São Paulo - A Flybondi, aérea low cost argentina que já opera voos do seu país de origem para o Brasil, tem flertado com o mercado local. No entanto, os altos índices de judicialização por aqui deixam a companhia receosa de levar esse plano adiante, segundo o CEO, Mauricio Sana.
O executivo considera que o forte potencial do Brasil, que inclui o tamanho da população e as grandes distâncias, acaba ficando em segundo plano. “É um mercado atrativo para qualquer operadora, mas temos fortes barreiras de entrada”, diz Sana.
A maior delas é o alto número de processos judiciais movidos por passageiros contra as aéreas. Para o executivo, isso elimina a possibilidade da Flybondi operar domesticamente no Brasil, já que a proposta da companhia é oferecer preços mais competitivos, o que se torna inviável quando o risco operacional é muito grande.
Ainda de acordo com Sana, a aérea argentina tem buscado dialogar com as autoridades brasileiras para reduzir os níveis de judicialização. “Só podemos planejar uma entrada doméstica no Brasil se houver alguma flexibilização e um melhora no entendimento jurídico”, afirma.
O CEO da Flybondi avalia que as autoridades brasileiras estão dispostas a dialogar sobre o assunto, já que é do interesse do governo criar condições para que as viagens aéreas se tornem mais acessíveis.
Na última semana, Sana se reuniu com o secretário Nacional de Aviação Civil do Ministério de Portos e Aeroportos (MPOR), Juliano Noman, e o diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Ricardo Catanant, para reafirmar o interesse em operar voos domésticos no Brasil. O encontro aconteceu no México, durante a conferência da Associação Latino-americana e do Caribe de Transporte (Alta).
Em agendas recentes, o ministro e Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, reforçou que a pasta tem aberto diálogo para atrair empresas low cost para o Brasil.
Novas rotas
Enquanto isso, o plano da companhia, segunda maior do mercado argentino, com 20% de participação no mercado de lá, é ampliar as rotas entre os dois países. Atualmente, a Flybondi opera mais de 20 voos semanais com viagens de Buenos Aires para São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis.
A aérea tem uma participação de mercado de cerca de 5% nos voos entre Brasil e Argentina. No trecho entre Buenos Aires e Rio de Janeiro, o número sobe para 30%.
“Os números são muito satisfatórios, com altas taxas de ocupação, e nos fazem pensar em ampliar rotas e aumentar a frequência de voos”, diz Sana.
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A Flybondi espera oferecer novas rotas a partir do primeiro trimestre de 2024. Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília podem ser alguns dos destinos brasileiros adicionados ao itinerário da companhia no próximo ano.
A empresa tem uma frota de 15 aviões Boeing 737-800 NG com 189 assentos de classe única. Na Argentina, voa para 17 destinos: Buenos Aires, Bariloche, Corrientes, Córdoba, Comodoro Rivadavia, El Calafate, Jujuy, Mendoza, Neuquén, Posadas, Iguazú, Salta, Santiago del Estero, Trelew, Tucumán, Puerto Madryn e Ushuaia.
Nasdaq
Recentemente, a Flybondi deu início ao processo de listagem na Nasdaq, em Nova York. Os trâmites devem ser concluídos até o final do primeiro semestre de 2024.
De acordo com Sana, o processo de IPO não tem a ver com necessidade de capital ou mudança de investidores, mas sim com um planejamento de longo prazo.
“Não podemos esperar ter necessidade de capital primeiro para depois iniciar os trâmites. Estamos deixando tudo pronto para se em algum momento esse dia chegar”, afirma o CEO da Flybondi.
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