Maiores acionistas do ressegurador IRB Brasil Re, Bradesco e Itaú Unibanco acompanharam a oferta de ações que vai injetar R$ 1,2 bilhão no caixa da empresa, que precisa de capital para sair do sufoco e cumprir exigências mínimas regulatórias para manter sua operação. Os dois maiores bancos privados do Brasil compraram o correspondente às suas participações e, com isso, não foram diluídos no corpo de acionistas, disseram fontes ao Estadão. Assim, o Bradesco, que possui 15,78%, injetou cerca de R$ 190 milhões, e o Itaú, com 11,51%, levou aproximadamente R$ 138 milhões.
Com isso, os dois bancos já colocaram no IRB quase R$ 1 bilhão desde a eclosão da crise que atinge a companhia. Isso porque esse não é o primeiro aumento de capital do IRB, que está há mais de dois anos em crise após fraude praticada por ex-administradores. Em 2020, a companhia levantou R$ 2,3 bilhões, também com a participação do Bradesco e Itaú, que na época colocaram juntos R$ 600 milhões.
Atualmente, os bancos não têm mais representantes no conselho de administração do IRB, a despeito da elevada participação no negócio. Para botar as contas em dia, o IRB também fez vendas de participações nos setores imobiliários e de shoppings. A empresa vendeu sua sede histórica, no Rio de Janeiro, embolsando R$ 85 milhões, além de cerca de R$ 100 milhões com um acordo extrajudicial com os controladores da CasaShopping, na Barra da Tijuca, também no Rio.
Mesmo com ação a R$ 1, pouca demanda
O ressegurador levantou agora apenas o suficiente para se enquadrar frente à Susep, o regulador do mercado de seguros do País. Na oferta, precificada ontem, a ação saiu a R$ 1 e, mesmo assim, a demanda não foi grande, dado o clima permanente de desconfiança em relação à empresa. No passado, no seu auge quando foi considerada “queridinha” de investidores, a ação chegou a valer mais de R$ 100, antes de um desdobramento de ações em setembro de 2019.
A quantia levantada nesta semana, próxima ao valor de mercado da companhia (R$ 1,7 bilhão), deve deixar uma folga no balanço. A dúvida do mercado é sobre a possível necessidade de futuras capitalizações. Muita gente aposta que sim.
“A principal dúvida é se realmente o R$ 1,2 bilhão, que representa mais da metade do valor de mercado atual da companhia, deverá resolver a situação ou veremos uma nova chamada de capital em um futuro não muito distante”, escreveu a Eleven, em relatório.
‘Fake news’
Uma das razões para a crise no IRB foi o imbróglio envolvendo Buffett, da gigante Berkshire Hathaway. O boato espalhado pelo próprio IRB foi negado pelo fundo americano. Na época, o grupo declarou que “não é atualmente acionista, nunca foi uma acionista e não tem intenção de ser acionista do IRB”. Logo após o escândalo, todo o conselho de administração do IRB foi trocado.
Além disso, ex-executivos da companhia passaram a ser investigados por órgãos reguladores como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Nos Estados Unidos, o Departamento de Justiça também investiga o ressegurador. Isso por causa de indícios de manobras contábeis até 2020.
A atual gestão do ressegurador tem dito que boa parte dos prejuízos da empresa vem de contratos pouco sustentáveis fechados pelos antigos administradores. Apesar de terem sido cancelados, ainda geram pedidos de indenização “atrasados”, que o IRB é obrigado a pagar porque os eventos ocorreram durante a vigência das apólices.
Embora não forneça projeções de desempenho, a atual administração tem dito que estes efeitos devem pesar menos à frente. “Por mais duro e frustrante que possa ser ter que lidar com eventos historicamente atípicos no meio de um plano de recuperação, quando a gente retira este efeito, é fácil de verificar que teríamos resultado positivo”, disse o CEO da empresa, Raphael de Carvalho, em agosto.
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