Sucesso de IPO da dona do Tylenol e Band-Aid nos EUA pode abrir espaço para ofertas no Brasil

Especialistas afirmam que retorno das ofertas de ações no mercado americano é uma condição essencial para as operações voltarem também no Brasil; B3 não tem um lançamento há dois anos

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São Paulo e Nova York - A Kenvue, empresa da Johnson & Johnson dona de marcas como Tylenol, Band-Aid e Listerine, estreou na Bolsa de Nova York (Nyse), na semana passada, em alta de quase 20%, após emplacar a maior oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) desde 2021 nos Estados Unidos. A operação sinaliza que, após um jejum de grandes lançamentos, os investidores podem estar novamente dispostos a tomar mais risco, inclusive em outros mercados, como o brasileiro.

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Em 2023, os EUA tiveram o pior começo de ano para IPO desde 2016 e, no Brasil, vão se completar dois anos sem nenhuma oferta inicial de ações na B3.

Com o forte interesse, o tamanho do IPO da Kenvue foi ampliado. A empresa de saúde e cuidados pessoais captou US$ 3,8 bilhões e conseguiu vender a ação a US$ 22, quase no topo (US$ 23) da faixa sinalizada aos investidores, um termômetro da demanda forte. Inicialmente, o plano era captar US$ 3,3 bilhões.

O IPO avaliou a Kenvue em cerca de US$ 41 bilhões. “É valor um pouco menor do que as avaliações de empresas semelhantes, mas não esperamos grandes mudanças na estimativa de valor justo para a J&J com base na venda parcial da unidade”, diz o diretor de equity da Morningstar, Damien Conover.

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IPO de Kenvue, da J&J, pode abrir portas para outros lançamentos Foto: Brenan McDermid/Reuters

Foi o maior IPO em quase 20 anos de uma companhia que estava dentro de outra - o chamado ‘carve out’, no jargão do mercado financeiro. No caso, a Kenvue era uma unidade da J&J, em um movimento que tem crescido nos últimos anos no EUA e resto do mundo. Analistas em Nova York esperam que a J&J faça um spinoff do restante do negócio até o fim deste ano.

Um dos exemplos recentes - e pelo qual há grande expectativa - é a Vale, que está separando a sua unidade de metais básicos, em uma empresa que deve ter um sócio minoritário e, mais a frente, pode tentar um IPO. Segundo uma fonte, no momento, a mineradora está em fase de estruturação da companhia separada, que terá governança e comando próprio.

O diretor de um banco americano comenta que a expectativa de parada na alta de juros nos Estados Unidos - com casas como TS Lombard, acreditando que a elevação das taxas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na semana passada deve ser a última do atual ciclo - já faz o investidor repensar suas estratégias de investimento.

Foi justamente o movimento de rápida elevação dos juros pelo Fed que fez os IPOs pararem. E o fato de a Kenvue estar em um setor com boas perspectivas, pertencer a uma empresa com mais de 130 anos, ajuda a atrair investidores, que estavam fugindo de IPOs.

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Já o executivo de um banco estrangeiro na Faria Lima lembra que o retorno dos IPOs nos EUA é uma condição essencial para as operações voltarem também no Brasil. Esse executivo avalia que inicialmente é preciso as operações terem uma retomada em Wall Street, para então ganharem força em outros lugares. Isso porque muitos grandes investidores internacionais primeiro testam seu apetite no mercado americano, para depois dispararem ordens de compra no exterior.

Ele pondera, contudo, que nem todas as companhias terão o mesmo sucesso que a Kenvue. As empresas capazes de atrair ordens de grandes fundos e gestoras pelo mundo são aquelas que dão bons resultados. Além disso, as operações têm de ser grandes, diz o executivo. Por isso, para as empresas de tecnologia, as estrelas do mercado de ações em 2020 e 2021, ainda não será agora que a janela para ofertas vai se reabrir.

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