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Primos criam um mercadinho que celebra a memória do avô no interior da Bahia

Para celebrar o avô comerciante, eles contrataram uma artista para retratar Seu Chiquinho na fachada do mercadinho que inauguraram pouco antes da morte dele, em 2021

Foto do author Shagaly Ferreira
Atualização:

ESPECIAL PARA O ESTADÃO- Santo Amaro, BA – Quem chega à pequena Oliveira dos Campinhos, distrito de Santo Amaro (BA), encontra com facilidade alguém que já foi freguês do saudoso armazém do Seu Chiquinho. O comerciante Francisco Grilo, falecido aos 90 anos, em 2021, passou a maior parte da vida dedicado às vendas varejistas na localidade. Desde o final dos anos 1940, ele conquistou clientes que, com o tempo, acabaram se tornando amigos. Hoje, o ofício de tantas décadas está eternizado em um minimercado aberto pelos mais jovens da família.

A homenagem partiu dos netos de Seu Chiquinho, Bruno Pimenta, de 36 anos, e Gabriel Pimenta, de 24. Eles abriram no ano passado o Mercadinho São Francisco para manter viva a memória do avô. Percebendo que o comerciante já estava bastante debilitado, eles iniciaram as vendas no armazém para que Francisco pudesse presenciar em vida a continuidade do seu legado. “Ele nos acompanhou ainda por dois meses. Mesmo na pandemia, botava a máscara e nos ajudava”, lembra Bruno.

Para manter viva a memória do avô, que faleceu em 2021, os netos Gabriel Pimenta (à esquerda) e Bruno Pimenta decidiram eternizar a imagem do comerciante nos muros do mercadinho fundado por ele.  Foto: Sallas Sidney/Arquivo pessoal

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Com a morte do vendedor, a lembrança do seu trabalho agora é ativada nos clientes antes mesmo da entrada no estabelecimento. Na fachada, foi pintado um painel em que aparece a imagem do velho negociante e de uma das crianças a quem costumava vender doces, retratando uma cena cotidiana e familiar para os moradores. A pintura foi criada pela artista local Mliena Bispo e rememora marcas e embalagens de produtos populares até anos 1990 - como óleo em lata de alumínio -, além de uma antiga balança para venda de arroz e feijão a granel.

Gabriel recorda que, quando os primeiros rabiscos foram feitos na parede e o desenho começou a ganhar forma, as pessoas passaram a perguntar, curiosas, se era mesmo o retrato do Seu Chiquinho. Os elogios e as memórias vieram com a conclusão da obra. “Se a gente tiver mais de um mercado, vamos continuar com a mesma imagem, pois ela é simbólica e nos representa”, diz o jovem.

O formato do negócio também segue a moda antiga. Como os netos “herdaram” parte da clientela do avô, eles conseguiram manter a estabilidade e a aproximação afetiva com as pessoas, inserindo apenas poucas inovações na forma de pagamento e na oferta de produtos. Assim, eles optaram por manter inalteradas a estrutura do empreendimento e a maneira de atender os clientes, por exemplo, oferecendo a possibilidade da compra fiada.

“A gente consegue ter uma relação de família com muita gente. Temos clientes já fixos do tempo do meu avô, que vão comprar porque sabem que estamos seguindo a linha dele. Isso ajuda a aumentar a confiança deles em nós”, explica Bruno.

Referência

Os jovens vendedores cresceram tendo Seu Chiquinho como referência. Ainda crianças, acompanhavam o avô nas vendas diárias e aprendiam com ele lições de convívio com as pessoas no trabalho e na vida pessoal. “Não há uma só decisão em que a gente não pense: o que nosso avô faria? Ele sempre tomava as melhores decisões”, conta o neto mais velho.

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Bruno acredita que, mesmo não estando mais presente fisicamente, o avô continua de algum modo encorajando e fortalecendo o trabalho que ele um dia ensinou aos netos. “Éramos e ainda somos apaixonados por ele e pelo que ele fazia. Sempre foi pra gente um exemplo de avô, de pai, de amigo”, diz, emocionado. “Sentimos muita falta, mas sabemos que, de onde ele está, segue nos ajudando sempre”.

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