O lucro dos quatro maiores bancos de capital aberto do País subiu 12,9% no primeiro semestre deste ano, para R$ 53,925 bilhões, de acordo com levantamento feito pelo Estadão/Broadcast. O impulso nos resultados veio da queda do custo de crédito da maior parte das instituições, fator que deve gerar uma aceleração maior nas concessões na segunda metade do ano.
As despesas dos quatro bancos com provisões tiveram queda de 4,9% no mesmo comparativo, somando R$ 60,993 bilhões na primeira metade de 2024. O número mostra uma inflexão após o pico no custo do crédito no começo do ano passado, período em que as instituições ainda terminavam a “digestão” de empréstimos concedidos nos anos de 2021 e de 2022, e que mostrariam depois uma qualidade mais baixa.
“Estamos no final do ciclo de ajuste, e começamos a ver uma inflexão, como na carteira de cartão de crédito”, afirmou a jornalistas na quarta-feira, 7, o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy. Entre dezembro de 2022 e o primeiro semestre deste ano, o banco “limpou” a carteira de empréstimos que haviam sido concedidas a clientes de menor renda ou vindos de canais externos, em especial em cartões.
A melhoria permitiu ao banco acelerar o crescimento anual da carteira de crédito, de 2,8% em março para 8,9% em julho. A aceleração também foi vista no rival Bradesco, que passou de um crescimento de 1,2% para 5% em três meses, ajudando a desfazer desconfianças do mercado de descumprimento da meta para o ano, de crescimento de pelo menos 7%.
Após cerca de dois anos de torneiras a meio fio para controlar a inadimplência, o banco da Cidade de Deus ajustou os mecanismos de originação e de cobrança, o que permitiu a retomada. O presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, afirmou que o efeito visto no crédito deve chegar às margens com empréstimos na segunda metade do ano.
“O crescimento do segundo trimestre (em crédito) se materializa (na margem) no terceiro trimestre”, disse ele a jornalistas. No primeiro semestre, a margem do Bradesco caiu 7,5%, mas o objetivo do banco para o ano é de um crescimento entre 3% e 7%.
Seleção
A retomada não é uniforme entre os públicos. Os três maiores bancos privados do País afirmaram que o objetivo é acelerar o crescimento junto a públicos de melhor perfil creditício, principalmente entre clientes que já detêm contas em cada instituição.
“O apetite de crédito na pessoa física não volta aos patamares de 2021″, disse o presidente do Santander Brasil, Mario Leão, na divulgação dos resultados do banco, no final de julho. Em cartões, o banco vendeu no segundo trimestre deste ano dois terços dos plásticos vendidos no quarto trimestre de 2021, pico da série histórica.
A comparação com 2021 tem razão de ser: naquele ano, para fazer frente ao crescimento das fintechs, os bancos tradicionais aceleraram a venda de produtos como cartões de crédito, em especial para clientes que não conheciam e que chegavam à base pelos canais digitais.
Diante disso, o discurso de retomada veio acompanhado de informações que sinalizam que as instituições aprenderam a lição. O Bradesco informou ao mercado que a concessão de crédito no segmento de pequenas e médias empresas, que continua endividado, não voltou ainda aos patamares de 2019, ano anterior à pandemia da covid-19.
Em pessoas físicas, a força total voltou em produtos garantidos, enquanto o crédito com colaterais continua tendo como foco o público de alta renda. “Ainda estamos conservadores no baixa renda e em não-correntistas”, afirmou Noronha, ao tratar da carteira de cartões de crédito.
Mesmo no Itaú, que sofreu menos com a virada do mercado em 2022, o discurso é similar. No segundo trimestre, 71% da originação de linhas de crediário e crédito pessoal no banco foi para clientes dos segmentos Uniclass e Personnalité, de média e alta renda. Em cartões, as duas marcas cresceram 17,3%, bem acima dos 2% de alta da carteira total, o que indica contração na baixa renda.
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