Demolições dão lugar a apartamentos de R$ 18 milhões na falta de terrenos no Itaim Bibi

O bairro tem o preço médio do metro quadrado mais caro da cidade de São Paulo, o que torna comercialmente viável a demolição de edifícios para erguer empreendimentos mais altos e mais caros

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Foto do author Lucas Agrela

O Itaim Bibi detém o posto de bairro mais caro de São Paulo, com o preço médio do metro quadrado (m²) de imóvel residencial a R$ 17,5 mil, ante a média de R$ 11 mil na cidade, segundo dados do índice FipeZap. Com a escalada de preços de 10% em dois anos, o bairro se tornou atrativo às incorporadoras e às construtoras ao ponto de ser comercialmente viável demolir prédios antigos para erguer novos projetos imobiliários de luxo.

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A conta clássica do setor, de destinar 20% do valor do projeto para a compra do terreno e 50% para a construção, não se aplica aos empreendimentos do Itaim Bibi, onde o custo do terreno pode chegar a 30%. O que permite a viabilidade dos edifícios residenciais é o valor cobrado por metro quadrado em apartamentos no bairro. Novos projetos chegam a custar entre R$ 40 mil e R$ 55 mil o m², resultando em preço final entre R$ 10 milhões e R$ 18 milhões por apartamento.

Empresas como Global Realty Brasil, SDI e Idea!Zarvos têm projetos viabilizados por demolições no bairro. Além da proximidade a centros comerciais, o Itaim Bibi oferece uma vista mais livre do que na maior parte da cidade, devido ao zoneamento dos Jardins, que evita a construção de prédios altos. Segundo especialistas, além de fatores como localização, projetos assinados por arquitetos renomados e áreas de lazer completas, a vista da janela é um dos diferenciais buscados por compradores do segmento de luxo.

No empreendimento Orla Paulistana, da Global Realty Brasil, o terreno de 700 m² foi criado a partir da demolição de um antigo edifício comercial de oito andares. O novo empreendimento terá 16 andares, com um apartamento de 200 m² por andar, além de unidades menores que ficam nos andares mais baixos. As unidades grandes têm três suítes. O edifício terá projeto de fachada assinado pelo escritório aflalo/gasperini arquitetos. Em média, os preços dos apartamentos maiores podem chegar a R$ 11 milhões. O volume geral de vendas (VGV) é de R$ 170 milhões.

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“Esse tipo de projeto só cabe em bairros com os valores mais altos da cidade, como o Itaim Bibi e os Jardins. Dado o valor do m², a demolição é de 5% a 6% do valor do terreno. É algo muito marginal perto do custo de um retrofit, que já nasce manco em relação a hábitos da sociedade”, diz André Fakiani, CEO da Global Realty Brasil.

Fakiani defende a ideia de que a demolição não é necessariamente algo negativo para a cidade, por se tratar da construção de um projeto mais adequado à realidade atual da população. “A demolição é vista como desconstrução da cidade, e não reciclagem e renovação. Há uma visão muito pejorativa disso. Pelo ponto de vista da sustentabilidade, a criação de entulho é maior no retrofit (reforma) do que na demolição.”

Segundo ele, hoje, a empresa que faz a demolição precisa apresentar um plano de gerenciamento de resíduos. “Ela faz um monitoramento do prédio e identifica o que e como pode reaproveitar os artigos da demolição”, afirma.

O CEO da companhia diz ainda que a demolição passa por um processo criterioso de seleção de itens que podem ser reaproveitados e requer a destinação correta do entulho para aterros sanitários. Para ele, isso inclusive ajuda a viabilizar comercialmente o projeto, ao reduzir o custo da demolição com o reaproveitamento de materiais.

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Para o coordenador do curso de negócios imobiliários da FGV, Alberto Ajzental, a tendência da construção de novos prédios em bairros nobres da cidade é comum quando faz sentido comercial, mas pode levar os moradores gradualmente a outros bairros com preços mais acessíveis, como quem mora em casas.

“Na medida em que o valor de m² sobe e não aumenta a construção de projetos na mesma proporção, as empresas conseguem ter mais verba para terreno. Normalmente, o terreno não passa de 20% e a construção não passa de 50% do valor do projeto. Mas o preço do terreno no luxo passa dos 20%”, diz Ajzental. No caso de comprar para demolir, afirma ele, a demolição acaba entrando no custo do terreno porque o m² é mais caro do que o normal da cidade. “Bem ou mal, isso renova os produtos imobiliários. Mas também pode gerar gentrificação (mudança no perfil da população, com aumento da renda)”, afirma.

O projeto da incorporadora SDI chamado Pinna 5109 está em desenvolvimento e deve ser lançado apenas em 2027. O terreno de 1.800 m² foi criado com a aquisição de prédios comerciais da gestora imobiliária Tellus. Em fase de demolição, dois prédios comerciais com 16 e 13 andares darão lugar ao novo edifício residencial. O novo prédio, além de ser mais alto, com 32 andares, terá também quatro pisos no subsolo. Hoje, há apenas um. No total, o VGV do projeto é estimado em R$ 500 milhões. O edifício terá unidades de 370 m², uma por andar, com preço médio de 50 mil o m², totalizando R$ 18,5 milhões.

“A tendência é aumentar o número de demolições na cidade, porque é muito difícil criar terrenos como esse”, afirma a gerente comercial e de marketing da SDI, Larissa Rodrigues.

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O novo prédio de luxo ficará no trecho da Avenida Nove de Julho próximo à Avenida Brigadeiro Faria Lima, localização privilegiada para quem trabalha em escritórios na região. O projeto imobiliário será assinado pelo arquiteto Marcio Kogan, à frente do Studio MK27.

Esse movimento (de demolições) acontece em inúmeras capitais do mundo, como Nova York e Tóquio. São prédios que já cumpriram a função e hoje estão inadequados para a demanda. Isso ocorre por mudanças de comportamento e demandas das pessoas.

Ely Wertheim, presidente-executivo do Secovi-SP

A incorporadora Idea!Zarvos também precisou demolir prédios para criar seus projetos imobiliários voltados ao mercado de altíssimo padrão.

Nos últimos anos, a empresa demoliu três prédios antigos, sendo o mais recente o que deu lugar ao principal empreendimento da companhia na região, o Datama. O projeto é assinado pelo arquiteto Isay Weinfeld e tem custo de metro quadrado entre R$ 25 mil e R$ 60 mil.

Damata, edifício residencial de luxo da Idea!Zarvos Foto: Divulgação/Idea!Zarvos

O presidente executivo do Secovi-SP, Ely Wertheim, afirma que a renovação urbana, seja por demolição, seja por retrofit, é comum em grandes cidades no mundo todo e a tendência deve continuar em São Paulo para atender às demandas atuais de mercado que não são mais atendidas por prédios antigos.

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“Esse movimento (de demolições) acontece em inúmeras capitais do mundo, como Nova York e Tóquio. São prédios que já cumpriram a função e hoje estão inadequados para a demanda. Isso ocorre por mudanças de comportamento e demandas das pessoas. Quando uma empresa encontra um prédio que pode passar por retrofit ou atualização, isso naturalmente acontece. O Itaim Bibi tem essa característica. É natural”

Apesar das alegações das empresas do ramo imobiliário sobre a dificuldade de compor terrenos para projetos imobiliários no Itaim Bibi, Wertheim não acredita que o motivo das demolições no bairro seja por falta de espaço. O especialista diz ainda que a maior oferta de imóveis no bairro pode desacelerar a escalada de preços na área.

De acordo com dados da Brain Inteligência Estratégica, o bairro do Itaim Bibi teve 7 entregas de novos edifícios nos últimos 12 meses até maio, em comparação com 7 no Jardim Paulista e 16 em Pinheiros. Segundo dados de março, o número de lançamentos de empreendimentos de super luxo na cidade foi de 28, sendo 6,3% do total do município.

“Não acho que é por falta de espaço. A renovação urbana de edifícios obsoletos casa com a necessidade de morar e trabalhar em bairros mais centrais e se locomover menos no dia a dia. É um processo natural de um imóvel que está obsoleto. Não tem relação com a falta de áreas para construção.”

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