IRB vende R$ 190 milhões em ativos às vésperas de oferta bilionária de ações

Conhecida por suspeitas de fraude na administração, resseguradora tenta mais uma vez se reerguer e captar R$ 1,2 bilhão; Bradesco e Itaú estão entre seus sócios

PUBLICIDADE

Publicidade
Foto do author Matheus Piovesana
Atualização:

Em busca de capital para cumprir exigências regulatórias, o IRB Brasil Re anunciou transações que devem levar a seu caixa quase R$ 190 milhões. A quantia, entretanto, ainda não é suficiente para resolver a insuficiência de capital da resseguradora, que deve fechar nesta quinta-feira, 1º, uma oferta bilionária de ações para arrecadar o restante e manter uma folga no balanço.

Na terça-feira, 30, a companhia anunciou a negociação de sua sede, um prédio histórico localizado no Centro do Rio de Janeiro, com o Sebrae-RJ, pela quantia de R$ 85,3 milhões. Horas mais tarde, informou um acordo que permitirá a venda de sua participação no Casashopping, shopping center voltado ao ramo de decoração, que renderá mais R$ 100 milhões.

Warren Buffett: IRB disse que bilionário era sócio, mas ele negou qualquer envolvimento com a empresa Foto: Houston Cofield/Bloomberg

PUBLICIDADE

O IRB detém 20% do empreendimento. O Broadcast mostrou na terça que essa fatia é uma das participações imobiliárias que a companhia ainda possui, em um pacote que inclui ainda terrenos e salas comerciais em São Paulo e no Rio e cotas de um fundo imobiliário que tem como único ativo o Shopping Parque Maia, em Guarulhos (SP), controlado pela General Shopping.

Em paralelo, no primeiro semestre, os acionistas autorizaram o IRB a aumentar seu capital em até R$ 1,2 bilhão, quantia que serve como teto para a captação com a oferta de ações que está na praça. A oferta deve ser fechada na quinta-feira, com a participação dos dois maiores acionistas do IRB, Itaú e Bradesco.

Publicidade

A resseguradora já fez várias chamadas de capital nos últimos anos, em virtude de escândalos envolvendo sua antiga administração. Além disso, a IRB levou um “pito” público de Warren Buffett, o megainvestidor americano. Ele desmentiu que seria sócio do negócio, como a própria IRB havia anunciado.

Venda de ativos

A corrida da empresa para vender novas ações e também ativos é parte do plano apresentado à Superintendência de Seguros Privados (Susep) para reenquadrar o balanço. Esse plano não foi tornado público, mas de acordo com o próprio IRB, conta com essas e outras alternativas.

Em documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a resseguradora afirma que as opções incluem “(i) subscrição de novas ações (ii) operações estruturadas de retrocessão com objetivo de ceder riscos, ou transferência de carteiras em run-off; e (iii) venda de participações imobiliárias e societárias com propósito de gerar recursos financeiros para a Companhia”.

Em junho, o IRB precisava de R$ 729 milhões para que seu capital fosse suficiente para cobrir as exigências de provisões técnicas da Susep. Isso indica, na visão de analistas, que as vendas de ativos não serão suficientes para cobrir a necessidade de capital.

Publicidade

“Vemos os dois movimentos (de venda de ativos) como positivos, mas o IRB continua com uma significativa insuficiência de capital” comentou o analista Gabriel Gusan, do Citi, em relatório enviado a clientes.

A Genial reiterou essa visão. “Com a intenção de levantar até R$1,2 bi, o IRB ainda deve fazer um aumento de capital, provavelmente com um preço bem mais baixo que o de tela hoje (ontem) (R$ 1,72)”, afirmou a casa.

Corrida contra o tempo

O prazo para que a regularização do capital ocorra se encerra em 31 de outubro deste ano. Se não regularizar a situação até lá, o IRB pode ser submetido a um regime especial de direção fiscal por parte da Susep, que indicaria um diretor fiscal para supervisioná-lo.

Na divulgação dos resultados do segundo trimestre, fortemente atingidos por perdas no resseguro rural, a direção do IRB indicou que o reenquadramento será rápido, o que dispensaria o regime especial.

Publicidade

Em reação, os papéis da resseguradora dispararam após o balanço. Desde então, porém, caem 22%, com a perspectiva de diluição na oferta e a montagem de posições vendidas por agentes de mercado.

Com o teto para a oferta e os diferentes tamanhos para os lotes de ações à venda, o mercado calcula a quanto a ação poderia chegar nos diferentes cenários. O Citi estima que se a ação sair a R$ 1,50 na distribuição, o preço-alvo para os papéis ficaria em R$ 1,30; vendido a R$ 0,80 ou R$ 0,90, porém, com um montante maior de ações, poderia subir mais.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.