Kabum x Magalu: fundadores entram com pedido de arbitragem para reverter negócio com a varejista

Irmãos Leandro e Thiago Ramos tentam garantir valores inicialmente negociados, que giravam em torno de R$ 3,5 bilhões; site foi vendido por R$ 1 bilhão em 2021

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Foto do author Wesley Gonsalves
Atualização:

O imbróglio envolvendo a compra do e-commerce especializado em tecnologia Kabum! pelo Magazine Luíza ganhou mais um capítulo. Os fundadores do site, Leandro e Thiago Ramos, acionaram a Câmara de Comércio Brasil-Canadá para pedir a abertura de um processo de arbitragem contra a varejista. Eles buscam desfazer o negócio bilionário.

O embate envolvendo os irmãos Ramos e a varejista ganhou os noticiários em fevereiro deste ano. Leandro e Thiago foram à Justiça para pedir a produção antecipada de provas contra o Itaú BBA, responsável pelo processo de venda do e-commerce, acusando o banco de investimentos e o executivo da área de fusões e aquisições que os assessorava, Ubiratan Machado, de terem favorecido o Magazine Luiza no processo.

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No pedido à câmara, a dupla apresenta opções que vão desde a anulação do acordo que firmou a venda do site até a indenização por parte do Magalu. A expectativa deles é conseguir garantir os valores inicialmente negociados, que giravam em torno de R$ 3,5 bilhões.

O processo de arbitragem é uma possibilidade firmada em contratos de negócios, como na aquisição do Kabum pelo Magalu, em que a Câmara tem o poder de analisar possíveis conflitos e divergências entre as partes, sem que o caso seja avaliado pelo Poder Judiciário. Este tipo de instrumento legal é comum em negócios por viabilizar uma análise mais rápida do que o que ocorreria via uma Corte judicial.

Questionado sobre o caso, o Itaú BBA afirmou que todas as acusações imputadas ao banco são absolutamente inverídicas. “O Itaú BBA esclarece que a venda da empresa à varejista foi concluída após um processo competitivo, diligente e transparente, conduzido por um time de executivos ao longo de mais de 18 meses, e para o qual foram convidados mais de 20 potenciais compradores, nacionais e estrangeiros”, diz em nota.

Thiago Ramos e Leandro Ramos, donos do e-commerce KaBum Foto: Divulgação / Kabum

Ainda sobre as acusações de favorecimento da varejista, o banco de investimentos afirmou que as alegações são “ainda mais descabidas quando colocam suspeita sobre a parceria mantida há anos entre o Itaú e o Magalu e a participação do presidente da varejista no conselho de administração da instituição financeira”. “Ambos são fatos públicos e notórios, de total conhecimento não apenas dos antigos acionistas do Kabum, mas do público em geral”, afirma o banco.

Queda no preço das ações teria iniciado crise

Depois de quase dois anos negociando com diversos possíveis compradores, em julho de 2021 os irmãos Ramos venderam o e-commerce de tecnologia para o Magalu por R$ 1 bilhão à vista, em dinheiro.

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O valor final do negócio poderia chegar a R$ 3,5 bilhões, já que parte do pagamento seria feito, em parcelas, com ações da varejista na Bolsa, a depender do desempenho do faturamento da companhia nos anos seguintes.

Assim, os irmãos Ramos ainda terão a receber aproximadamente 125 milhões de ações para atingir o montante de R$ 2,5 bilhões da compra do site. À época do negócio, as ações do Magalu eram negociadas por volta de R$ 23,90. Conforme apurou a reportagem, o preço negociado por ação no momento da venda do site teria sido entre R$ 20 e R$ 21 por unidade, o que garantiria o valor final de R$ 3,5 bilhões para os irmãos Ramos.

Em uma troca de mensagem entre os irmãos e o assessor do Itaú BBA, a qual o Estadão teve acesso, Thiago fala sobre a intenção de que as ações do Magalu se valorizassem até chegar em R$ 40, o que aumentaria o valor final da compra pelo Kabum. “Vamos aproveitar que ficamos um ano travados em casa, já tiramos nossas férias dos próximos dois anos. Agora é fazer a ação do Magalu bater R$ 40″, escreveu o fundador em um aplicativo de mensagem.

Segundo pessoas ouvidas pelo Estadão, o descontentamento de Thiago e Leandro com o negócio teria começado diante da queda expressiva no valor das ações do Magalu na Bolsa de Valores. A ação movida pelos advogados de defesa dos fundadores do Kabum foi apresentada à Justiça logo após o pagamento da segunda parcela da quantia em dinheiro, em fevereiro deste ano.

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Porém, em menos de seis meses, o preço dos papéis da varejista “derreteram” na Bolsa diante de uma série de fatores macroeconômicos e problemas ligados ao setor de varejo. Com isso, a ação do Magalu que era negociada acima de R$ 20 em julho chegou a ser vendida por R$ 7,22 em dezembro do mesmo ano.

Considerando o montante de ações a receber pelos fundadores e o valor do papel negociado no mercado de capitais à véspera da primeira movimentação judicial, o valor final a receber por Thiago e Leandro despencaria de R$ 3,5 bilhões, para R$ 1,5 bilhão, somando a entrada de aproximadamente R$ 450 milhões pelos papéis da varejista, negociados na ocasião a R$ 3,61.

Sobre a ação na Câmara de Comércio Brasil Canadá, em nota, Thiago e Leandro afirmaram que Ubiratan Machado, do Itaú BBA, é cunhado de Frederico Trajano, atual presidente do Magalu. De acordo com a defesa dos fundadores do Kabum, a relação entre os dois executivos não teria sido revelada durante as negociações que resultaram na aquisição do e-commerce.

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Ainda conforme o posicionamento, Thiago e Leandro teriam sido “traídos pelo assessor financeiro” a quem teriam confiado na negociação de venda do site de vendas que teria “agido em conluio com o Magazine Luiza”.

Questionada, o Magalu não respondeu até o momento desta publicação.

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