O mercado de cervejas sem álcool ou com menor porcentagem dessa substância tem crescido e se tornou uma das grandes apostas de gigantes do setor como a Ambev, responsável por marcas como Skol e Brahma, e a Heineken.
Para impulsionar o consumo de cerveja zero fora de casa, marcas do setor estão apostando em grandes eventos, como o festival The Town, em São Paulo, e a Festa do Peão de Barretos para popularizar o produto entre os brasileiros.
Atualmente, 70% do consumo dessas bebidas acontece em outros ambientes que não os comerciais, sobretudo dentro de casa, segundo estudo da Euromonitor International para o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv).
Na primeira edição do The Town, que se encerra neste domingo, 10, a Heineken promoveu a versão sem álcool de sua tradicional cerveja pela primeira vez em todos os pontos de venda em um festival.
Segundo a empresa, toda a estimativa de lucro da chamada Heineken 0.0 obtida durante os dias de evento será revertida para o “CrI.Ativos da Favela”, projeto de capacitação audiovisual e Inteligência Artificial (IA) de moradores das favelas de São Paulo, idealizado pela Central Única das Favelas (CUFA) em parceria com o Instituto Heineken.
Já a Ambev usou a tradicional Festa do Peão de Barretos, em São Paulo, para discutir sobre a pauta de moderação e promover suas cervejas zero. Segundo a marca, a principal motivação para investir neste produto nos últimos anos é atender as novas demandas dos consumidores, que buscam por “equilíbrio e bem estar”.
“Observamos uma tendência pelo consumo de bebidas mais consciente com o público de jovens adultos”, afirmou a empresa em nota.
Cerveja zero como tendência de mercado
Segundo pesquisa recente da Euromonitor International, a aposta de diversas marcas, inclusive com atuação no Brasil, em disponibilizar rótulos com menos calorias ou de bebidas zero álcool segue uma tendência mundial de mudança do público em beber sem comprometer a saúde.
A tendência também é vista no País, com um interesse crescente do público mais jovem por cervejas zero. Desde 2019, segundo a Euromonitor, houve um crescimento de 7,2% de brasileiros que buscam diminuir a quantidade de consumo de álcool, principalmente entre as pessoas na faixa dos 25-34 anos.
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“Cerveja zero existe desde os anos 70. O que estamos tendo é uma nova sociedade e um produto que agora casa com o tradicional. As empresas estão querendo mostrar para o consumidor, até para quem não bebe cerveja com álcool, que a zero é uma possibilidade de ter a mesma experiência com a cerveja, mas sem os efeitos do álcool”, explica o presidente-executivo da Sindicerv, Márcio Maciel.
Especialistas ouvidos pelo Estadão destacam que, além de impulsionar o consumo em bares, restaurantes e festas, a estratégia de diversas empresas tem sido associar o consumo ao esporte e exercícios físicos. A Heineken, por exemplo, é uma das principais patrocinadoras da Fórmula 1 e está presente com a sua 0.0 em todos os pódios dos últimos grandes prêmios.
Com essa estratégia, empresas têm ampliado o seu portfólio de produtos desse tipo e estão investindo cada vez mais na produção de zero no Brasil. A Heineken, por exemplo, anunciou em agosto que investirá R$ 80 milhões para ampliar produção de cerveja sem álcool em São Paulo. Segundo a empresa, o Brasil se tornou, em 2021, o mercado que mais consome a versão zero álcool da marca no mundo.
Em 2023, a Ambev anunciou um novo investimento de R$10 milhões na sua Cervejaria Pernambuco, visando expandir a produção de cervejas sem álcool das marcas Brahma e Budweiser. Vale destacar que além da Budweiser Zero, a marca conta com outros produtos com foco neste novo público, como a Corona Cero Sunbrew (a primeira cerveja sem álcool e com vitamina D), Stella Pure Gold (uma cerveja sem glúten que contém 17% menos calorias do que as da versão regular) e Michelob Ultra (com cerca de 80% menos carboidratos).
Crescimento no Brasil
No Brasil, a expectativa de produção de produtos zero para 2023 é de 515 milhões de litros, uma alta de 30% em comparação com o mesmo volume produzido no último ano, de 390 milhões de litros, segundo estudo da Euromonitor International para o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv) enviado ao Estadão com exclusividade.
Especialistas apontam ainda que o impulsionamento da cerveja zero para as fabricantes é também vantajoso financeiramente por trazer margens maiores. Como exigem uma fase adicional na sua fabricação - para retirar todo o álcool do produto -, as cervejas zero se enquadram na categoria premium, que custam mais caro e trazem mais receita para as empresas.
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