Hydro Rein monta plataforma de energia limpa em investimentos de US$ 2 bi em parques solar e eólico

Companhia criada em 2020 pelo grupo norueguês de alumínio Hydro tem como meta fornecer o insumo renovável para as operações de produção de bauxita, alumina e alumínio primário

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Foto do author Ivo Ribeiro
Atualização:

Muitas companhias, principalmente multinacionais e consumidoras eletrointensivas, vêm investindo pesado na geração de energia renovável nos últimos anos. Essas empresas, como ArcelorMittal, Anglo American, Braskem, Vale e Gerdau, têm focado em projetos de geração solar e eólica. De forma geral, o objetivo é assegurar uma fonte limpa de energia, em linha com seus planos de redução de emissões de CO₂ (descarbonização das operações).

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A gigante europeia de alumínio Hydro segue a mesma trilha, com pesados investimentos. O foco da companhia é gerar energia para as três companhias controladas do grupo no País − Mineração Paragominas, Alunorte e Albras, todas localizadas no Pará − que atuam na cadeia de produção do alumínio, desde a extração do minério (bauxita) até a fundição de metal primário.

A norueguesa montou uma plataforma de energia com foco em geração solar e também eólica. Em 2020, foi criada a Hydro Rein, no Brasil sediada no Rio de Janeiro. Em dois anos (2021 e 2022), a empresa comprou participações em quatro projetos de renováveis em fase de desenvolvimento. O investimento nos quatro empreendimentos foi da ordem de US$ 2 bilhões (ao câmbio atual, cerca de R$ 11,5 bilhões). A contrapartida da empresa e controladas do grupo Hydro corresponde a US$ 800 milhões (R$ 4,6 bilhões).

Os investimentos foram feitos em parceria com grupos de investidores dedicados na geração de energia renovável. Após a fase de construção, encerrada no ano passado, a Hydro Rein passou a participar da gestão operacional de três grandes fazendas solares em Minas Gerais e Rio Grande do Norte e de um parque eólico que abrange áreas no Piauí e em Pernambuco.

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Parque solar Boa Sorte, em Minas Gerais, com potência instalada de geração de 438 MW, em parceria com a Atlas Renewable Energy  Foto: Hydro Rein/Divulgacao

A disposição da Hydro Rein por novas aquisições deve continuar, informa a CEO da companhia, Marcela Jacob. Em 2025, porém, a empresa decidiu dar um respiro para se consolidar como gestora operacional dos atuais ativos, destaca a executiva, engenheira elétrica pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Passada essa etapa de amadurecimento como construtora e operadora no setor de energia, um novo ciclo de investimentos virá certamente, diz Jacob. A Hydro tem um plano de descarbonização robusto, na rota do alumínio de baixo carbono, e um dos tripés dessa estratégia é garantir suprimento de energia de fontes renováveis.

O foco da companhia é ser dona, com Albras e Alunorte – empresas controladas do grupo Hydro –, de participação média de 40% dos empreendimentos desenvolvidos com seus parceiros. No momento, são quatro grupos desenvolvedores: Atlas Renewable Energy, Scatec, Equinor e Macquarie Asset Management.

A potência instalada total dos quatro projetos adquiridos e já em operação é de 2,4 gigawatts (GW). Três deles começaram a gerar em 2024 e o último, Vista Alegre, de maior capacidade, em janeiro deste ano.

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O consumo total do grupo norueguês é da ordem de 1,2 GW – metade da potência total. Apenas a Albras, a maior fundição de alumínio primário do País, situada em Barcarena (PA), demanda um bloco de 800 MW, volume superior à capacidade de geração de muitas hidrelétricas. Atualmente é suprida pela Eletronorte (grupo Eletrobras).

Marcela Jacob, CEO da Hydro Rein, que cuida da geração de energia renovável do grupo de alumínio Hydro Foto: Hydro Rein/Divulgação

Segundo Jacob, da energia gerada nos parques, 70% vão abastecer as unidades fabris da Alunorte, Albras e Mineração Paragominas, empresas que participam da gestão das sociedades de propósito específico (SPE) criadas para gerir cada parque. A energia firme dos atuais investimentos, informa, é suficiente para suprir 40% do consumo total da Hydro no País.

Perfis dos parques de geração

Mendubim, no Rio Grande do Norte, é o primeiro projeto de energia renovável (solar) da Hydro Rein no Brasil, voltado para substituição energética na Alunorte, dentro de seu plano de descarbonização e troca de instalações movidas a carvão e óleo combustível. Tem capacidade de 531 MW e começou a operar há um ano.

A Alunorte, que fabrica alumina em Barcarena, é o principal cliente da energia gerada por Mendubin: fica com 60%. O restante é vendido no mercado livre. A construção do empreendimento foi feita por Scatec e Equinor, e o grupo Hydro detém 40% do empreendimento.

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Outro parque solar, Boa Sorte, em Minas Gerais, tem potência instalada de 438 MW e começou a gerar energia no ano passado, com um contrato de fornecimento de 20 anos. Desenvolvido com a Atlas, segundo a Hydro Rein, foi o primeiro projeto solar no Brasil com empréstimo em dólar do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em geração renovável.

Outro projeto com a Atlas, também em Minas, a fazenda solar Vista Alegre, tem capacidade de 902 MWp e iniciou operação em janeiro deste ano. O contrato de fornecimento é de 21 anos, e a Hydro Rein tem participação de 20%, além de Albras, por parte do grupo Hydro. Considerado maior complexo solar do País construído em uma única fase, o empreendimento elétrico também recebeu financiamento do BNDES.

Parque eólico Ventos de São Zacarias, no Piauí e Pernambuco, com capacidade de 456 MW, em parceria com Macquarie Asset Management  Foto: Hydro Rein/Divulgacao

Como o nome já indica, o parque eólico Ventos de São Zacarias, situado numa área que engloba parte do Piauí e de Pernambuco, tem capacidade de 456 MW. A parceira no investimento é a Macquarie Asset Management, ligado à gigante australiana Macquarie, desde o ano passado dona de uma participação de 49,9% da Hydro Rein.

Substituição de combustível fóssil

Na área energética, em seu projeto de descarbonização, a Hydro Alunorte fez também investimento de R$ 1,3 bilhão para substituir óleo combustível por gás natural liquefeito (GNL) em sua refinaria de alumina. O objetivo foi de reduzir as emissões de gases de efeito estufa da refinaria em 30%.

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A empresa assinou contrato com a New Fortress Energy (NFE) para receber GNL, por 15 anos, a partir de um terminal montado no Pará. A previsão era atingir 100% de substituição do óleo combustível (insumo fóssil) por GNL até o final de 2024. E, com essa mudança na matriz energética, reduzir emissões anuais de CO₂ em 700 mil toneladas.

Consumidora intensiva de energia para fabricar alumínio em sua fundição de Barcarena, a Albras contava com fornecimento cativo da Eletronorte (grupo Eletrobrás), em contrato de longo prazo que se encerraria no final do ano passado, recebendo parte da energia da Eletronorte, gerada pela hidrelétrica de Tucuruí, no rio do mesmo nome no Pará. A geração nos parques sob gestão da Hydro Rein começou a substituir a energia de Tucuruí já no ano passado.

Atualmente, informou a Albras, toda a energia consumida por sua fundição vem de fontes renováveis, de uma matriz de geração hidrelétrica e energia solar. A energia solar fornecida para as operações é oriunda dos investimentos realizados pela Albras conjuntamente com a Hydro Rein e a empresa Atlas Renováveis.