Gafisa traz criador do Cidade Matarazzo para o Allard Oscar Freire, prédio de R$ 800 milhões

Empreendimento de 33 andares e mais de 100 metros de altura nos Jardins consolida o posicionamento da Gafisa no mercado de altíssimo luxo e lança a marca Allard

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Foto do author Cristiane Barbieri
Atualização:

“As construtoras e incorporadoras medem seus modelos econômicos por coisas muito chatas, como VGV (valor geral de vendas) e preço por metro quadrado”, diz Alex Allard, idealizador do complexo Cidade Matarazzo, fazendo um muxoxo. “Só que vendemos segundos de vida, pelos quais qualquer um pagaria o valor que fosse pedido, se isso fosse possível.” É com esse raciocínio totalmente fora das planilhas de contabilidade, com cara de gente rica, que ele fala de seu mais novo desafio feito para a Gafisa: o Allard Oscar Freire.

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Localizado num terreno de 2 mil m² na Oscar Freire com a Consolação, nos Jardins, o empreendimento de 33 andares e mais de 100 metros de altura traz dois marcos importantes. Consolida o posicionamento da Gafisa no mercado de altíssimo luxo e o lançamento da marca Allard, que trará a linguagem já vista no Cidade Matarazzo, onde ficam o hotel Rosewood e centro cultural Casa Bradesco, atualmente com uma exposição de Anish Kapoor, entre outros espaços. A assinatura Allard inclui brasilidade, regeneração do espaço físico e integração com a natureza.

O lançamento também traz a “chatice” do que pode vir a ser um dos preços por metro quadrado mais caros da cidade — que as empresas não divulgam, bem como o valor dos apartamentos. O VGV do empreendimento é estimado em R$ 800 milhões. Como referência, o preço dos apartamentos no prédio residencial de luxo do Cidade Matarazzo saía por R$ 85 mil o m², há dois anos.

O projeto do Allard Oscar Freire vem envolvido no conceito de 'floresta vertical' Foto: Reprodução

Isso porque o alto luxo do Allard Oscar Freire nasce a partir da concepção do que ele chama de “ressignificação” das experiências dos consumidores. Entre outras coisas, isso envolve o projeto desenhado pelo arquiteto Arthur Casas, paisagismo de Benedito Abbud, com os primeiros oito andares abertos ao público. Lá, funcionarão padarias e lojas, restaurantes, um centro de longevidade e saúde, uma área de eventos e muita arte brasileira, com curadoria de Marc Potier. “Por isso é um modelo econômico complicado: são oito andares dedicados à vida”, afirma Allard, que se recusa a falar de qualquer cifra.

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‘Floresta vertical’

O projeto também vem envolvido no que ele chama de “floresta vertical” — e que se tornou sua marca nas construções do Cidade Matarazzo. Com a curadoria de design pensada nos mínimos detalhes e onde nada é trivial — como a garagem que no Rosewood começa em uma biblioteca na frente do lobby principal —, o novo empreendimento também pretende surpreender.

Além da área aberta ao público que planeja se integrar aos pedestres da Oscar Freire, o prédio terá 17 apartamentos de 430 m², a partir do 9º andar. Terá ainda dois duplex, com 770m² cada. E a cobertura triplex, com quase 1,3 mil m². Sua construção deve ter emissões negativas de carbono. Se o preço médio de R$ 85 mil por m² for mantido, o apartamento menor custaria mais de R$ 36,5 milhões.

Para Allard, não há contradição entre erguer um prédio tão alto, numa região marcada por empreendimentos menores, e o conceito de regeneração que ele defende. “Temos de resgatar a natureza na cidade e não mandar as pessoas irem viver onde ela está intacta”, diz ele.

Nova estratégia da Gafisa

Já a migração da Gafisa, do empresário Nelson Tanure, ao segmento de altíssimo luxo começou há cerca de cinco anos, após uma pesquisa que constatou a demanda crescente no segmento — e a falta de fornecedores desse padrão. “Vimos, não apenas no setor imobiliário, que havia um público de alta renda com mais referências em ascensão e que não encontrava no País o que vê lá fora”, diz Luis Fernando Ortiz, vice-presidente da incorporadora. “É mais do que design de interiores: trazemos um produto pensado nos mínimos detalhes desde o projeto arquitetônico.”

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Com isso, a Gafisa pretende tornar-se uma empresa mais resiliente e com melhor resultado de margem. A incorporadora, que chegou a ter receita líquida de R$ 2,3 bilhões em 2015, encerrou o ano passado com R$ 1,1 bilhão e prejuízo de R$ 195 milhões. No ano, os papéis da empresa tiveram desvalorização de 83%.

“Esse segmento tem mais flexibilidade, margem melhor e ficamos mais propensos a não sermos impactados por fatores externos”, afirma Sheyla Resende, CEO da Gafisa. “Foi um trabalho extenso, e passamos os últimos anos para aculturar o time e todos os processos ao alto padrão.”

Ao desenhar a estratégia, a Gafisa se aproximou de Allard. Investiu em algumas unidades do complexo Cidade Matarazzo, no que dizem ser um aprendizado que já dura quatro anos. Segundo Resende, a incorporadora está preparada financeiramente para o projeto. Não foram fornecidas, no entanto, informações detalhadas sobre o investimento, financiamento ou o modelo de negócios.

Detalhe do projeto do Allard Oscar Freire Foto: Reprodução

Allard, por sua vez, diz ter postergado o lançamento de sua própria marca por pelo menos 15 anos e agora chega com a ambição de nada menos do que “criar ‘a’ marca de luxo do Sul global”. “O hemisfério Norte, que liderou por décadas a cultura do mundo, não tem nada tão novo e potente quanto o que emerge do Sul em termos de música, pintura e gastronomia, numa força pronta para ser lapidada”, diz ele. “Vamos fazer disso um projeto de altíssima costura.”

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Sem entrar em nada tão mundano quanto valores, ele diz que seu grupo cresce com o novo negócio. Segundo Allard, deve passar de 4 mil funcionários, no fim de 2025, para 20 mil, num período de cinco anos. Ele diz ainda que já há outros projetos a serem desenvolvidos com sua marca, que ele prefere não detalhar.

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