A indústria de papel e celulose no Brasil vive, nos últimos anos, um ciclo esfuziante com projeções indicando forte crescimento até o final desta década. As companhias brasileiras e grupos estrangeiros que já atuam no País anunciaram novos projetos e investimentos em programas de expansão. O setor conta com companhias centenárias (Suzano e Klabin), controladas por grupos familiares locais, bem como grupos do exterior, caso das chilenas Arauco e CMPC e da indonésia Bracell.
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Em 2023, o setor teve receita bruta de R$ 260 bilhões, conforme números da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), entidade que representa os produtores no País. O valor significou 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A produção de celulose atingiu 24,3 milhões de toneladas, sendo 21,3 milhões de fibra curta (vem do eucalipto), 2,5 milhões de fibra longa (vem do Pinus) e 500 mil toneladas de pasta de alto rendimento. As exportações somaram US$ 12,7 bilhões, no patamar de 18 milhões de toneladas embarcadas. A área plantada para fins industriais é de 10,2 milhões de hectares.
O Brasil tem vantagens nessa indústria comparado a outros países, principalmente os do Hemisfério Norte: clima, solo e água que permitem desenvolver florestas de eucaliptos em menos de sete anos, bem mais competitivas. E disponibilidade de terras, geralmente pastagens ou áreas degradadas. Isso tornou o País um atrativo a grandes grupos mundiais. Além disso, na produção de celulose, o País é tecnologicamente um dos mais avançados. Mato Grosso do Sul acaba de ganhar a nova unidade industrial da Suzano, em Ribas do Rio Pardo - maior linha produtora do mundo.
Os empreendimentos de celulose e papel estão espalhados em vários Estados: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Maranhão. A nova fronteira de projetos é Mato Grosso do Sul, onde há incentivos locais e vastas áreas disponíveis para plantios de florestas.
Em recente levantamento, a Ibá listou investimentos de R$ 105,6 bilhões em novos projetos e expansões deste ano a 2028. Os destaques são o projeto Cerrado, da Suzano, que entrou em operação em julho (R$ 22,85 bilhões); Sucuriú, da Arauco (R$ 25 bilhões); Barra do Ribeiro, da CMPC (R$ 24 bilhões); e a duplicação da Eldorado, em Três Lagoas (R$ 25 bilhões).
Conheça as dez maiores empresas:
Suzano
Maior fabricante mundial de celulose de fibra curta de eucalipto, a companhia foi fundada há 100 anos pelo imigrante ucraniano Leon Feffer, a partir de uma firma individual de comércio de papéis, que em 1929 se transformou numa pequena fábrica de sacos de papel. Max Feffer, filho de Leon, em 1952, liderou pesquisas para produzir celulose no Brasil e testou o eucalipto. Em Suzano (SP), em 1955 adquiriu e instalou a planta piloto para produção de celulose de eucalipto. A produção começou em 1956 e, segundo informações da empresa, isso revolucionou a indústria de celulose no Brasil e no mundo.
Hoje, a companhia conta com capacidade instalada para fazer 13,4 milhões de toneladas por ano de celulose, em nove fábricas situadas nos Estados de São Paulo (3), Mato Grosso do Sul (2), Espírito Santo (1), Bahia (2, incluindo a jo int venture Veracel) e Maranhão (1). Em 2001, com a morte de Max Feffer, a terceira geração da família assumiu o comando, sob a direção de David Feffer.
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Em 2003, o empresário profissionaliza a gestão da companhia, que nos últimos anos tem avançado num plano de diversificação de negócios e também geográfica - está na Finlândia e nos EUA. Desde 2017, a empresa é listada no Novo Mercado na B3. O segundo grande negócio da empresa é a fabricação de papéis (1,7 milhão de toneladas) e de itens de higiene (papéis tissue), com 280 mil toneladas. No ano passado, Suzano teve receita líquida de R$ 39,75 bilhões.
Klabin
Fundada e controlada pelas famílias Klabin e Lafer Piva, a história da empresa, companhia líder nacional na produção de embalagens de papelão e papel-cartão, além de celulose, remonta a 1889. São 135 anos de história. Tudo começou com a chegada do imigrante lituano Maurício Freeman Klabin ao Brasil, que se estabeleceu na cidade de São Paulo, onde passou a vender cigarros para empórios e albergues, importando papel e tabaco para fabricação.
Passados dez anos, com os irmãos Salomão e Hessel e com o primo Miguel Lafer, fundou a Klabin Irmãos e Cia, a KIC. Em 1901, iniciou a produção de papel com arrendamento de uma fábrica em Itú. Em 1934, comprou a Fazenda Monte Alegre, no Paraná, para instalação da Indústria Klabin do Parana, primeira fábrica integrada de produção de papel. Sete anos depois foi constituída a primeira empresa sociedade anônima do grupo, a Indústria Klabin de Papel e Celulose.
Desde então, a companhia teve uma trajetória de expansão e diversificação: em 1947 passou a suprir o mercado de papel de imprensa e alguns anos depois iniciou a produção de papelão ondulado, para fabricar embalagens. A partir dos anos 60 entrou numa fase de crescimento acelerado, com abertura de mercados, movimento de aquisições e de investimentos em países vizinhos.
Neste milênio, em 2001, foi criada a Klabin S.A., com a saída de alguns negócios, focando em embalagens. Conclusão da expansão da fábrica de Monte Alegre (PR) em 2008, ficando entre as dez maiores de papel do mundo e a empresa entre os seis maiores fabricantes globais de cartões de fibras virgens.
O salto seguinte ocorreu em 2016, com a unidade de Puma, no Paraná, para fazer 1,5 milhão de toneladas de celulose, tornando a Klabin a primeira no País a fornecer, ao mesmo tempo, celulose de fibra curta (eucalipto) e de fibra longa e fluff (pinus). Em 2019 é lançado o Puma II, em Ortigueira (PR), com duas máquinas de papel para embalagens em produção de celulose integrada. A companhia teve receita líquida R$ 18 bilhões em 2023.
CMPC
Fundada em 1920 e controlada pela família Matte, a chilena CMPC opera 44 plantas industriais em oito países da América Latina, incluindo o Brasil, produzindo madeira, celulose, papel, embalagens e produtos de tissue. No País, é dona de uma fábrica de celulose no município gaúcho de Guaíba, região metropolitana de Porto Alegre.
Com um programa de expansão e modernização, a fábrica passou a fazer 2,4 milhões de tonelada por ano. A empresa confirmou recentemente novo projeto, em Barra do Ribeiro (RS), onde prevê produzir 2,5 milhões de toneladas, dobrando o tamanho da empresa. O “Projeto Natureza” tem investimento estimado em US$ 4,6 bilhões (quase R$ 28 bilhões).
A companhia prevê o licenciamento e aprovação do conselho no decorrer de 2026 e início de produção em meados de 2029 . No Chile, com três fábricas de celulose, pode fazer 2,2 milhões de toneladas ao ano. No Brasil, é dona também da Softys, que faz papéis tissue (higiênicos e sanitários), fruto da aquisição, em 2009, da antiga Melhoramentos Papéis, e em 2019, da Sepac. No ano passado, a CMPC gerou receita de US$ 8,1 bilhões.
Arauco
O grupo chileno, segundo maior fabricante de celulose de fibra curta do mundo, atrás da Suzano, anunciou neste ano a aprovação pelo conselho administrativo para a construção de sua primeira fábrica de celulose no Brasil, no município de Inocência, região nordeste de Mato Grosso do Sul.
O Projeto Sucuriú marca a entrada da divisão de celulose da Arauco no País, com investimento de US$ 4,6 bilhões (R$ 27,6 bilhões ao câmbio atual). A fábrica, com duas linhas de produção, terá capacidade de produzir 3,5 milhões de toneladas de fibra curta de eucalipto por ano a partir do início de 2028. A empresa está iniciando a fase de terraplenagem do terno.
Uma gigante de celulose e produtos de madeira (painéis), a Arauco foi fundada em 1979 por Anacleto Angelini. Atualmente tem cinco fábricas no Chile, uma na Argentina e uma no Uruguai. Com produção de 3,8 milhões de toneladas de celulose e 9,5 milhões de metros cúbicos de madeira e painéis, em 2023 a companhia registrou receita de US$ 6 bilhões. A Arauco é controlada pela holding AntarChile, que tem outros negócios.
Bracell
O grupo indonésio RGE (Royal Golden Eagle), controlado pela família do bilionário Sukanato Tanoto, também dona da gigante de celulose e papel April, iniciou atividades no Brasil em 2003, por meio da Bracell. A subsidiária adquiriu a BSC (Bahia Specialty Cellulose), produtora de celulose solúvel, e a Copener Florestal, no Estado da Bahia.
Em agosto de 2018, fez um novo movimento de compra de ativos locais, assumindo o controle da Lwarcel Celulose, em Lençóis Paulista SP). A Bracell é uma das líderes mundiais na produção de celulose solúvel - somente na unidade da Bahia são 500 mil toneladas. Com a Lwarcel, a Bracell lançou o “Projeto Star”, saltando a capacidade de 250 mil toneladas ao ano celulose de eucalipto tipo kraft para até 3 milhões de toneladas, podendo desse volume gerar 1,5 milhão de toneladas do tipo solúvel.
A celulose kraft é aplicada na fabricação de papéis de impressão, sanitários (higiênico e toalha), embalagens e de aplicações especiais. A solúvel vai para tecidos, fibras de viscose, modal e liocel, lenços umedecidos, máscaras cosméticas, celofane, entre outras.
Neste ano, a Bracell inaugurou ao lado do site paulista o que informa ser a maior fábrica de papel tissue (itens sanitários) da América Latina, com investimentos de R$ 2,5 bilhões e capacidade de produção de 240 mil toneladas por ano. Neste ano, comprou a OL Papéis para reforçar a entrada no mercado tissue, com operação concentrada na região Nordeste.
Eldorado
A Eldorado Brasil Celulose, que iniciou produção em 2012, é controlada pela família Batista, dona do grupo J&F Investimentos e pela gigante de proteínas JBS. Com 50,59% do capital da Eldorado, a J&F tem como sócio, desde 2017, o grupo indonésio Paper Excellence, do empresário Jackson Wijaya, com 49,41% das ações.
Com fábrica em Três Lagoas (MS), erguida a partir de 2010, a Eldorado nasceu com capacidade de produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose ao ano. Ao longo dos anos teve ganhos marginais nas linhas de produção e atualmente faz 1,8 milhão de toneladas.
Como outras fabricantes de apenas fibra curta de eucalipto, a empresa exporta cerca de 90% da produção, principalmente para o mercado chinês. Os despachos são feitos pelo terminal próprio no Porto de Santos. A fábrica se abastece de 285 mil hectares de florestas de eucaliptos plantadas em Mato Grosso do Sul, sendo 98% arrendadas de cultivadores locais. Em 2023, a Eldorado obteve receita líquida de R$ 5,75 bilhões ao vender 1,86 milhão de toneladas.
Desde julho de 2018, a Eldorado vive sob uma disputa judicial entre os dois acionistas envolvendo o controle total da companhia, que teve 100% do capital vendido à Paper em setembro de 2017. Porém, a J&F passou a argumentar que a sócia não cumpriu os requisitos legais para efetivar a aquisição da sua participação e busca desfazer o negócio em instâncias na Justiça.
Cenibra
Desde 2001, a Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra) é integralmente controlada pelo grupo japonês Japan Brazil Paper and Pulp Resources Development (JBP), cujo acionista principal é Oji Holdings Corporation. Naquele ano, por decisão estratégica, a então Cia. Vale do Rio Doce, hoje Vale, decidiu sair do capital da companhia.
Fundada em 1973, a empresa tem fábrica em Belo Oriente, região leste de Minas Gerais, com capacidade de produzir 1,2 milhão de toneladas por ano de celulose branqueada de fibra curta de eucalipto. A produção do ano passado foi de 1,13 milhão de toneladas.
A Cenibra tem terras em 54 municípios do Estado e maneja área total de 254 mil hectares, sendo 52% de eucalipto para suas operações e mais de 40% de áreas nativas, legais e preservação permanente. Das vendas, mais de 90% vai para Japão, EUA, Europa, América Latina e Ásia, com embarques pelo terminal portuário dedicado Portocel, no Espírito Santo, do qual é dona de 49%. Gerou receita líquida de R$ 3,34 bilhões em 2023.
LD Celulose
Concebida em 2019 e construída entre 2020 e 2022, a LD Celulose é especializada na produção de celulose solúvel. Seus investidores são a Dexco, controlada pelas famílias Setúbal e Villela (donas da holding Itaúsa) e Seibel, e o grupo austríaco Lenzing, líder mundial em fibras de celulose. A Dexco, maior produtora de painéis de madeira industrializada do Hemisfério Sul, ficou com 49% da sociedade e a companhia austríaca, 51%.
Considerada uma das maiores fábricas de celulose solúvel do mundo, a LD está situada no Triângulo Mineiro, entre os municípios de Indianópolis (localização da fábrica) e Araguari. Tem capacidade de produzir 500 mil toneladas por ano de fibras especiais de celulose, utilizadas na indústria têxtil, e gera 144 MW de energia a partir da biomassa da madeira.
O empreendimento teve investimento de US$ 1,38 bilhão (R$ 8,3 bilhões ao câmbio atual). A empresa conta com mais de 40 mil hectares de florestas de eucalipto no entorno de sua fábrica, que está ao lado de uma ferrovia por onde despacha a celulose. Em 2023, a LD teve receita líquida de R$ 2,42 bilhões e lucro líquido de R$ 540 milhões.
Sylvamo
Uma cisão da americana International Paper (IP), que desmembrou seu negócio global de papel e embalagens, a Sylvamo tornou-se uma empresa independente de capital aberto em outubro de 2021. Com sede em Memphis, Tennessee, EUA, a companhia herdou o negócio de papel de imprimir e escrever, com fábricas na Europa, América Latina, e América do Norte.
No Brasil, tem operações em três sites: Mogi Guaçu e Luiz Antônio (SP) e Três Lagoas (MS). A empresa faz papéis de imprimir e de escrever com as marcas Chamex, Chamequinho e Chambril com a celulose obtida da madeira de florestas próprias de eucaliptos, que ficam no entorno das duas fábricas paulistas.
São 100 mil hectares, sendo 25% de reservas nativas preservadas. As unidades fabris da Sylvamo produzem mais de 1 milhão de toneladas de papel não revestido por ano. Globalmente, a companhia gerou receita de US$ 3,72 bilhões no ano passado.
Veracel
Associação entre a Suzano e o grupo sueco-finlandês Stora Enso, com 50% do capital de cada sócia, a Veracel Celulose foi fundada em 1991 pelo grupo Odebrecht, na época com o nome Veracruz Celulose. Em 1997, a sueca Stora assume participação na companhia e em 2002 a Odebrecht deixa a sociedade, que passa a ser dividida com a Aracruz Celulose.
A Suzano entrou no capital ao comprar a Fibria em 2018 do grupo Votorantim, que havia adquirido a Aracruz dez anos antes. Atualmente, a empresa tem operações em 11 municípios da chamada Costa do Descobrimento, no extremo sul da Bahia. A unidade fabril está no município de Eunápolis e os plantios florestais atingem também o norte de Minas Gerais (até o Vale do Jequitinhonha). A Stora Enso, resultado de uma fusão, é uma gigante global na indústria papeleira.
A Veracel tem um terminal marítimo a 60 km de sua fábrica, em Belmonte (BA), que recebe 1,1 milhão de toneladas por ano por meio de caminhões. Dalí, é transportada em barcaças até o terminal Portocel, no Espírito Santo, de onde é despachada para clientes no exterior.
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