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Gafisa volta a ter comando único após três anos sem CEO

Todas as áreas da empresa vão responder diretamente ao novo presidente executivo Henrique Blecher

Foto do author Circe Bonatelli
Foto do author Gabriel Baldocchi
Atualização:

A chegada do empresário Henrique Blecher em setembro para comandar a Gafisa marca o fim de um período de três anos em que a incorporadora atuou sem a figura de um chief executive officer, o CEO, figura comum em qualquer companhia de capital aberto. Agora, Blecher fará o papel do bom e velho comandante geral que toca o barco, encerrando a operação da companhia no formato de holding, com negócios separados e liderados por executivos distintos com status de presidente.

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Todas as áreas vão responder diretamente ao novo presidente executivo. A proposta de unificação partiu do próprio recém-chegado. “Para eu poder trabalhar era preciso ter carta branca”, disse Blecher, em entrevista ao Broadcast.

A Gafisa tinha cinco áreas de negócios: Construção e Incorporação; Rio de Janeiro (para empreendimentos na capital fluminense); Capital (operações de financiamentos para o grupo); Viver Bem (marketplace de serviços imobiliários) e Propriedades (para compra, administração e comercialização de imóveis comerciais visando renda recorrente).

Henrique Blecher é o novo CEO da Gafisa Foto: Ricardo Borges/Gafisa

Com exceção do braço de propriedades (que seguirá sob comando de Guilherme Pesenti), todos os outros quatro passarão a ser regidos pela batuta do novo presidente. O segmento de capital foi absorvido pela diretoria financeira, a marca Viver Bem ficou na diretoria comercial, e Rio está sob a diretoria de incorporação.

“A área de propriedades tem um mandato claro para desenvolver brownfields (empreendimentos já construídos e em operação), maximizar os resultados e se possível flipar (revender na alta). Já as demais áreas são mais inerentes à incorporação e não fazia sentido terem estruturas próprias”, disse o novo CEO.

Mais do que aglutinar os negócios, alguns deles serão revistos e voltarão para fase de incubação, como é o caso da Viver Bem. Esse braço de negócios foi lançado em 2021 com uma pegada digital. A ideia era funcionar como uma plataforma de classificados para compra, venda e locação de imóveis novos e usados, ofertas de serviços de decoração, reformas, seguros, eletroeletrônicos, crédito e até administração de condomínio. O negócio, entretanto, não cresceu como esperado.

A unificação das áreas ocorre paralelamente à saída dos executivos que exerciam posições-chave dentro da Gafisa desde a chegada de Nelson Tanure, em 2019, como acionista de referência da incorporadora. Ian Andrade saiu em maio. Depois foi a vez de Guilherme Benevides e Fabio Romano, em agosto. Eles vieram da Upcon, adquirida pela Gafisa anos antes, e tinham contrato até março. Acabaram estendendo mais alguns meses para passar o bastão e já se preparam para seguir empreendendo no mercado imobiliário.

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Blecher foi levado para a Gafisa pelas mãos de Tanure. Até então, Blecher era sócio e diretor da Bait, companhia desenvolvedora de residenciais de alto padrão na zona sul do Rio, e que foi comprada este ano pela Gafisa. Para o cargo de CEO também estava cotado o empresário Mauro Silvestre, proprietário da construtora São José (residenciais de alto padrão em São Paulo) com quem a Gafisa negociou uma aquisição nos últimos meses que terminou sem êxito.

Perfil

Advogado de formação e estudioso de psicanálise, Blecher não é adepto de paletó. Prefere camiseta, calça folgada e tênis. Na entrevista ao Broadcast, conta que pensou mais de uma vez antes de aceitar o convite. “Eu podia estar velejando no Ceará”, brinca. Mas o tamanho do desafio o convenceu a assumir o posto de CEO. As conversas com Tanure começaram três meses atrás, com o mandato para adotar uma gestão mais singular, focada nas vendas e no marketing, com disciplina financeira e tomada de decisão mais ortodoxa.

O foco continuará em reposicionar a Gafisa como uma empresa de peso no mercado imobiliário de alto padrão e luxo - o que a Bait sabia fazer bem. Aliás, não foi batido o martelo se a marca Bait continuará existindo. O nome é bem reconhecido entre a clientela de alto poder aquisitivo e pode ser usada pelo grupo para avançar nesse meio. Neste momento, a companhia está perto de fechar a compra de um terreno na zona sul do Rio, região conhecida pela demanda altíssima por moradias e pela escassez de áreas para novas construções. Se a aquisição do terreno for concluída, servirá de base para um futuro empreendimento para milionários.

Por ora, o executivo descarta novas aquisições de incorporadoras. O foco está na integração da Bait, unificação das áreas e condução das vendas dos projetos lá lançados. “Agora a venda não está tão boa quanto se esperava por ninguém. O ambiente de juro alto atrapalha”, observa. Sendo assim, a Gafisa manterá a estratégia de lançar aos poucos, com projetos voltados para o público de alta renda. “É um negócio mais resiliente, mas de menos volume”.

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Há também a discussão sobre um possível aumento de capital, conforme a própria Gafisa já comunicou o mercado. Segundo Blecher, todas as opções estão na mesa: capitalização via emissão de ações, tomada de dívida ou algum modelo híbrido, como emissão de títulos conversíveis em ações. O dinheiro será usado para reforçar a estrutura de liquidez e dar vazão a novos projetos.

A Gafisa começou o segundo semestre com R$ 530 milhões no caixa e R$ 410,4 milhões de dívidas com vencimento até o fim do ano. Para o acumulado do ano está previsto um total de R$ 715,7 milhões de recebíveis com a venda de imóveis.

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