Grandes petroleiras apostam no Brasil como centro global do combustível de aviação verde

Empresas querem investir na produção do biocombustível com etanol da cana-de-açúcar, considerado um dos melhores do mundo para a descarbonização

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Um impulso global para descarbonizar as viagens aéreas fez com que grupos ligados a grandes empresas de petróleo e fundos soberanos apostassem no Brasil para se tornar um dos principais centros globais de combustível de aviação verde. O País tem se tornado um ímã para esses investimentos, à medida que os países correm para abocanhar uma parte do que promete ser um mercado de rápido crescimento.

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A Shell e a Mubadala Investment, de Abu Dhabi, por exemplo, analisam novas fábricas de combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em ingês) em território brasileiro. Isso se deve, em parte, ao fato de a maior economia da América Latina ser a segunda maior produtora mundial de etanol, que pode ser usado para produzir SAF.

O Brasil, um gigante da agricultura, tem uma ampla variedade de culturas de baixo custo para a produção de biocombustíveis, o que lhe dá uma vantagem sobre concorrentes, como os EUA. Além disso, muitos desses insumos brasileiros apresentam uma pegada de carbono mais baixa, fator essencial para atender aos requisitos na produção do SAF.

“O Brasil está em uma posição muito privilegiada para ser o centro mundial de SAF”, disse Bruno Serapião, diretor-executivo do grupo de cana-de-açúcar Atvos Agroindustrial SA. A empresa apoiada pela Mubadala atualmente está considerando investir em uma unidade de SAF que usará a tecnologia de álcool para jato, convertendo etanol em combustível de aviação.

O SAF é um dos poucos caminhos que a indústria da aviação tem à sua disposição para reduzir sua pegada de carbono, que representa cerca de 2,5% das emissões globais. O interesse em combustível verde está aumentando, impulsionado pelo apoio político, particularmente na União Europeia e nos EUA, mas a demanda excede em muito a oferta disponível e prevê-se que continuará crescendo.

Ricardo Mussa, diretor-executivo da companhia de açúcar e etanol Raizen, disse que a produção de etanol do Brasil coloca o País em uma posição forte para ser um grande exportador de SAF.

“Para cada litro de SAF, precisamos de 1,7 litros de etanol, então o melhor lugar para produzir seria na origem, no Brasil”, disse Mussa.

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A produção de combustível de aviação verde no Brasil tem o potencial de atingir cerca de 50 bilhões de litros (13,2 bilhões de galões) até 2030 com mais investimentos na agricultura, de acordo com dados preliminares de um estudo realizado pela Airbus, LATAM Airlines Group SA e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Isso é semelhante à produção potencial dos EUA, mas o Brasil está prestes a ser um exportador maior, com a produção americana sendo consumida internamente.

Empresas de aviação apostam na descarbonização por meio de biocombustível Foto: Fabio Motta/AE

Empresas e autoridades no Brasil esperam que o SAF feito do etanol do País seja mais eficaz do que outras alternativas baseadas em outras culturas. Isso se deve principalmente a como os padrões internacionais para a limpeza do transporte aéreo global estão sendo escritos.

De acordo com dados da Organização Internacional da Aviação Civil, o etanol brasileiro de cana-de-açúcar tem emissões de carbono mais baixas em comparação com outros ingredientes de SAF, como óleo de soja ou etanol de milho dos EUA. Isso significa que SAF produzido no Brasil provavelmente seria mais eficiente em ajudar as companhias aéreas a atingir metas para reduzir suas emissões de carbono.

“Quanto mais exigentes forem os planos de redução de emissão, maior o preço do carbono, melhor posicionado o Brasil estará”, disse Marcelo Moreira, sócio da consultoria Agroicone.

O Brasil já está exportando etanol para plantas nos EUA que o transformam em SAF. Agora, quer fazer suas próprias plantas de combustível de aviação. Linhas de crédito apoiadas pelo governo e novos mandatos forçando as companhias aéreas a descarbonizar estão ajudando a indústria.

Ainda assim, o Brasil tem de competir com grandes incentivos fornecidos pela legislação climática emblemática do presidente Joe Biden, o Ato de Redução da Inflação.

“Há um risco de que o etanol brasileiro vá ser exportado para ser convertido em SAF em todo o mundo e que teríamos que importar SAF”, disse o CEO da BP Bioenergia, Geovane Consul. O Brasil precisa trabalhar para garantir que isso não aconteça, disse ele.

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Em resposta a essas preocupações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aprovou no início deste mês a legislação “Combustível do Futuro” que cria mandatos mais amplos para biocombustíveis. Projetos para impulsionar a infraestrutura no país estão avançando em um ritmo mais rápido do que alguns empreendimentos semelhantes nos EUA.

A FS Bioenergia, uma das principais produtoras de etanol do Brasil e que conta com o apoio da Summit AG Advisors LLC, com sede nos EUA, disse este mês que prosseguirá com um projeto de captura de carbono para fornecer o que afirma ser o primeiro etanol com emissão de carbono negativa. Enquanto isso, a Summit Carbon Solutions está enfrentando atrasos em seu pipeline de captura e armazenamento de carbono nos EUA.

Grupos que dominam os mercados globais de combustíveis têm conexões de longa data com os produtores de etanol no Brasil.

A Raizen, uma joint venture entre a Shell e a Cosan do Brasil, anunciou planos para construir uma planta de álcool para jato. A britânica BP Plc também apontou recentemente os mercados de combustível de jato como parte de sua estratégia após adquirir ações vendidas pela Bunge Global SA em uma antiga joint venture de etanol brasileiro.

Embora muitos projetos brasileiros de SAF ainda estejam em seus estágios iniciais, o fornecedor de equipamentos Honeywell International Inc. acredita que cerca de quatro a cinco novas plantas possam “chegar ao mercado muito em breve”, disse Ken West, CEO da empresa de soluções de energia e sustentabilidade.

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