No Japão, a população idosa (com 65 anos ou mais) soma quase um terço dos habitantes. Como cuidar dessas pessoas é um dos maiores desafios para a sociedade local. Foi pensando nisso que a indiana Tata Consultancy Services (TCS) decidiu fomentar, em parceria com a Universidade de Tóquio, o desenvolvimento de um robô companheiro: ele é capaz de dar alimentos na boca, guiar pessoas até seus assentos ou quartos ou levá-los até o balcão em clínicas de exames ou hospitais.
Num futuro próximo, novos sensores que estão sendo desenvolvidos pelas duas partes ajudarão os robôs a realizar mais funções completamente por conta própria, como detectar e evitar obstáculos físicos e responder a conversas de voz usando inteligência artificial.
Inovações tão necessárias quanto essa poderão ser desenvolvidas também aqui no Brasil a partir do ano que vem. Isso porque a TCS - uma das maiores empresas do mundo na área de tecnologia da informação - e o Insper, instituição de ensino superior que atua nas áreas de negócios, economia, direito, ciência da computação e engenharia acabaram de firmar uma parceria que prevê R$ 50 milhões para inovação e pesquisa.
Por dez anos, as duas instituições vão manter, em São Paulo, um laboratório que irá tocar projetos nas áreas de engenharia de inteligência artificial, IA generativa e internet das coisas (IoT), serviços financeiros, seguros e energia. Os projetos, que serão tocados a partir do ano que vem, já estão em fase de seleção. Poderão participar os 3,5 mil alunos da graduação do Insper, os 2,5 mil da pós-graduação, além de startups, empresas brasileiras e multinacionais.
“Temos uma infraestrutura de 1 mil metros quadrados na Vila Olímpia para dedicar a essa parceria”, diz Rodrigo Amantea, diretor do “Hub de Inovação e Empreendedorismo Paulo Cunha”, do Insper. A expectativa é desenvolver cerca de seis projetos por ano com a parceria.
Além do investimento em dinheiro, a TCS pode contribuir com repasse de tecnologia. “Temos mais de seis mil engenheiros no mundo todo e milhares de patentes registradas”, diz Bruno Rocha, CEO da TCS Brasil.
A TCS faz parte do Tata Group, o conglomerado indiano de US$ 100 bilhões e mais de 150 anos, com quase 100 empresas, incluindo a Tata Motors, o maior fabricante de automóveis da Índia, a Tata Steel, de aço, a Tata Power, de energia, dentre outras.
O Insper é a primeira e única instituição de ensino do Brasil que tem a parceria com a TCS. No entanto, outras universidades também poderão participar dos projetos.
Em outros países, a TCS tem cooperações semelhantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Universidade de Berkeley, a Universidade Carnegie Mellon, a Cornell Tech, o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e a Universidade de Stanford têm parceria com a indiana. No Japão, a ligação é com a Universidade de Tóquio, e no Reino Unido, com a Universidade de Londres.
A TCS, que está no Brasil desde 2002 e tem 6 mil funcionários em 30 cidades do País, faz parceria até mesmo com empresas do próprio grupo Tata. Foi o caso do desenvolvimento de um robô chamado de TCS AMR para centros de distribuição logística capaz de manusear diferentes cargas, empacotar mercadorias, fazer triagem, transportar, armazenar e realizar a carga e descarga de caminhões.
Em outros casos, além de envolver empresas do grupo, as parcerias incluem mais de uma universidade e também hospitais, em vários países. É o caso do robô que atende pacientes idosos, citado no início deste texto. “Temos parcerias, por exemplo, com empresas de aviação e com montadoras como a Jaguar e a Land Rover (que também fazem parte do grupo Tata)”, explica Rocha.
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“O que queremos com essa parceria é tocar projetos anuais que tenham conexão com a indústria e possam resolver problemas reais da sociedade”, diz Amantea.
Essas conexões entre indústria, academia e outras instituições de pesquisa são fundamentais para a geração de inovação, segundo Maximiliano Carlomagno, sócio da consultoria em inovação Innoscience. “As empresas perceberam que nem todos os conhecimentos necessários para o desenvolvimento dos seus negócios e para evolução dos seus produtos e serviços estão dentro de casa. Por isso, passaram a fazer movimentos de inovação aberta”, diz o especialista.
Esse é o nome que se dá ao processo de “externalizar conhecimentos internos e de internalizar conhecimentos externos”, explica Carlomagno. Para ele, a parceria entre Insper e TCS tem tudo para criar novas tecnologias. Além do dinheiro investido ser uma quantia suficiente, o importante é que é uma iniciativa de médio a longo prazo, diz. “Tempo e interconectividade são alguns dos princípios básicos para se gerar inovação.”
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