócios em 2022. No começo do ano, o apresentador Monark (Bruno Aiub), cofundador da empresa de podcasts, defendeu a criação de um partido nazista durante um debate ao vivo – polêmica em que resultou em sua saída do negócio. No entanto, mesmo após essa decisão, os canais da empresa no YouTube deixaram de ser rentabilizados pela plataforma por cerca de dois meses, o que colocou o futuro da companhia em risco.

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Igor Coelho, mais conhecido como Igor 3K, é o cofundador e apresentador que, em cinco anos, transformou o Flow de um pequeno estúdio em Curitiba ao status de líder na produção de podcasts no País. À época da crise, Coelho negou que o parceiro de trabalho fosse nazista, mesmo após ele ter defendido a existência de um partido dessa ideologia reconhecido por lei, durante um debate com os deputados federais Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (MBL).

Após o episódio, Coelho se desculpou com o público e conduziu um podcast com o professor André Lajst, judeu e especializado em ciência política. Além disso, em algumas ocasiões, recrutou nomes do jornalismo profissional, como Marcelo Tas e Carlos Tramontina, como participantes de seus debates.

Andre Gaigher e Igor Coelho (Igor 3K); os dois tocam o negócio após a saída de Monark.  Foto: Taba Benedicto/Estadão

No entanto, ele reforça que pretende manter a autenticidade durante as transmissões ao vivo. “Meu negócio é falar a verdade e ser contundente, às vezes. Já tivemos casos de episódios em que o nosso advogado implorou para desmarcar. Mas se chegarmos a um ponto em que eu não possa falar o que eu quero, eu vou dirigir Uber. Porque aí acabou”, afirma.

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Se chegarmos a um ponto em que eu não possa falar o que eu quero, eu vou dirigir Uber.”

Igor 3K

Ano da profissionalização

Além da crise de reputação, o ano de 2022 também foi marcado pela profissionalização da empresa, após a chegada do CEO Andre Gaigher, em meados de 2021. Com passagens por multinacionais, como a Uber, L’Oréal e P&G, o executivo já estava à frente da companhia quando a polêmica com Monark causou o fim de contratos com patrocinadores e a interrupção da receita do YouTube.

Junto a Coelho, o CEO optou por reduzir temporariamente os salários de funcionários e a fazer pequenos cortes na equipe até que os recursos do YouTube retornassem. A medida foi tomada, em vez de uma demissão em massa, para preservar o que tinha sido construído, segundo Gaigher.

Com canais diferentes na grade, como Ciência Sem Fim, Amplifica, Vênus, Flow Sport Club e Flow Games, a empresa busca reforçar o faturamento com anunciantes, clube de membros e novos projetos de conteúdo. Além disso, diz estar aberta a todos os tipos de ideologia. “Esperamos que Lula e Bolsonaro venham aqui ter conversas abertas. Com o novo formato do Flow, queremos que as pessoas venham menos armadas para os episódios”, diz Gaigher.

Renascimento das cinzas

Para Marcelo Tripoli, fundador da consultoria digital Zmes, devido ao alcance da empresa nas redes sociais, o Flow não deveria mais usar a abordagem de uma conversa de bar, como a companhia sempre classificou seus podcasts. Mesmo assim, Tripoli vê que o Flow tem chances de sair mais forte da crise de reputação iniciada no começo do ano.

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“A Karol Conká saiu com uma das maiores rejeições do “BBB”, mas fez um bom trabalho de reconstrução e conseguiu se recuperar. Ainda que o contexto seja diferente, são cancelamentos que levaram a um ressurgimento. Mas é um erro se apoiar apenas de um terceiro, o YouTube. Você fica muito exposto ao risco. Não é saudável para nenhuma estratégia empresarial”, diz. Tripoli sugere clubes de assinatura e merchandising como forma de diversificação nos negócios para influenciadores digitais.

Para o CEO do Flow, as aquisições de programas de terceiros não são o foco para expansão dos negócios. Em vez disso, a empresa prefere desenvolver projetos dentro de casa, mesmo aqueles que nasceram fora das paredes do seu estúdio. “Fornecemos a eles o que for necessário, ficamos com um porcentual e deixamos que toquem seus negócios”, afirma.

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