Maior geradora privada do Brasil e sócia majoritária da Hidrelétrica Jirau, no rio Madeira (RO), a antiga GDF Suez passa por intensa reestruturação: mudou seu nome (agora se chama Engie) e o foco dos negócios. Conhecida por estar à frente de grandes empreendimentos, a empresa franco-belga vai ampliar sua participação em projetos alinhados com o movimento global de transição energética – que é o abandono da produção de energia a partir de combustíveis fósseis. Para isso, pretende investir R$ 8 bilhões nos próximos cinco anos no País.
Sem grandes projetos hidrelétricos à vista, o grupo – controlador da Tractebel Energia e que faturou no ano passado R$ 7 bilhões – decidiu mirar a geração distribuída, que envolve mais inovação e tecnologia. Nesse tipo de projeto, a produção elétrica, geralmente por meio de painéis solares, é feita no local de consumo, seja numa residência, estabelecimento comercial ou indústria.
Parte da ampliação desses negócios deve ocorrer por meio de aquisições de empresas especializadas na área, que têm crescido exponencialmente desde 2015 por causa de mudanças na legislação. Em abril, o grupo comprou 50% do capital da Brasil Energia Solar, do Grupo Araxá, um dos líderes no mercado brasileiro de geração distribuída. “Teremos uma divisão solar dentro da Engie para tratar tanto dos projetos grandes, acima de 30 MW, como da geração distribuída, de pequeno porte”, afirma o presidente da Engie no Brasil, Maurício Bahr.
No ano passado, a Tractebel – empresa de geração do grupo que agora passa a se chamar Engie Brasil Energia – vendeu parte de um projeto solar em leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Com 36,7 MW, o empreendimento será levantado no Rio Grande do Norte, por R$ 220 milhões. “Estamos vivendo um momento diferente, de uma evolução de grandes estruturas para coisas mais descentralizadas”, afirma Bahr. Por isso, a ordem daqui para frente é não aumentar a geração de energia com combustíveis fósseis (exceto o gás).
O grupo tem duas usinas a carvão em operação, de 900 megawatts (MW), e uma em construção, de 340 MW. “Vamos fazer um plano de saída dessas fontes, seja por meio de venda ou desativação.” Bahr afirma que a usina Charqueada, de 36 MW, deverá ser desativada no fim do ano. “Hoje, as pessoas querem saber de onde vem e como é produzida a energia que consomem. E isso tem sensibilizado a empresa.” A Engie tem 24 unidades de negócios no mundo inteiro, sendo que apenas Brasil e China reportam diretamente à matriz.
Os R$ 8 bilhões de investimentos previstos no orçamento para o Brasil nos próximos cinco anos serão aplicados na geração distribuída – que cresceu cinco vezes nos últimos 12 meses no País –, em usinas eólicas e solar. Esse montante inclui os projetos em andamento (424,9 MW de energia eólica no Sul e Nordeste do País) e novos empreendimentos que estão em fase de estudos.
Serviços. Outra aposta da companhia é a área de serviços para cidades inteligentes. “Estamos de olho em tudo que possa melhorar a vida das pessoas, da iluminação pública à mobilidade urbana”, diz Bahr. Desde 2011, o grupo tem conseguido novos contratos, com a aquisição da Telca 2000, uma empresa de desenvolvimento de novas tecnologias da informação para os sistemas de telecomunicações e segurança para a indústria de petróleo e gás, áreas sensíveis (como minas, portos e siderúrgicas), cidades e controle de tráfego aéreo.
Essa divisão da Engie acaba de assinar convênio para fornecimento de energia renovável para o VLT do Rio e fechou contrato com a Prefeitura de Niterói para operar o centro de Controle de Operações. Cerca de 190 controladores inteligentes serão instalados para sincronizar o tráfego de veículos na cidade (a empresa já faz a gestão de tráfego do Rio).
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